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Como não se deixar pisar pelos outros permanecendo cristão?

Woman - Bullying - Disrimination

© fizkes

Edifa - publicado em 29/10/19

Jesus nos pede para não lutarmos contra os tiranos, para oferecermos a outro lado de nossa face. Devemos então aceitar tudo daqueles que querem nos prejudicar?

“Eu, porém, vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra.” (Mt 5, 39).Poderíamos dizer que essa palavra do Senhor é uma hipérbole oriental, um ideal inacessível, um paradoxo educacional. Poderíamos pensar que não se deve levar o Evangelho ao pé da letra. No entanto, essa palavra, incisiva como a espada, nos toca e até nos fascina. A prova é que ninguém consegue esquecê-la. São Paulo faz até mesmo uma interpretação: “Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem.” (Rm 12, 21, 1 Tn 5, 15). De todas as respostas possíveis a uma agressão – raiva, vingança, reivindicação, desolação, desprezo ou simplesmente indiferença – existe essa resposta contraditória que é a gentileza, a paciência, a compaixão e o perdão. E é isso que São Paulo chama de “frutos do Espírito”. Esta é a face concreta da Caridade (Gal 5, 22-23, 1 Cor 13, 4-7). É a resposta de Cristo para aqueles que o crucificaram.

Ter uma atitude pacífica não significa que você não deve fazer nada

A propósito, por que oferecer a face direita? Nosso professor da Santa Escritura nos explicou a diferença entre um tapa do rosto quase amigável, com a palma da mão aberta na bochecha esquerda, e o real tapa no rosto, um movimento oblíquo que atinge o nosso rosto e nos humilha; é um gesto de desprezo e rejeição. Mesmo assim, Jesus nos pede para não revidar, não fugir, mas permanecer lá, vulnerável. Esta é a única maneira de destruir a violência.

Não se apresse ao pensar que isso é impossível. O pastor Wilkerson, um cristão evangélico e escritor americano, contou em seu livro A Cruz e o Punhal como a Providência de Deus o conduziu ao mundo dos jovens bandidos em Nova York. O líder de uma gangue, impressionado com seus sermões e sua crescente influência entre seus amigos, ameaçou cortá-lo em pedaços. O pastor então respondeu: “Você pode fazer isso, mas saiba que cada música ainda dirá ”eu te amo””. Ainda existem muitos mártires que oferecem suas vidas por seus opressores. Além disso, os exemplos desses gigantes do amor não devem nos fazer esquecer todos aqueles que, na vida cotidiana, colocam a paz onde há guerra, a ternura onde há crueldade. Isso é loucura? Heroísmo? Ou a audácia de amar como Jesus, incondicionalmente?

Isso não significa que nunca devemos reagir, ou que devemos aceitar tudo. Quando defendemos sozinhos uma causa, podemos renunciar ao desejo de estarmos certos: “Se alguém te citar em justiça para tirar-te a túnica, cede-lhe também a capa.” (Mt 5:40). Mas quando o bem particular de uma pessoa ou o bem comum de uma sociedade está envolvido, a caridade exige respeito e justiça. Os bens, a saúde, a honra e ainda mais a vida (corporal e espiritual) de nossos irmãos não podem ser abandonados ao poder dos tiranos. Por caridade para com os próprios inimigos, às vezes teremos que enfrentá-los. Isto vai do debate à ação que promove justiça, da autodefesa à guerra, quando infelizmente for necessária. Em todas essas situações difíceis, no entanto, um discípulo de Cristo é reconhecido através de duas atitudes: ele não nutre o ódio e recorre à força apenas se todos os outros meios falharem.

Padre Alain Bandelier

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