Perdão ou castigo? Ser muito rigoroso ou tolerar tudo?… Pequenas e grandes decisões na educação diária podem, às vezes, ser assuntos reais de conflitos repetidos dentro de um casal. Como é que você e o seu parceiro podem chegar a acordo sobre a criação dos filhos e acabar com as disputas?
São poucos os casais nos quais não ha nenhuma ocasião para se enfrentar em algum momento da educação das crianças. Depois há as pequenas (desagradáveis) frases que denunciam a incompetência do cônjuge: “Não é deixando que os nossos filhos façam tudo o que quiserem na vida”; “Você não vê que você é um pai muito rígido, já não estamos vivendo na Idade Média”; “Você sempre repreende as crianças, eu não vou agregar nada a isso”; “Você é como sua mãe, uma mãe que permite tudo”; etc. No entanto, é possível educar os seus filhos, sem necessariamente concordar com o seu cônjuge em tudo.
Porquê tanta discussão?
Os pais que amam profundamente os seus filhos se esforçam para fazer o melhor possível. No entanto, todos tendem a pensar que o seu método educacional é o melhor. Um ponto de vista que não é necessariamente partilhado pelo cônjuge. E por uma razão plausível: eles geralmente tiveram uma educação diferente, às vezes até muito diferente. Dependendo do que experimentaram na infância, do que os viveram e do que padeceram, cada um tem sua própria concepção das exigências de uma boa educação: “Certamente não farei como meu pai que nunca veio nos beijar antes de adormecer”; “Dou graças a minha mãe que nos fez rezar à noite cantando, e não deixarei de a imitar”.
Assim, nas (inevitáveis) tensões que surgem sobre as crianças, a primeira coisa que importa é se afastar do seu passado. De onde vêm as nossas escolhas, preferências e decisões educativas? Sejamos suficientemente lúcidos para questionar as nossas certezas, que podem ter se tornado uma verdadeira ideologia, feita de uma cópia ou, pelo contrário, de uma rejeição da educação recebida. Mas também nos perguntemos se, conscientemente ou não, não estamos muito interessados em ter uma influência sobre os filhos à custa do outro cônjuge… para subtrair a liderança da sua afetividade.
Ser mais duro ou permitir tudo?
Em segundo lugar, é essencial ter consciência da imensa complexidade da “boa educação”. Se, por exemplo, bastasse ser rigoroso, “ser mais duro” para que as crianças fossem bem educadas, ou se bastasse, pelo contrário, “permitir tudo” isso seria notório. Este conhecimento teria sido transmitido de geração em geração. Mas não é tão simples!
Com tal criança, a gravidade pode ser destrutiva. Não é fácil conciliar e equilibrar liberdade e autoridade, recompensas e castigos, doçura e firmeza, indulgências e exigências. A educação não é a aplicação de princípios absolutos. É uma arte que requer uma atitude infinitamente matizada, bem longe do “treinamento” e do laissez-faire. Em muitas situações, quem pode dizer que tem a solução milagrosa? Quem pode dizer, por exemplo, que sabe exatamente o que fazer na presença de uma criança que já experimentou a droga? As opiniões serão diferentes.
Outro exemplo: um dirá que a televisão é o instrumento do diabo (“Nós não tínhamos televisão, e não era tão má”), o outro que é um meio privilegiado de enriquecimento cultural se for usado correctamente. Além disso, as crianças não são unicamente filhos dos pais, são também filhos de uma sociedade, dos meios de comunicação social, e não ha quem sabe dizer como evitar o vírus anti-educativo de esta sociedade pluralista!
O segredo para acabar com as querelas
Daí a conclusão: é bom e sábio partilhar pontos de vista opostos. Na calma e no acolhimento das ideias de todos. O diálogo é urgente. Suponhamos que, em muitos casos, precisamos outra pessoa para saber o que pensar e fazer. Sejamos claros: o nosso cônjuge não é ignorante e, se existe uma discrepância, ele vê um aspecto que é justo e que deve ser tido em conta para encontrar uma resposta matizada e adaptada.
Este diálogo, onde todos “defenderão a sua tese”, deve ter em conta o ponto de vista da criança e as possíveis reacções. Ele ocorrerá na ausência da criança, que não tem que presenciar esta discussão viva e não deve ser capaz de se beneficiar das divergências.
A criança precisa de flexibilidade e indulgência
No entanto, por muito importante que seja para o casal chegar a um consenso sobre as principais orientações educativas e/ou decidir quem tem a liderança em uma determinada circunstância, também é possível que, em questões menores, os pais nem sempre pareçam formar um bloco compacto diante da criança: ela pode precisar de um pai para aplicar as decisões familiares com flexibilidade e indulgência.
Mas recordemos que a educação não é nada fácil: José e Maria nunca esqueceram sua decepção em Jerusalém de um filho maravilhoso que, no entanto, “cresceu em tamanho e virtude e ficou sujeito a eles”.
Denis Sonet