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Envelhecer feliz? Sim, é possível!

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Edifa - publicado em 17/02/20

Todos temos medo de envelhecer, é verdade que esse medo às vezes tem fundamento. Tornar a velhice um momento feliz, proveitoso e positivo não é tão fácil, mas possível. Mas você só precisa querer e seguir algumas regras

Nossa sociedade não nos ajuda a envelhecer, porque é inteiramente fixada nos valores da primeira parte da vida: eficiência, produtividade, aparência. A geração que se aproxima da segunda parte da vida tem à sua frente uma imagem tão desastrosa da velhice que pode passar por um período de depressão, conhecido como “depressão dos idosos”. Essa passagem – bastante normal – significa que você precisa reorganizar sua vida, parar para viver os anos vindouros com serenidade. Mas essa depressão nunca foi tão difícil de superar como hoje em dia, a velhice assusta porque está ficando mais longa. Por isso, nos perguntamos como viver essa longevidade e tememos o que é chamado de “velhice ruim”: medo de ser um fardo para a sociedade, de estar sozinho, abandonado, dependente, medo de doenças e, em particular, de Alzheimer. Inevitável, a velhice não nos condena à solidão nem ao declínio. É possível envelhecer feliz uma vez que somos capazes de superar nossos medos: essa é a opinião de Marie de Hennezel, psicóloga clínica, que desenvolveu um programa de apoio para as pessoas idosas.

Quais são as tentações para fugir da velhice?

Vamos dar um exemplo, talvez um pouco caricato: o filme Mamma Mia!, que mostra mulheres de 60 anos cuja obsessão é viver como suas filhas de 30. Elas se vestem como elas, dançam como elas, vão para a academia como elas. Mesmo que isso pareça muito feliz, este filme é demasiadamente teatral. Aos 60 anos, é claro que você deve cuidar da sua aparência, mas não como seus filhos! A outra tentação é afundar gradualmente na depressão, passar reclamar todos os dias repetindo que o envelhecimento é péssimo e, sob o pretexto de estar lúcido, descemos a ladeira da depressão que é muito difícil de subir novamente.

Mas não é natural ter medo de envelhecer?

De certa forma, sim, porque não é divertido. A nível físico, por exemplo. As mulheres estão gradualmente descobrindo que atraem menos atenção. Elas precisam voltar a aceitar a sua autoimagem: uma verdadeira remodelação se opera. Mas é apenas uma passagem. Aos 70 anos, elas ultrapassaram esse marco e se aceitam como estão. O desenvolvimento da vida interior e a alegria de estar em relação com outras pessoas lhes dão um novo brilho para viver.

A irmã Emmanuelle disse que era bastante paqueradora quando jovem. Então, ela se afastou completamente dessa preocupação com a aparência a fim de se voltar aos mais pobres. Quando a entrevistei sobre a velhice, ela estava chegando aos 100 anos. Ela tinha todos os sinais de velhice e, ao mesmo tempo, tinha um brilho interior, uma vitalidade extraordinária. Ela ilustra esse grande paradoxo: avançando para o fim de sua vida, o homem exterior diminui, o homem interior aumenta. Este é o significado da palavra de São Paulo: “Ainda que exteriormente se desconjunte nosso homem exterior, nosso interior renova-se de dia para dia” (2 Cor 4, 16).

Como superar esse medo de envelhecer?

Primeiro, identifique seus medos. A solidão é um medo que surge com frequência. À medida que envelhecemos, teremos mais e mais experiências sozinhas. Se a pessoa idosa está bem consigo mesma, se desenvolveu uma vida interior, não se sentirá sozinha. Essa questão pode ser resolvida bem cedo, aprendendo a ter momentos de solidão, em vez de estarmos sempre agitados.

Você acredita que uma velhice feliz resulta do trabalho sobre si mesmo. Você tem algum exemplo?

Primeiro, você tem que aceitar que é mortal. Pessoas que têm medo da morte, sem perceber que isso é inevitável, são muito frágeis. Viver com a consciência de nossa mortalidade necessariamente leva à pacificação da vida. Neste trabalho, percebemos que carregamos malas pesadas, ligadas ao passado. Elas são os arrependimentos, o remorso, e os rancores. Quando você envelhece com muitas coisas não resolvidas, isso não é bom. De fato, essas “malas” se tornam cada vez mais pesadas para carregar, porque à medida que envelhecemos, nos encontramos cada vez mais sozinhos diante de nós mesmos. Esse acúmulo é o que nos leva a ter uma imagem terrível da velhice, a dos idosos que nunca param de reclamar.

À medida que envelhecemos, não podemos deixar de fazer um tipo de limpeza na nossa vida. Quando fazemos isso, nos sentimos mais leves, temos uma nova liberdade. Portanto, quanto mais cedo o fizermos, melhor! Neste caminho, os cristãos têm uma ferramenta à sua disposição, o sacramento da reconciliação. Ele nos levar a olhar para nossa vida de frente e liberta. Então vemos o que precisamos perdoar nos outros e o que temos que perdoar em nós mesmos. Este sacramento torna possível renovar a confiança, se colocando sob o olhar de Deus.

Na sua opinião, não envelhecer mal, é preciso “trabalhar sobre a sombra”. O que isso significa?

Sombra é um conceito de Jung que designa tudo o que foi reprimido: arrependimento, remorso, mas também agressividade, raiva. Trabalhar na sua sombra é como trabalhar em si mesmo. Você precisa expor sua raiva, porque se não a enfrentar logo cedo na vida, ela explodirá mais tarde, parecendo um delírio. Assim, uma pessoa muito idosa pode mudar de personalidade da noite para o dia.

A sombra esconde tudo o que é negativo em si, mas também todo o nosso potencial. Por exemplo, algumas pessoas, no final de sua vida, têm uma imensa necessidade de carinho e ternura. Isso pode ser muito confuso para as crianças que não foram acostumadas a isso pelos pais. É como se estivéssemos ressurgindo das sombras.

Estou convencido de que é importante estar ciente de sua sombra. Não importa como fazemos, se através da psicanálise, de tempos em solidão, de retiros, etc. Ir ao encontro de sua sombra faz parte desse trabalho necessário em si mesmo.

Neste trabalho, a fé pode ajudar?

Se a fé é realmente vivida e aprofundada, obviamente! Eu diferencio fortemente fé de crença, pois esta última é como uma muleta, porque não está integrada à vida. Fé é confiança em Deus, no mistério da vida e da morte. A fé cristã é baseada em textos e, obviamente, na Ressurreição: se ela foi realmente vivida, ajudará a pessoa em seu caminho de velhice.

Os idosos muito religiosos são menos ranzinzas?

Eu nunca me perguntei, mas acho que sim! Para o idoso religioso existe um além. Saber disso implica compreender que o mundo não está completamente centrado nele e, portanto, ele se torna menos “azedo”. Basicamente, a aventura da velhice é uma abertura para ir além de si. E a oração oferece essa incrível abertura aos idosos. Muitos deles me dizem que não se sentem sozinhos, porque levam todas as pessoas que amam em suas orações.

As histórias da Bíblia que retratam a velhice mostram a fertilidade do homem, mesmo no fim da vida, como nos casos de Simeão, Zacarias ou Abraão. Essas figuras bíblicas revelam uma imagem luminosa da velhice que é muito necessária hoje.

Na fé cristã, existe a promessa de que a vida é mais forte que a morte. Sem falar de fé no sentido estrito, a espiritualidade permite que a velhice seja experimentada como crescimento e não como naufrágio.

Anna Latron

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