Em meio à destruição, às ameaças, ao perigo, estes homens saem em território inimigo procurando por James Ryan, o filho caçula dessa mulher. Vale a pena assistir ao filme (e já dou um alerta: este texto contém spoillers).
No início e no final do filme, Ryan, já idoso e na presença de sua família, visita o túmulo do capitão John Miller, o responsável do batalhão que o salvou. Muitos morreram, e realmente deram a vida para que Ryan chegasse salvo a sua mãe, já totalmente abalada pela morte de outros três filhos. O capitão, na agonia da morte depois de ser baleado, disse a James: “Faça por merecer, faça por merecer”.
Diante de seu túmulo, Ryan olha para a família (esposa, filhos e netos), e é como se dissesse ao capitão: “Tentei viver a minha vida o melhor que pude. Espero que tenha sido o suficiente. Ao menos pelos seus olhos, espero ter sido digno de tudo o que fizeram por mim”. Depois olha para a sua esposa e lhe pede: “Diga que eu tive uma vida digna. Que eu sou um homem de bem”. “Sim, você é”, ela responde.
Este filme coloca diante de nós, homens, o real sentido do nosso existir: fazer por merecer o sangue de um homem derramado pela nossa salvação. Como? Sacrificando-se, a exemplo dEle.
Claro, nunca chegaremos lá. Nunca será mérito nosso. É sempre misericórdia de Deus. Mas isso não nos impede de escutar esse chamado que clama de forma intensa no coração masculino: “Faça por merecer”.
Ryan poderia ter entendido esta frase de diversas outras formas. Mas, quando vai mostrar ao capitão (no túmulo) o resultado de sua vida, só leva a sua família. Uma família bonita, um casamento duradouro, a fecundidade do matrimônio em seus filhos e netos... Com certeza, ele fez por merecer. E o símbolo disso está ali, na sua família. Afinal, não há maior sacrifício do que dar a vida por uma família. .
“Mas e os celibatários?”, você poderia me perguntar. Também só fazem valer quando entendem que estão diante de uma família que necessita de um pai, mesmo que em uma dimensão espiritual e não biológica. A Igreja de Cristo, muitas vezes órfã pelos maus pastores, e que necessita de homens capazes de se imolarem por amor.
Poucos sabem, mas a história que inspirou o filme foi protagonizada por um sacerdote católico. Padre Francis Sampson era capelão militar e paraquedista. Recebeu a missão de, em meio à guerra, resgatar o Soldado Niland, com história parecidíssima ao filme. O sacerdote não só realizou o resgate, como foi capturado por alemães, conseguiu sobreviver, e ainda lutar em batalhas na Coreia do Sul e no Vietnã, morrendo em 1996 depois de uma vida totalmente feita sacrifício de amor.
Em uma homilia durante a missa celebrada numa igreja em ruínas, em que somente a imagem do crucificado havia permanecido de pé, Padre Sampson proclamou: “Todo tipo de instrumento diabólico já foi empregado para arrancar o Cristo da cruz e o crucifixo da igreja. Mas, como as bombas que caíram sobre esta capela, só conseguiram destacá-la mais e mais. A imagem que amamos cresce cada vez mais em nosso entendimento pela veemência do ódio das pessoas más. Cada um de nós tem esta imagem sagrada impressa na alma. Como esta capela, somos templos de Deus. E não importa se estamos despedaçados pelas bombas, pela tragédia, pelas provações e pelos ataques: a imagem do Crucificado ficará de pé se assim nós quisermos”.
Claro, também as mulheres carregam a imagem do crucificado em si. Todos os batizados são chamados a isso. No entanto, o Crucificado grita, alto, de maneira muito específica, no coração de cada homem: “Faça valer, faça por merecer”.
Cristo quer que nós tenhamos uma vida que valha a pena. Uma vida digna de seu sangue precioso derramado no madeiro. E ele não nos cobra porque devemos a ele, apesar de ter todo o direito. A sua entrega foi gratuita, assim como deve ser a nossa.
O grito “faça por merecer” brota de seu amor infinito por cada pessoa humana e do conhecimento do papel fundamental que um homem que sabe sacrificar-se tem na vida da humanidade.









