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Relação pai-filha: que impacto isso tem no futuro da menina?

FATHER

Shutterstock | Evgeny Atamanenko

Edifa - publicado em 04/06/20

Entenda até que ponto a perspectiva e o apoio de um pai são realmente necessários para o desenvolvimento intelectual, físico e social de uma filha.

Querido pai, você sabia que se você pudesse se ver, mesmo que fossem apenas dez minutos, com os olhos que sua filha o vê, sua vida iria virar de cabeça para baixo? Você sabe que você é o centro da vida dela? Que ela acorda todas as manhãs porque você existe?

Essa é a certeza da doutora Meg Meeker, baseada em mais de trinta anos de experiência pediátrica. Ela viu milhares de meninas desfilando pelo seu consultório. Ela ouviu àquelas que, privadas do amor de um pai, sofreram de distúrbios alimentares, refugiaram-se em relações sexuais precoces ou arruinaram conscientemente seus estudos na esperança de atrair o olhar paterno para si mesmas.

A doutora também observou quantas meninas aguardam febrilmente a aprovação e os incentivos de seu pai. Porque, embora não duvidem da atenção de sua mãe, a do pai não parece tão óbvia.

Ela as viu se esforçarem mais para se destacar quando você, pai, olha para ela, aprende mais rápido quando você a instrui, cresce em auto-confiança nela mesma quando a guia.

“Se vocês, pais, estivessem plenamente conscientes da influência que vocês podem ter na vida delas, vocês ficariam aterrorizados, sobrecarregados ou ambas coisas ao mesmo tempo”, resume a pediatra com uma pitada de humor, antes de oferecer conselhos valiosos aos pais para estabelecer um relacionamento próximo e correto com as suas filhas.

Os tempos mudaram, as relações entre pai-filha também

Meg Meeker é muito apaixonada. Ela sabe o que é necessário num mundo feminizado que tende a relativizar a importância do pai no seio da família e mantém a confusão sobre o papel que ele deveria ter nela. Uma trama escondida e ainda mais lamentável, já que os homens de hoje querem se envolver mais do que seus próprios pais na educação de seus filhos.

Um fato corroborado pelo padre Alain Dumont, que organizou várias sessões reservadas aos homens. Muitos deles são pais.

“Eles me pedem conselhos de como ser pais”, diz o padre. “Após a explosão da estrutura educacional nos anos sessenta, o papel do pai tornou-se mais difícil de delinear. No entanto, observo que desde o início do século XXI, os homens podem seguir um novo caminho delineado por reflexões recentes que esclareceram sua missão. No que diz respeito mais especificamente às relações entre pai e filha, é evidente que elas evoluíram enormemente desde a Primeira Guerra Mundial. Não se trata de criticar os modelos anteriores, mas de recompô-los novamente em nosso tempo”. E os tempos mudaram.

Hoje sabemos, por exemplo, quão sensível o recém-nascido é à presença de seu pai. Sabemos a necessidade de fornecer uma visão pacífica de seu passado quando criança para viver melhor seu papel de pai.

Preparamos nossas filhas para serem mães e estudar para terem uma profissão. Vivemos numa sociedade invadida pelas telas nas quais a violência e o sexo são difundidos. As relações pai-filha devem integrar esses novos dados.

Desde a tenra idade, você prepara sua filha para a vida dela como mulher

“Você nasceu homem por uma razão”, diz Meg Meeker, “e sua filha precisa do que só você pode dar a ela, nem mesmo a sua mãe”.

Vamos começar do começo: sua primeira missão é separar sua filha da sua mãe para que ela possa se abrir para o mundo exterior. Cortar o cordão umbilical. Dizem que a mãe tranquiliza e o pai incentiva a descoberta. Fácil, você faz isso instintivamente. Observe-se levar as crianças para a escola: enquanto as mães estressadas as seguram firmemente pela mão, você as deixa pular pela calçada a alguns metros à sua frente.

Sua presença ao lado dela apresentará à sua filha a diferença. Você descobrirá o outro, em geral, e a identidade masculina, em particular. Através de você, aprende o que é um homem.

“Ela comparará todos os homens importantes em sua vida com você e imitará seus relacionamentos com eles com base no que vocês dois tiveram”, diz Meg Meeker.

“Se esses relacionamentos foram bons, ela escolherá um homem que a cuidará bem. Se você foi aberto e carinhoso, ela confiará nele. Se, por outro lado, você foi distante e pouco afetuoso, ela terá dificuldade em expressar seu amor”.

Desde a mais tenra idade, você que é o pai prepara sua filha para sua vida como mulher e como esposa, dando-lhe as chaves para construir seu relacionamento com os homens. É por isso que o modo como você se comporta com sua esposa é tão importante: sua filha não perde detalhes. Ela precisa ver que você valoriza e respeita a mãe dela. Ela deve ser capaz de tirar daí um modelo de relações harmoniosas para seu futuro parceiro.

Qualquer que seja a idade dela, sua filha precisa desesperadamente de segurança. Ela quer sentir que você é forte, que a protege, então deve estabelecer limites para ela. Em outras palavras, ela espera que você exerça sua autoridade sobre ela.

“Pedir a um homem que assuma sua autoridade hoje em dia é difícil porque é politicamente incorreto. Alguns psicólogos dizem que isso sufoca a criança”, lamenta Meg Meeker.

“No entanto, sua filha reconhece em você uma autoridade que ela não reconhece em mais ninguém. As meninas que vêm à consulta não são aquelas que têm um pai autoritário, mas aquelas que têm um pai que não se importa, que não discute com elas, que não as repreende quando tomam uma decisão ruim”.

Transmitir confiança

O psicólogo Yves Boulvin ressalta que “os pais costumam ter medo de ser firmes. No entanto, é suficiente exercer a autoridade com um coração e um olhar de amor”.

As regras que chegam vazias, sem amor, são as que produzem filhos rebeldes. Definir regras é “um ótimo trabalho no século 21”, diz Meg Meeker, que não hesita em dar exemplos muito precisos.

“Você terá que proibi-la de ir à uma festa onde as pessoas bebem, dizer a ela para se vestir decentemente, comentar a música que está ouvindo, pegar ela à uma da manhã na casa do namorado e pedir para ela voltar para casa”.

Um assunto mais delicado no qual é esperado que o pai fale: a sexualidade. “Os pais são as pessoas mais importantes nesta área. Mas o pai tem um impacto ainda mais importante na filha”, diz a pediatra. “Ela escuta todos os dias informações falsas sobre a sexualidade. Então você tem que corrigi-las”.

Há outra missão que também envolve o pai e não é uma das menores missões: a transmissão da fé. “As filhas adoram ter debates autênticos sobre a existência de Deus, sobre a fé, com o seu pai, e não apenas sobre questões morais. E, é claro, é importante que elas vejam como os pais rezam e praticam a fé”, diz o padre Alain Dumont.

Cabe também ao pai transmitir à filha confiança nela mesma. “Um pai é um garimpeiro que dá à sua filha um olhar gentil e a ajuda a identificar suas qualidades, a descobrir quem ela é”, explica Yves Boulvin.

Esse psicólogo fica surpreso com a incapacidade de alguns de seus pacientes de nomear pelo menos uma de suas qualidades. No entanto, eles se lembram das palavras de desprezo que receberam ou da indiferença de que foram vítimas.

“As palavras ofensivas de um pai deixam traços profundos e criam patinhos feios que não sabem que são realmente cisnes”, alerta.

Para evocar essa questão de auto-estima, Meg Meeker fala precisamente de humildade, no sentido cristão do termo: avaliar a si mesmo em sua medida adequada.

“A humildade permite que sua filha conheça seu potencial, saiba de onde ela vem, para onde está indo e viva na realidade. E não há dúvida em elogiar suas qualidades, sua inteligência, sua atitude aberta em relação aos outros…”.

Expresse seu amor

Por fim, não tenha medo de ser carinhoso e dizer à sua filha que você a ama! “Eu sempre pergunto aos meus jovens pacientes: ‘Quem quer você?'”, diz Meg Meeker. “A metade desses pacientes responde: ‘Minha mãe e meu pai, suponho’; um quarto deles me olha interrogativamente e o resto diz ‘eu não sei’”.

Você ama sua filha, para você é evidente, mas isso não significa que ela se sinta amada por você. “Um dia, vi uma jovem reivindicar um ‘eu te amo’ de seu pai”, diz o padre Alain Dumont. “O pai, surpreso, respondeu: ‘Mas você já sabe!’ E a filha dele respondeu: “Sim, mas eu adoraria que você me dissesse alguma vez…”.

O pai é uma mistura de força e ternura. “Toda uma arte”, diz Yves Boulvin. “Houve muita conversa sobre a libertação das mulheres, mas também devemos falar sobre a dos homens. Hoje em dia, ele não é mais aquele guerreiro como antigamente ele era, ele pode finalmente expressar sua sensibilidade, mostrar que ele tem um coração cheio de amor”.

Élisabeth Caillemer

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