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Socorro, penso em alguém que não é o meu marido

KOBIETA

Steven Aguilar/Unsplash | CC0

Edifa - publicado em 07/11/19

Casados, às vezes podemos estar apaixonados por outra pessoa. Às vezes até gostamos dela e pensamos que estamos enamoradas dela. A dúvida instala-se e atormenta-nos por dentro. Como reagir quando nos acontece?

Somos responsáveis pelas nossas emoções? No momento preciso, claro que não. Diante de uma situação difícil que você tem que enfrentar, você pode querer fugir covardemente. Quando confrontada a uma agressão, a pessoa pode querer responder com uma explosão de violência. E diante de uma pessoa da qual emana um charme ao qual seremos particularmente sensíveis, podemos ficar sonhando. Tais sensações existem. Elas podem ser violentas, como uma onda que invade-lhe. Outras vezes, são quase imperceptíveis, e só depois de algum tempo é que percebemos a coisa estranha que nos habita. É perturbador, porque não nos reconhecemos pessoalmente.

“O que que me está a acontecer?”

Esta expressão é reveladora. Sugere que existe um diferencial entre o sentimento que temos, que pode levar-nos até ao ponto de obsessão, e a nossa vontade. Está em nós, mas não é nós. Pelo menos enquanto negamos dar o nosso consentimento a isto. É tempo de recordar um princípio simples, mas fundamental: a tentação não é pecado. Enquanto não damos consentimento (nem em ação nem em pensamento), permanecemos fiéis, não pecamos.

À pergunta: “É perdoável?” deve, portanto, ser respondido que não há necessidade de perdoar um pensamento ou sentimento involuntário. Para a vergonha (“eu a considero repulsiva”), devemos responder como Jesus: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa manchar; mas o que sai do homem, isso é que mancha o homem” (Mc 7,15).

Mas, na realidade, as coisas raramente são tão claras. Entre a pura e simples rejeição da tentação e a óbvia caída na infidelidade, há muitas vezes uma zona de ambiguidade, mais ou menos sustentada. Este obscuro é obviamente uma porta aberta para o pior. Portanto, há uma luta a empreender e, antes de tudo, eliminando radicalmente a tentação de “ver até onde podemos ir sem cair”. A resistência deve ser clara no pensamento e clara na vontade, mesmo que seja uma luta sem glória, difícil de garantir a vitória, e às vezes agitada porque parece nunca acabar.

Uma tentação que deve suscitar questões

Talvez seja necessário insistir aqui no não consentimento. Sejamos claros: o consentimento não é só uma questão de actuação. Há também consentimento mental. No Discurso da Montanha, Jesus chama seus discípulos a uma justiça que não é unicamente uma conformidade externa, mas uma verdade interior.

Estas fragilidades, estas reacções confusas, nos questionam sobre o nosso passado e o nosso futuro. Parecem surgir inesperada e inexplicavelmente. Ou podem ser devidas a circunstâncias externas. Mas serão assim tão estranhas como parecem? Podem estar vinculadas ao descuido, à falta de vigilância, ou a verdadeiros fracassos, antigos ou novos, que nos marcaram e que nos tornam mais vulneráveis a uma ou outra tentação. Isto requer um trabalho do Espírito Santo em nossas profundezas – trabalho de clarificação, cura, emancipação.

Mas, por outro lado, estes momentos de turbulência e hesitação nos obrigam a repensar as nossas escolhas e compromissos. Coisas que pareciam óbvias e adquiridas estão sendo questionadas. Isto pode ser um sinal de que não tinham autenticidade ou maturidade. O evento é uma oportunidade para um compromisso renovado. Mais humilde, certamente, mas também mais radical e verdadeiro. É por isso que o Senhor permite essas passagens perigosas em nossas vidas. Ele tem menos medo disso que nós!

Padre Alain Bandelier

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