Toda a nossa vida é colocada sob o olhar de Deus e nenhuma das nossas acções é excepção. Ter consciência disso é encontrar uma oportunidade única de oferecer o próprio trabalho a Deus e de caminhar para uma vida de oração e de dom
Devemos lutar constantemente contra o risco de fragmentação das nossas vidas: um tempo para a vida familiar, um tempo para a vida profissional, um tempo para a vida social, um tempo para a vida espiritual, etc. O que pode nos unir só pode ser a vida espiritual, pois somos feitos à imagem de Deus. O tempo que passamos trabalhando só será bem vivido se colocarmos nosso coração nele, no sentido bíblico da palavra, aquela parte íntima de nós mesmos onde a vida trinitária de Amor pode florescer para nossa maior alegria.
Tomemos o exemplo da Sagrada Família
A admirável mãe que Deus escolheu para encarnar está trabalhando quando o Anjo lhe anuncia a grande notícia. O justo e gentil José, herdeiro da raça real e humilde trabalhador manual, então a levaria para sua casa, a pedido do Senhor, e asseguraria com o seu trabalho a subsistência do deus-criança e da sua Mãe.
O próprio Jesus trabalhou, a tempo parcial durante a sua infância, a tempo inteiro depois disso, aprendendo e depois trabalhando como carpinteiro. Sabemos que Jesus não fez nada sem orar ao seu Pai. E não há dúvida de que a Sagrada Família sempre integrou plenamente o trabalho na sua vida relacional com o Pai.
“Ora et labora”
Quando os monges tomam como lema “Ora et labora”, eles expressam a necessidade de fazer do trabalho uma oportunidade para a oração, senão mesmo uma oração. São João Paulo II dizia que o trabalho deve estar “ao serviço do homem” e não o contrário. Uma vez que Deus é o fim último da pessoa humana, isto significa que o trabalho ao serviço do homem ajudará a trazê lo mais perto de Deus.
Trabalho, castigo ou santificação?
Ao mesmo tempo, sabemos pelo Gênesis que o pecado original fez da missão confiada ao homem de dominar a Criação uma atividade que, se bem que lhe permita sobreviver, se encontra em dor e suor. Devemos deduzir disto que há duas partes no trabalho, uma que énobre, onde o homem pode legitimamente se sentir um continuador da obra divina, e outra que deve ser sofrida, como um castigo? Mas é no nosso mundo marcado por este pecado original que Deus veio para viver e trabalhar, manualmente até os 30 anos de idade e evangelizado por três anos. A primeira obra foi humilde, com suas alegrias e cruzes discretas. O segundo era mais nobre, sua cruz e glória eram brilhantes.
O nosso caminho está agora livre. Todo o nosso trabalho é para a glória de Deus, seja ele criativo, gratificante, excitante, ou repetitivo, acadêmico, doméstico, técnico, artístico ou intelectual, com fins lucrativos ou voluntário. É verdade que às vezes gritaremos “Eloi, Eloï, lama sabachtani” em vez de cantar “Magnificat”, mas qualquer tarefa pode ser ordenada ao amor de Deus e ao amor ao próximo.
Yannik Bonnet