Após mais de dois anos de conflito, uma luz de esperança começa a surgir em Gaza. Após o cessar-fogo entre Israel e o Hamas e o recuo do exército israelense para linhas previamente acordadas dentro da Faixa de Gaza, milhares de palestinos começaram a retornar. Na tarde de sábado, cerca de 500 mil pessoas haviam regressado ao norte do território palestino. Dezenas de milhares de deslocados voltaram a Gaza City ou Khan Younes e descobriram a extensão das destruições causadas por dois anos de guerra.
Libertação dos reféns
A libertação dos reféns israelenses, sequestrados durante o ataque sem precedentes do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, é uma das condições do plano de paz elaborado por Donald Trump.
O Hamas tem até segunda-feira, às 11h, para entregar os 48 reféns israelenses, vivos ou mortos. A libertação é esperada “na manhã de segunda-feira”, segundo informações das autoridades israelenses.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse esperar que seu país possa celebrar “um dia de alegria nacional” já na noite de segunda-feira, com “o retorno de todos os reféns mantidos em Gaza”.
O Hamas anunciou que libertará os reféns israelenses antes do início do “Cúpula pela Paz em Gaza”, que reunirá, a partir de segunda-feira, em Sharm el-Sheikh (Egito), os líderes de cerca de vinte países, sob a liderança de Donald Trump e do presidente egípcio Abdel Fattah al-Sissi.
Em troca dos reféns, Israel deverá libertar 250 “detidos por motivos de segurança” e 1.700 palestinos presos pelo exército israelense na Faixa de Gaza desde o início da guerra.
As autoridades israelenses reuniram os presos a serem libertados em duas prisões — Ofer (na Cisjordânia) e Ktziot (no sul de Israel) — à espera da continuação das operações.
Criação de um “centro de coordenação civil-militar”
O novo chefe do Comando Militar dos EUA para o Oriente Médio (Centcom), Brad Cooper, anunciou no sábado ter ido a Gaza para discutir a estabilização da situação, garantindo que nenhuma tropa americana será enviada ao território palestino.
Um “centro de coordenação civil-militar”, dirigido pelo Centcom, deverá ser criado para supervisionar a implementação do acordo de paz.
A União Europeia “muito provavelmente” aumentará sua presença em Gaza assim que um cessar-fogo duradouro for estabelecido, declarou no domingo o ministro francês das Relações Exteriores demissionário, Jean-Noël Barrot.
O presidente francês Emmanuel Macron viajará na segunda-feira ao Egito para manifestar “seu apoio à implementação do acordo apresentado pelo presidente Trump para encerrar a guerra em Gaza”, entre Israel e o Hamas, anunciou o Palácio do Eliseu.
Nem o Hamas, nem qualquer autoridade israelense participarão da cúpula pela paz em Gaza. Além disso, as negociações sobre o desarmamento do Hamas, previstas no plano de paz, se mostram difíceis.
No sábado, um dirigente do Hamas afirmou que entregar as armas está “fora de questão” e “não é negociável”.
Organizações humanitárias prontas para agir
As organizações humanitárias afirmam estar prontas para ampliar massivamente suas operações, segundo representantes do Programa Mundial de Alimentos (PMA), dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) e do Conselho Norueguês para Refugiados (NRC).
Elas se preparam para distribuir mais ajuda na Faixa de Gaza, território em que algumas áreas sofrem com a fome, segundo a ONU.
O Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários também declarou ter recebido sinal verde de Israel para a entrada de 170 mil toneladas de ajuda, e informou ter um plano de resposta humanitária para os primeiros 60 dias de trégua.
Diversas fontes humanitárias expressaram “otimismo” quanto à execução desse plano, embora ainda se preocupem com as condições de aplicação, sobre as quais Israel não forneceu informações oficiais.
“Uma centelha de esperança”, diz o Papa
Ao final da Missa celebrada neste domingo, 12 de outubro, na Praça de São Pedro, o Papa Leão XIV saudou “o acordo que dá início ao processo de paz” e encorajou “as partes envolvidas a prosseguir com coragem no caminho traçado, rumo a uma paz justa, duradoura e respeitosa das aspirações legítimas do povo israelense e do povo palestino.”
“Uma centelha de esperança surge deste acordo”, afirmou o Papa Leão XIV, cheio de confiança.
“Dois anos de conflito semearam morte e ruína por toda parte, especialmente no coração daqueles que perderam brutalmente seus filhos, seus pais, seus amigos — tudo.”
“Com toda a Igreja, estou próximo de vossa imensa dor”, assegurou o Pontífice.
No sábado, uma vigília de oração pela paz foi realizada na Praça de São Pedro.
Nessa ocasião, Leão XIV recordou as palavras de Jesus dirigidas a Pedro no Jardim das Oliveiras:
“Guarda tua espada” (cf. Jo 18, 11).
Ele as evocou como “uma palavra dirigida aos poderosos deste mundo, àqueles que governam o destino dos povos.”
“Tenham a coragem do desarmamento!”, exclamou o Papa, renovando seu apelo por uma paz ‘desarmada e desarmante’, como já havia feito em sua primeira fala pública após a eleição, em 8 de maio último.









