O Castelo de Santo Ângelo, imponente edifício à margem do Tibre, abriga até 30 de novembro uma exposição intitulada "João Paulo II - O homem, o papa, o santo, nas imagens de Gianni Giansanti". Essas fotos espetaculares, apresentadas em homenagem ao Jubileu e ao 20º aniversário da morte do papa polonês, destacam seu papel central nas transformações do mundo na transição entre dois milênios.

São imagens icônicas de uma época, retratando a vida de um papa cuja história será lembrada por muitos séculos: João Paulo II, um homem cujo carisma poderoso foi reconhecido até mesmo por seus opositores, revolucionou a relação da Igreja Católica com a comunicação, abrindo caminho para uma nova representação da autoridade papal.
Gianni Giansanti, que faleceu precocemente em 18 de março de 2009, aos 52 anos, foi um testemunho privilegiado deste papado, que durou mais de um quarto de século e provocou grandes mudanças no mundo. Este fotógrafo italiano de paixões ecléticas trabalhou com campeões de Fórmula 1 como Ayrton Senna e Jacques Villeneuve, e recebeu prêmios por reportagens sobre temas tão diversos quanto o Palio de Siena, as academias militares na URSS e a vida das tribos do vale do Omo na Etiópia.
Em 1978, ele ganhou notoriedade aos 22 anos ao conseguir fotografar o corpo do ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro, encontrado no porta-malas de um carro no centro de Roma, após ser sequestrado pelas Brigadas Vermelhas por 55 dias. Este ano dramático também foi marcado pelas mortes dos papas Paulo VI e João Paulo I. Em outubro de 1978, a eleição de João Paulo II marca uma nova fase na carreira de Gianni Giansanti, que se aproximaria do primeiro papa não-italiano da história contemporânea.

Documentar “sem forçar a cena”
Ele obteve o direito de fazer um registro que se tornaria famoso mundialmente: a foto de João Paulo II em sua cama de hospital, poucos dias após a tentativa de assassinato em 13 de maio de 1981. Uma imagem digna, mostrando um papa com um semblante sereno, mas cujas infusões revelam, pela primeira vez, uma expressão de vulnerabilidade que se tornaria um dos marcadores deste papado.
Até a morte do papa polonês em abril de 2005, Gianni Giansanti foi admitido no círculo íntimo de João Paulo II, tanto em Roma quanto em suas viagens. As cerca de quarenta fotos em exibição no Castelo de Santo Ângelo demonstram a diversidade de suas visitas em terrenos difíceis, desde a Papua-Nova Guiné até a Terra Santa, passando, claro, pela sua Polônia natal. Seus encontros com o líder cubano Fidel Castro e com o palestino Yasser Arafat mostram o carisma de João Paulo II como chefe de Estado, que movimentava as linhas e trazia à tona países pouco conhecidos no cenário mundial.
À margem da inauguração da exposição, Andrea Giansanti, filho do fotógrafo, lembrou "de um pai que aparecia e desaparecia sempre com suas câmeras ao ombro". Ele explicou que "a discrição era o coração de seu método: estar presente sem projetar sombra, documentar sem nunca forçar a cena". Nesta exposição, "cada imagem conta a história de dois homens unidos por um profundo respeito e uma missão comum: contar a fé através da lente".

Da história pequena à grande História
O trabalho de Gianni Giansanti também incluía fotografias de momentos do cotidiano do papa, o que lhe rendeu um World Press Award em 1988. A exposição destaca uma foto tirada em 1986, durante um almoço privado do papa em seus apartamentos com o cardeal-arcebispo de Seul, Stephen Kim. Nela, podemos ver João Paulo II cercado por seus secretários Stanislaw Dziwisz e Emery Kabongo, em discussão com um cardeal que, alguns anos depois, desempenharia um papel central na queda da ditadura militar que estava no poder na Coreia do Sul. O apoio fiel de João Paulo II em relação a ele, que também se manifestava por meio dessas reuniões informais, foi decisivo para incentivar a Igreja local a trabalhar em prol da democratização e da abertura deste país asiático, que passou, em poucas décadas, de uma extrema miséria a um notável dinamismo econômico e cultural.

"Percorrendo os momentos marcantes do papado de João Paulo II, a exposição oferece uma visão privilegiada de uma época de grandes transformações: o fim da Guerra Fria e a entrada do mundo na era global", explica Ilaria Schiaffini, professora de história da fotografia na universidade romana de La Sapienza. Neste ano jubilar, organizado em um mundo inquieto e instável, a exposição evidencia o quanto a paparia permanece uma instituição de grande poder simbólico, capaz de ajudar a humanidade a encontrar um rumo e uma esperança.









