O processo de beatificação da serva de Deus Chiara Corbella (1984-2012) entrou oficialmente em sua "fase romana" em 21 de junho de 2024. Se sua fama de santidade se espalhou amplamente nos últimos anos, ela já estava bem presente durante sua vida, quando enfrentou várias provações com uma fé notável. Após a perda de seus dois primeiros filhos logo após o nascimento, ela viveu uma terceira gravidez durante a qual foi diagnosticada com câncer. Recusando certos tratamentos para proteger a vida de seu filho, ela deu à luz um menino em maio de 2011. Morreu um ano depois, aos 28 anos, deixando um verdadeiro testemunho de amor e doação.
Se o final de sua vida é bem conhecido, sua juventude, por outro lado, é mais desconhecida. A Aleteia encontrou-se com Valentina Regoli, sua amiga de infância, presente tanto nos momentos mais importantes quanto nos mais leves e descontraídos de sua vida.
Aleteia: Valentina, você pode nos contar como conheceu Chiara? Valentina Regoli: Conheci Chiara em 1994. Eu estava no colégio Monte Calvario, em Roma, na mesma classe que sua irmã, Elisa. Chiara, três anos mais nova, estava na escola primária com a minha irmã. Um dia, após uma missa de cura à qual assisti com minha mãe, conheci melhor a Elisa. Pouco tempo depois, ela me convidou para um grupo de oração de jovens da comunidade "Coração de Jesus". Eu tinha 13 anos. Todos os sábados à tarde, nós nos encontrávamos — Elisa, Chiara, minha irmã, um rapaz que tocava violão e eu — para rezar. Muitos diziam que sentiam algo especial quando nós cinco rezávamos juntos. Depois dos encontros, passávamos a tarde no centro de Roma, simplesmente nos divertindo. Crescemos assim, sempre muito unidas.
Como era Chiara quando criança e, depois, como jovem? Qual era o seu temperamento? Chiara era solar. Sempre sorridente e acolhedora. Ela também era muito engraçada e adorava fazer piadas. Mas nunca falava mal de ninguém. Mesmo quando alguém se comportava mal, ela sempre tentava entender, justificar. Ela não criava tensões, buscava sempre a paz. Não se impunha, era uma moça simples, tranquila, radiante, naturalmente bela.
"Tive a imensa sorte de crescer com ela, desde os meus 13 anos. Era uma amizade pura, sincera. (...) Acredito que isso seja fundamental, mesmo para os jovens de hoje: encontrar amigos de verdade, com quem crescer no bem e no belo, para se proteger. Quando a amizade é autêntica, Cristo já está presente. A eternidade já está ali."
O que sempre me impressionou foi sua fidelidade à oração. Éramos amigas muito próximas, nos falávamos com frequência. Quando eu ligava para a casa dela, às vezes a mãe dela me dizia que Chiara e sua irmã não podiam atender, pois estavam rezando. Mesmo vindo de uma família cristã, eu ficava muito impressionada ao ver que elas dedicavam tempo à oração durante o dia. Para mim, era algo um pouco incomum. Não havia um dia em que ela não rezasse, era uma parte fundamental de sua vida. Para Chiara, esse tempo era uma prioridade. Acredito que foi essa relação profunda com o Senhor que a tornou a pessoa que ela se tornou mais tarde.
Ela também tinha defeitos? Claro, ela tinha alguns pequenos defeitos. Nós até brigamos e, em certo momento, nos distanciamos um pouco quando ela começou a namorar o Enrico. Ela estava muito focada nele, e nós nos sentimos um pouco deixadas de lado. Mas o que era belo em Chiara é que ela sabia fazer as pazes, sempre buscava dialogar, se reconciliar.
Você tem alguma lembrança marcante para compartilhar? São tantas! Nós compartilhamos muitas coisas, incluindo uma viagem maravilhosa a Nova York com minha irmã, a irmã dela, Elisa, Chiara e seus pais. Normalmente, meus pais não me deixavam ir a lugar nenhum, mas com Chiara e Elisa, eles confiavam. O belo é que elas viajavam muito; o pai delas sempre as educou para a liberdade, a curiosidade, a viagem, e Chiara era uma criança com essa mentalidade.

Quando fomos a Nova York, foi em 2001, pouco antes da queda das Torres Gêmeas. Éramos verdadeiramente despreocupadas, ríamos e brincávamos como umas menininhas um pouco loucas. Visitamos a cidade, lembro que dávamos batatas fritas para as gaivotas perto da Estátua da Liberdade. Lembro também que nosso quarto de hotel inundou e eu continuei dormindo sem perceber. Rimos disso por dias. Lembro ainda que, na nossa chegada, o pai delas nos fez a surpresa de ter uma limusine no aeroporto. Nós gritamos de alegria como loucas. Foi uma viagem magnífica.
Você também estava presente na peregrinação a Medjugorje que ela fez com a família e amigos, perto do fim da vida dela? Sim, eu estava lá. Fomos todos para rezar por ela, por sua cura. Mas, chegando lá, foi ela quem nos levou a Maria, quem nos fez conhecê-la. Com Chiara, era sempre assim: pensávamos que estávamos lá para lhe dar algo, mas recebíamos muito mais.
Como ela viveu sua doença? Chiara a acolheu sem se rebelar. Havia sofrimento, claro, pois ela tinha um marido e um filho pequeno que tanto desejara. Mas ela sentia que era ali que deveria estar, que era chamada por Deus para aquilo. Eu não acredito que teria conseguido reagir como ela, talvez tivesse me sentido como uma filha não ouvida por Deus. Mas ela aceitou essa cruz sem se rebelar, talvez justamente por causa dessa relação profunda com o Senhor e de sua oração intensa.
Com Chiara, era sempre assim: pensávamos que estávamos lá para lhe dar algo, mas recebíamos muito mais.
Isso nem sempre foi simples. A mãe dela não conseguia aceitar e continuava esperando um milagre. Claro, nenhum pai ou mãe quer ver um filho sofrer. Mas um dia, Chiara suspirou, como quem diz: "Basta, você não entendeu que eu vou morrer?". Ela tinha aceitado. Dizia que não é por sermos filhos de Deus que somos poupados do sofrimento. A diferença está na maneira como vivemos tudo isso. E ela viveu com fé, sem rebelião, como Jesus.
Hoje, você ainda conversa com ela, reza a ela? Eu sempre rezo a ela. Sinto-a comigo. Tive a imensa sorte de crescer com ela, desde os meus 13 anos. Era uma amizade pura, sincera. Até o Enrico, seu marido, dizia que nós quatro fomos preservadas porque estávamos sempre juntas. Acredito que isso seja fundamental, mesmo para os jovens de hoje: encontrar amigos de verdade, com quem crescer no bem e no belo, para se proteger. Quando a amizade é autêntica, Cristo já está presente. A eternidade já está ali.
![[VÍDEO] Oração de Chiara Corbella a Nossa Senhora](https://wp.pt.aleteia.org/wp-content/uploads/sites/5/2021/06/Chiara-Corbella-petrillo-By-Cristian-Gennari-CG2_0972.jpg?resize=300,150&q=75)
