"Deixai vir a mim as crianças e não as impeçais, porque dos tais é o reino dos céus." (Lucas 18, 16). Essas palavras de Jesus ressoam com particular força para as famílias que se deparam com as condições mental de seus filhos. Para aqueles que duvidam de sua "compreensão" do sagrado e vivência dos sacramentos, Florence, cuja filha tem múltiplas deficiências não verbais, oferece uma visão valiosa. "Um dia, quando alguém da paróquia expressou surpresa por minha filha estar comungando, eu simplesmente respondi: 'E você, entendeu tudo sobre o mistério da Encarnação?'"
Padre Christian Mahéas, capelão da Escritório Cristão para Pessoas com Deficiência, confirma essa visão. "Não é o QI de uma pessoa que define sua capacidade de receber um sacramento", esclarece, acreditando que dizer que uma pessoa com deficiência "não entende os sacramentos" equivale a negar o que ela carrega consigo. "Algumas pessoas têm uma relação muito mais forte com Cristo do que muitas outras. Elas podem converter descrentes simplesmente pelo seu jeito de ser", alerta o padre, com base em 40 anos de experiência na área de necessidades especiais.
Uma preparação para os sacramentos
Jeanne se surpreende com a piedade de seu filho Paul, de 9 anos, que tem síndrome de Down. Embora esteja convencida de que seu amor por Cristo é grande, ela não sabe como prepará-lo para os sacramentos. "Você não deve hesitar em contatar a pastoral para pessoas com deficiência em sua diocese", aconselha o Padre Christian Mahéas. Embora acredite que a preparação de crianças com deficiência intelectual nem sempre seja obrigatória, ele recomenda, em todos os casos, mostrar à criança que ela é como as outras. "Usamos livros com imagens e pictogramas que nos permitem acompanhar a pessoa de uma forma diferente de uma aula de catecismo e introduzir uma linguagem mais adequada à deficiência da pessoa", explica o padre. A colaboração com as famílias também é importante. "Os pais são as melhores pessoas para saber se seu filho está pronto ou não. Eles entendem o que seu filho quer. É por isso que costumo prepará-lo na presença das mães", acrescenta o Padre Christian Mahéas.
Lise, mãe de Jean, um menino de 6 anos com síndrome de Kleefstra (uma doença genética rara), notou o fervor do filho desde cedo. "Jean é muito espiritual. Sua primeira palavra foi 'Aleluia'. Ele adora servir na missa e frequenta grupos de oração. E logo cedo percebi que ele estava pronto para receber a Eucaristia." Diante dos pedidos insistentes do filho, ela o convidou a expressar seu desejo ao padre da paróquia. Este, conhecendo a família e o menino, atendeu favoravelmente ao seu pedido. "Líamos livros sobre a preparação para a Comunhão. Como o conceito de tempo é muito complexo para Jean, era difícil para ele esperar. Ele era muito impaciente", lembra Lise. O menino finalmente experimentou este sacramento pela primeira vez em 13 de julho de 2025. "Ele realmente gosta de receber a Comunhão. Ele conta cada Comunhão."Jean, que tem síndrome de Kleefstra, recebeu sua primeira comunhão em 13 de julho de 2025.
Algumas crianças, no entanto, exigem preparação física. É o caso de Pauline, de 10 anos, que apresenta um atraso global do desenvolvimento. "Crianças com distúrbios orais podem ter dificuldade em manter a hóstia na boca. Fomos aconselhados a treiná-la com pequenos bolinhos que derretem na língua para evitar que ela cuspa ou tenha dificuldade para engolir a hóstia", explica Alexandra, mãe da menina.
Embora a preparação seja frequentemente feita individualmente, adaptada às necessidades de cada criança, o momento da celebração em si é melhor vivenciado na Igreja. "O sacramento deve ser recebido com outras crianças. A criança e sua família devem se sentir plenamente integradas e apoiadas pela comunidade", afirma o Padre Christian Mahéas, exortando as paróquias e os fiéis a acolherem as pessoas com deficiência de braços abertos, pois elas têm muito a contribuir para a comunidade cristã.









