“Minha esposa nunca demonstra carinho”. Esta é uma frase que ouço de maridos que dizem que sofrem com uma esposa que parece alérgica à ternura e, acima de tudo, que é incapaz de se doar. O marido chega a ficar surpreso com o fato de a mulher encarnar a doçura, a delicadeza requintada, a sensibilidade precisamente feminina. Qualidades que ele deve ter aprendido a apreciar ao observar a sua mãe.
Ao escrever essas linhas, não gostaria de culpar as esposas que não são os tesouros de ternura que o marido espera encontrar. Eu sei bem que muitas vezes elas são as primeiras a sofrer dessa frieza que as habita e que elas não conseguem abandonar. “O que você quer… isso não se controla… é mais forte que eu… não posso me forçar!”. Mas sei que não existe falta de ternura no coração humano. Não é porque essa ternura não se manifesta que ela esteja ausente. Ela está lá, cochilando ou bloqueada, ignorada ou reprimida, com medo ou escondida, mas muito presente. É importante procurar as causas desse fechamento, desse bloqueio.
As razões para esse comportamento são múltiplas
A primeira explicação que vem à mente é que a esposa não ama mais o marido ou nunca o amou. Explicação plausível em alguns casos, mas que também pode servir como um álibi fácil: “Entenda-me… casei com ele sem muito amor. Eu fui forçada pelo meu ambiente. Fiz um casamento na razão, pensando que o amor viria a seguir”.
É também preciso perceber outros pontos de vista, outras razões. Por exemplo, a falta de ternura recebida durante a infância. Isso é sem dúvidas uma desvantagem: como dar o que não recebemos? Qualquer criança, para sofrer menos, tende a “proteger-se” ou a desvalorizar o sentimento que não pode ter. Por isso, nela permanece a necessidade de ternura que ela não conheceu, se não “um vazio”, causado pela falta, pela ausência.
A educação também pode ser a causa do fechamento. Existem famílias onde abraços são excluídos, considerados como demonstrações de afeto infantis. A consciência desse condicionamento poderia ajudar a esposa a dar um passo atrás no passado e permitir-se comportar de uma maneira diferente.
O carinho dado apenas aos filhos também poderia ser a causa de uma indiferença em relação ao marido? Sabemos a importância do amor materno. O sentimento de proteção das mulheres que veem os pequenos, tão frágeis, e percebem que eles precisam de um ambiente emocional importante, mas erroneamente consideram que o marido adulto e forte pode facilmente lidar com isso. Como se para ser uma boa mãe, primeiro você não precisasse ser uma boa esposa!
A recusa de carinhos pode igualmente ser uma recusa do prazer, das carícias por exemplo, um medo da sexualidade. É um sinal provável de subestimação do corpo – subestimação que pode ser consequência de uma educação puritana ou de um evento que afetou profundamente a pessoa em seu corpo (aborto, violência, agressão sexual…). Uma consulta com um profissional competente pode detectar e remover inibições ocultas.
Finalmente, pode haver a impressão desagradável de ser apenas um objeto, quando o marido sistematicamente une carinho e vida sexual. As mulheres podem acabar com medo. Esses atos são então percebidos como uma demonstração “estratégica” de carinho e não gratuita. Outra hipótese é de haver também o medo de dar ao outro poder sobre seu corpo e sua sensibilidade; ou um episódio de fraqueza do marido que nunca foi verdadeiramente perdoado… Os motivos são múltiplos. De qualquer forma, uma vez detectada a causa, o trabalho de cura exigirá esforço e tempo.
Então, o que dizer, o que fazer?
Enquanto isso, o marido pode propor um carinho desinteressado, voluntariamente desconectado de uma demanda sexual, um carinho que sabe esperar pacientemente, porque é óbvio que qualquer “assédio” nessa área apenas atrasaria a evolução da esposa. Uma atitude que, de fato, significa para o outro: “Veja bem, eu não quero restringir você em nada. Simplesmente, meus braços são grandes e estão abertos para que você venha aconchegar-se lá sempre que você desejar. E você não precisa deixá-los… Eu te amo, isso é tudo! “
À esposa cabe se reconciliar com seu corpo, este presente maravilhoso do Criador. Esse corpo que seu Filho não desdenhou vestir! Essa também é a oportunidade de refletir sobre seu relacionamento com o prazer, considerá-lo como totalmente desejado por Deus. “Os cônjuges não fazem mal em aceitar os prazeres associados à sua condição”, disse o austero papa Pio XII.
Para a esposa é preciso sempre aprender sobre o desapego. O bloqueio é comum às vezes. Uma garotinha chora em seus braços, mas ela não tem a brandura de abandonar-se nos braços de um marido amoroso, que é para a sua vida um sinal da ternura de Deus.
Padre Denis Sonet