Somos responsáveis pelas nossas emoções? No momento preciso, claro que não. Diante de uma situação difícil que você tem que enfrentar, você pode querer fugir covardemente. Quando confrontada a uma agressão, a pessoa pode querer responder com uma explosão de violência. E diante de uma pessoa da qual emana um charme ao qual seremos particularmente sensíveis, podemos ficar sonhando. Tais sensações existem. Elas podem ser violentas, como uma onda que invade-lhe. Outras vezes, são quase imperceptíveis, e só depois de algum tempo é que percebemos a coisa estranha que nos habita. É perturbador, porque não nos reconhecemos pessoalmente.
“O que que me está a acontecer?”
Esta expressão é reveladora. Sugere que existe um diferencial entre o sentimento que temos, que pode levar-nos até ao ponto de obsessão, e a nossa vontade. Está em nós, mas não é nós. Pelo menos enquanto negamos dar o nosso consentimento a isto. É tempo de recordar um princípio simples, mas fundamental: a tentação não é pecado. Enquanto não damos consentimento (nem em ação nem em pensamento), permanecemos fiéis, não pecamos.
À pergunta: “É perdoável?” deve, portanto, ser respondido que não há necessidade de perdoar um pensamento ou sentimento involuntário. Para a vergonha (“eu a considero repulsiva”), devemos responder como Jesus: “Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa manchar; mas o que sai do homem, isso é que mancha o homem” (Mc 7,15).
Mas, na realidade, as coisas raramente são tão claras. Entre a pura e simples rejeição da tentação e a óbvia caída na infidelidade, há muitas vezes uma zona de ambiguidade, mais ou menos sustentada. Este obscuro é obviamente uma porta aberta para o pior. Portanto, há uma luta a empreender e, antes de tudo, eliminando radicalmente a tentação de “ver até onde podemos ir sem cair”. A resistência deve ser clara no pensamento e clara na vontade, mesmo que seja uma luta sem glória, difícil de garantir a vitória, e às vezes agitada porque parece nunca acabar.
Uma tentação que deve suscitar questões
Talvez seja necessário insistir aqui no não consentimento. Sejamos claros: o consentimento não é só uma questão de actuação. Há também consentimento mental. No Discurso da Montanha, Jesus chama seus discípulos a uma justiça que não é unicamente uma conformidade externa, mas uma verdade interior.
Estas fragilidades, estas reacções confusas, nos questionam sobre o nosso passado e o nosso futuro. Parecem surgir inesperada e inexplicavelmente. Ou podem ser devidas a circunstâncias externas. Mas serão assim tão estranhas como parecem? Podem estar vinculadas ao descuido, à falta de vigilância, ou a verdadeiros fracassos, antigos ou novos, que nos marcaram e que nos tornam mais vulneráveis a uma ou outra tentação. Isto requer um trabalho do Espírito Santo em nossas profundezas – trabalho de clarificação, cura, emancipação.
Mas, por outro lado, estes momentos de turbulência e hesitação nos obrigam a repensar as nossas escolhas e compromissos. Coisas que pareciam óbvias e adquiridas estão sendo questionadas. Isto pode ser um sinal de que não tinham autenticidade ou maturidade. O evento é uma oportunidade para um compromisso renovado. Mais humilde, certamente, mas também mais radical e verdadeiro. É por isso que o Senhor permite essas passagens perigosas em nossas vidas. Ele tem menos medo disso que nós!
Padre Alain Bandelier