Apesar de a Igreja local não ter um assento na mesa principal da COP30 onde os chefes de Estado e representantes dos países tomarão decisões, a mobilização no entorno do evento será intensa. Apesar de ser aguardada a presença do papa Leão XIV, o Vaticano deve ser representado pelo Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin.
Desde a publicação da encíclica Laudato Si' em 2015, a Igreja tem defendido que a crise ambiental é inseparável das crises sociais e econômicas, colocando o ser humano e o planeta no centro das preocupações éticas.
A Igreja local se mobiliza
A Rede Imaculada de Comunicação conversou com Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, bispo da Prelazia do Marajó, no Pará. A prelazia, que cobre nove municípios do arquipélago, está a poucas horas de Belém e sente de perto os impactos da crise.
Dom Ionilton confirmou que a Arquidiocese de Belém e as dioceses do Regional Norte 2 da CNBB (Pará e Amapá) estão organizando uma série de eventos paralelos durante a COP 30, entre 11 e 15 de novembro. A meta é garantir que a voz das bases chegue aos corredores de decisão.
"Vamos ter alguns eventos aqui na capital como celebrações, momentos de oração, também vai ter locais onde nós vamos realizar debates acerca da realidade da Amazônia," explicou o bispo.
Os encontros e rodas de conversa focarão nas comunidades mais atingidas: ribeirinhos, quilombolas, povos indígenas e populações afetadas por grandes projetos de infraestrutura como barragens e hidrovias, e a linha ferroviária conhecida como "Ferrogrão".
A força das bases na COP30
A mobilização da Igreja vai além da capital paraense. A CNBB, através da Comissão Especial da Ecologia Integral, em parceria com o Movimento Laudato Si' e a Repam (Rede Eclesial Pan-Amazônica), realizou as chamadas pré-COPs em todas as cinco regiões do Brasil.
Nestes encontros regionais, foram ouvidos bispos, padres, leigos, e, crucialmente, representantes dos pescadores e dos povos e comunidades tradicionais. O material coletado – as angústias, sugestões e propostas de superação da crise – está sendo sintetizado em um documento robusto.
"Eu avalio que vai ser um documento muito importante, porque foi ouvido as bases," ressaltou Dom Ionilton. O texto será entregue ao representante do Vaticano – possivelmente o Cardeal Pietro Parolin – que terá uma cadeira no evento principal.
Geração futura da COP30
A urgência das ações é um ponto central para a Igreja. O bispo do Marajó citou o alerta do Papa Francisco na encíclica Laudate Deum: "Nós estamos chegando quase que num ponto sem retorno." O risco de um aumento de mais 0,5% na temperatura global pode tornar a vida na Terra "quase impossível" em 50 anos, se a exploração da natureza continuar no mesmo ritmo.
O convite é à responsabilidade intergeracional. "Nós, da geração atual, não podemos pensar só na nossa geração, tem que pensar de que depois dessa geração virão outras, que também precisarão da natureza," afirmou Dom Ionilton.
A Cúpula dos Povos
Ainda que a Igreja promova seus próprios eventos, ela apoia firmemente a organização da sociedade civil. Os movimentos populares da região estão se articulando na "Cúpula dos Povos" – um nome que reforça a prioridade de ouvir quem mais sofre.
Essa cúpula paralela, apoiada por entidades como Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Cártias e Pastoral da Terra, visa influenciar as decisões através de debates, documentos e manifestações de rua que culminarão perto do local do evento principal.
Dom Ionilton destacou que os povos tradicionais são vítimas de invasões de terras e de uma exploração violenta. Ele citou exemplos do Marajó: a exploração predatória do camarão por embarcações industriais, que destrói as matrizes; e o impacto de empresas que chegam para explorar produtos locais, como o açaí, comprometendo a sobrevivência de centenas de famílias extrativistas.
A ausência de países como os Estados Unidos (um dos maiores poluidores mundiais e grande consumidor) na mesa de negociações é lamentada. No entanto, o bispo ressaltou que a mobilização da Igreja e da Cúpula dos Povos tem, no mínimo, o poder de "inquietar" as lideranças que estarão em Belém, lembrando-as das enchentes no Sul, das queimadas no Pantanal e da seca nos rios amazônicos. A crise climática é uma realidade dramática que exige ação imediata e unida. “Eu acho muito importante essa proposta da Igreja Católica e também dos movimentos sociais se fazer ouvir a voz das pessoas, né, os poderosos do mundo vão se sentar para debater os temas, mas é importante fazer ouvir a voz, mesmo que não seja de maneira oficial, de maneira extraoficial, mostrar que existem as pessoas impactadas”, conclui Dom Ionilton.









