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Madagascar: “A ‘Geração Z’ percebe o estado de degradação do país”

Les émeutes, qui se jouent principalement dans les grandes villes du pays, ont fait au moins 22 morts depuis le 25 septembre.

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Aleteia França - publicado em 06/10/25
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Um vasto movimento de contestação, liderado pela chamada Geração Z — nascida em meados da década de 1990 —, vem sacudindo Madagascar desde 25 de setembro, exigindo mais direitos sociais e novas perspectivas em um país politicamente instável e devastado pela pobreza. O padre Bertrand de Bourran, missionário no país entre 1997 e 2024, analisa a situação para a Aleteia.

No dia 2 de outubro, milhares de pessoas ainda tomavam as ruas das principais cidades de Madagascar, exigindo água, eletricidade e a nomeação de um novo governo. Desde 25 de setembro, os violentos protestos já deixaram ao menos 22 mortos, principalmente entre os jovens da Geração Z, que iniciaram as manifestações.

Gestão desastrosa do governo, desastres climáticos, más colheitas em algumas regiões, desemprego… As reivindicações desses jovens são muitas. Inspirados em exemplos do Nepal e das Filipinas, eles desafiam o poder em nome de um ideal: “mudar a história de Madagascar”.

A Igreja, com seu numeroso clero, missionários e religiosas, continua ajudando localmente por meio da construção de dispensários e novas escolas. “A população de Madagascar é muito jovem — ela dobra a cada 25 anos! Os estudantes, numerosos e sem perspectiva, observam pelas redes sociais as transformações que acontecem em outros países, como Nepal ou Filipinas”, explica o padre Bertrand de Bourran, missionário no país por quase trinta anos. “Eles se informam e percebem, por comparação, o estado de degradação do próprio país.”

Aleteia: O que o senhor pensa sobre as grandes manifestações e a violência observada nos últimos dias nas cidades de Madagascar?

Pe. Bertrand de Bourran: Neste país, as pessoas se fazem ouvir nas ruas. É assim que as coisas funcionam há décadas. As eleições, tal como as conhecemos, não significam muito para eles.

Os malgaxes exigem a renúncia do atual presidente — mas quem colocar em seu lugar? Os presidentes assumem o poder nas ruas, e o ciclo se repete.

Qual é o problema essencial? A falta de mudança há 30 anos. É um país muito pobre, onde os salários não passam de 50 a 60 euros por mês. As zonas rurais são esquecidas. As pessoas sobrevivem como podem, e os motivos de revolta são inúmeros: colheitas ruins, ausência de desenvolvimento, combustível caríssimo, cortes constantes de água e eletricidade nas cidades — e nunca se sabe quando o serviço voltará.

Os malgaxes não são, por natureza, violentos, mas a extrema pobreza em que vivem levou alguns ao saque, nos últimos dias. Eles perderam a confiança na justiça e no governo.

Todos os projetos de desenvolvimento, financiados em grande parte pelos Estados Unidos, foram paralisados durante o governo Donald Trump. No geral, Madagascar vive em ritmo lento. As interrupções de energia e água foram apenas a gota d’água — o problema é muito mais profundo.

“Os jovens da Geração Z se informam e percebem, por comparação, o estado de degradação do seu país.”

O senhor acredita que a questão está ligada à demografia? Por que os jovens estão tão presentes nesse movimento de contestação?

A população de Madagascar é muito jovem — ela dobra a cada 25 anos! Os estudantes, em grande número e sem perspectiva, observam nas redes sociais as mudanças que ocorrem em outros países, como Nepal e Filipinas. Eles se informam e percebem, por comparação, a decadência de seu próprio país.

O problema é simples: depois de formados, muitos estudantes, sem conseguir emprego, voltam a trabalhar com os pais, geralmente agricultores. Este ano, faltou muita chuva em algumas regiões. Como consequência, os pais tiveram menos recursos para financiar os estudos dos filhos.

Os jovens não veem futuro em Madagascar. Se bastasse atravessar o Mediterrâneo para chegar à Europa, muitos já teriam ido. Eles querem sobreviver e ocupam as ruas para fazer ouvir sua voz.

A Igreja local pode desempenhar um papel na resolução dessa crise?

Os malgaxes têm um profundo sentido de Deus, isso é inegável. Eles creem em um Deus único, Criador. Também têm um forte sentido de família — e isso é algo muito bonito! Sua fé é alegre, simples e vivida de modo comunitário.

No centro da ilha, quase todos são batizados, o que não é tão comum nas regiões costeiras. A Igreja está profundamente envolvida no cotidiano das pessoas: acompanha a população, constrói dispensários, novas salas de aula e ajuda os jovens a terem uma vida digna.

Durante minha missão, vi uma Igreja forte, viva e dinâmica, que continua avançando apesar das dificuldades do país. Cada diocese faz o que pode, onde está, tentando ser uma voz de paz e conciliação neste conflito.

Mas… será que essa voz será ouvida?

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