Algumas pessoas pensam que estar em dúvida é quase estar sob o domínio do mal. No entanto, grandes santos viveram esta provação. Hoje em dia, ouvir sobre a experiência deles e meditar com a Palavra de Deus ajuda muitos cristãos a perseverar na fé a pesar das dúvidas, das fraquezas e dos questionamentos que podem surgir
A palavra “dúvida” pode significar duas coisas diferentes. Inicialmente, podemos duvidar de uma verdade. Como sugere a etimologia da palavra (dubius, duplo), quem duvida está na frente de uma estrada em forma de Y: não consegue saber se deve ir para a direita ou para a esquerda, dizer sim ou não a uma proposta. Hesitamos, somos céticos.
Mas a palavra também pode designar um questionamento que fazemos a nós mesmos sobre uma verdade à qual até agora aderimos sem hesitação. Como nos lembra o Catecismo da Igreja Católica: “A fé é certa, mais certa que qualquer conhecimento humano, porque se funda na própria Palavra de Deus, que não pode mentir” (§ 157).
Quando, no dia do batismo, o catecúmeno proclama sua fé em Deus – Pai, Filho e Espírito Santo – o seu “Eu creio” expressa uma certeza. Uma certeza que comumente se segue de muitas perguntas, contudo, se ele está pedindo o batismo, é porque conseguiu pôr um fim à sua hesitação. Ele crê!
Então, essa fé é chamada a desenvolver-se. Se ele continuar a estudar, encontrará muitas razões para crer as quais ele ainda não conhecia. Se ele reservar um tempo para rezar todos os dias, o Senhor revelará sua presença de forma ainda mais viva.
E se ele se encontra num momento de aridez, não há porque se preocupar, pois ele sabe que os iniciantes na fé recebem graças e consolações que o Senhor já não concede tanto para aqueles que alcançaram uma fé mais profunda.
Contudo, pode acontecer que, à ocasião de uma grande provação, ele seja questionado sobre algum aspecto da mensagem do Evangelho. Esses questionamentos não levam necessariamente o cristão a duvidar, e sempre há uma solução para remediá-los.
“Dez mil dificuldades não fazem uma única dúvida”
Alguns santos também experimentaram terríveis noites espirituais. Eles tinham a impressão de que Deus os havia abandonando, que eles não eram mais capazes de amar a Deus ou que estavam condenados. Eles precisaram implorar ao Senhor para não os deixar entrar em desespero.
O que os consolava era o fato de que eles tinham certeza de que, aceitando participar das agonias de Cristo, eles estavam junto a ele, salvando o mundo, lutando por todos aqueles que ainda são fechados à luz, para que obtivessem a graça de crer.
Quando Santa Teresa de Lisieux, nos últimos meses de sua vida, foi terrivelmente tentada a duvidar da existência do Céu, ela continuou a acreditar firmemente, se apegando às palavras de Cristo: “Eu prepararei um lugar para você” (Jo 14, 2). Como disse o cardeal John Henry Newman, “dez mil dificuldades não fazem uma só dúvida”.
Padre Pierre Descouvemont