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O que a Bíblia diz sobre o dinheiro

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Edifa - publicado em 15/06/20

Administração do dinheiro: a Bíblia, o melhor consultor financeiro

A Bíblia não é um manual de finanças, mas também contém muitas dicas úteis e práticas que podem ajudar todos a administrar melhor seu dinheiro e manter um relacionamento saudável com ele.

É pecado querer ganhar dinheiro (mesmo muito dinheiro)? Devemos evitá-lo, sofrer, fazê-lo dar frutos? O que é uma administração de dinheiro responsável? É um mal necessário?

Fazer de vez em quando um exame de consciência sobre nosso relacionamento com o dinheiro e os bens materiais pode ser uma boa maneira de administrar melhor nosso orçamento.

O padre Pierre Debergé, autor de O dinheiro na bíblia. Nem pobre … Nem rico, oferece alguns conselhos sobre o assunto.

O que a Bíblia diz sobre o dinheiro?

Nas primeiras páginas, as riquezas materiais aparecem num ângulo positivo. Elas contribuem para a felicidade da pessoa e são um sinal da bondade de Deus. No começo, são inclusive consideradas como uma recompensa que testemunha a fidelidade da pessoa, enquanto a miséria é percebida como um castigo divino.

É Jó que romperá o vínculo entre riqueza e fidelidade: por experiência, ele sabe que o homem rico não é necessariamente um homem justo, assim como o homem pobre não precisa ser um pecador.

Os profetas, por sua vez, enfatizarão protestos contra aqueles que enriquecem às custas dos pobres. Basta reler, por exemplo, o Livro de Amós. Pouco a pouco, o pobre homem, que era considerado um homem amaldiçoado, é visto como o favorito de Deus.

Os ricos estão condenados?

Não. Quando Jesus diz: “Mas, ai de vós, ricos!” (Lc 6,24), não se refere a uma maldição ou condenação, mas a uma denúncia.

Jesus lamenta o destino daqueles que estão tão satisfeitos que não esperam mais nada de Deus nem de seus irmãos.

A Palavra de Deus não condena a riqueza mas ela adverte contra seus perigos. Todos nós já experimentamos isso.

O dinheiro é uma coisa fascinante, nos faz cair rapidamente em suas redes, nos prende à uma sensação enganosa de segurança.

Sem perceber, se não mantemos a guarda, depositamos toda a nossa confiança nele. Ele nos proporciona uma felicidade ilusória e, dessa maneira, nos separa da felicidade autêntica.

É por isso que Jesus adverte: “Mas, ai de vós, ricos, porque tendes a vossa consolação!”

Como o próprio Jesus se posiciona em relação ao dinheiro?

Ele sabe o quanto é importante na vida cotidiana, como muitas parábolas demonstram.

Além disso, o Evangelho de São João menciona a existência de uma bolsa conjunta que Jesus e seus discípulos usam (Jo 12,6; 13,29), e São Lucas fala de algumas mulheres que seguiram Jesus e os Doze e “que os ajudavam com as suas posses” (Lc 8,3).

Jesus não mostra desprezo pelo dinheiro. Em si mesmo, o dinheiro não é bom nem ruim. É um instrumento, mas um instrumento perigoso, Jesus repete insistentemente.

Estas advertências são especialmente marcadas no Evangelho de São Lucas.

Por exemplo, na parábola do pobre Lázaro (Lc 16, 19-31): o homem rico nem sabia como ver o homem pobre que estava à sua porta; essa cegueira é o pecado mais sério deles.

O dinheiro, na verdade, nos impede de ver nossos irmãos. Constrói um muro que nos isola. Isso nos torna cegos e surdos.

Na parábola, Jesus diz através de Abraão que “mesmo que alguém ressuscite dentre os mortos”, os homens presos por sua riqueza não estarão convencidos de que devem mudar suas vidas. Eles estão surdos sobre todo o questionamento daquilo que vivem, não ouvem nada além da voz do dinheiro.

Esses perigos nos ameaçam a todos nós. Você não precisa ter muito dinheiro para se tornar prisioneiro dele!

Então, como nos libertamos das armadilhas do dinheiro?

Colocando Deus em primeiro lugar. Porque Jesus nos diz “por onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12,34).

Você tem que escolher “acumular riqueza para si mesmo” ou “ser rico diante de Deus”. Num caso, somos escravos de nosso dinheiro, isto é, de nós mesmos. No outro, aceitamos nossa pobreza fundamental para nos permitir ser enriquecidos por Deus.

Aprendemos a nos receber de Deus e, inseparavelmente, de nossos irmãos e irmãs. Essa escolha não é do âmbito moral, mas do âmbito da fé.

E como fazemos isso, especificamente?

Rezar e dar. Na oração, nos despojamos de receber a nós mesmos para recebermos Deus. Permitimos que o Espírito Santo transforme toda a nossa vida, incluindo as dimensões mais materiais.

Ao servir a Deus, aprendemos a não pedir dinheiro mais do que ele pode nos dar, a usá-lo na verdade daquilo que somos profundamente: os filhos de Deus.

Quanto ao dom, ele manifesta nossa liberdade em relação ao dinheiro. O Antigo Testamento apelava para dar daquilo que é supérfluo para nós. Jesus pede para dar até o que é necessário para nós.

Às vezes você precisa saber dar com loucura para poder dar o tempo todo aquilo que Deus espera de nós. Quanto? Cabe a cada um discernir isso.

Os Padres da Igreja ensinam que quanto mais pobres existem à nossa volta, mais temos que dar. Esse senso de partilha e de gratuidade é uma dimensão fundamental em toda a educação cristã. E isso acontece primeiro, dando um exemplo.

No fundo, o dinheiro não é um mal necessário?

Não! O dinheiro é um meio dado por Deus para ser colocado ao serviço de todos. Desprezar o dinheiro é desprezar àqueles que têm uma necessidade vital dele.

Sofrer o dinheiro como um mal necessário é cortar a vida espiritual de sua dimensão carnal.

É preciso ter cuidado com uma espiritualidade errônea que se recusaria a encarnar em todos os aspectos da vida humana!

Não podemos fingir que o dinheiro não existe. Ao contrário, devemos encará-lo como um lugar onde Deus nos chama para servir nossos irmãos.

No fundo, desprezar ou idolatrar o dinheiro é o mesmo porque, em ambos os casos, não colocamos o dinheiro no lugar certo e ignoramos nossa profunda vocação de servir a Deus e ao próximo com os meios que Ele nos dá.

Nos dois casos, existe uma separação entre nossa vida espiritual e nossa vida cotidiana: por um lado, Deus, por outro, o dinheiro em todas as suas dimensões (afetiva, social e política).

Uma vida espiritual autêntica não deve nos desviar de nossas obrigações concretas. A administração do dinheiro faz parte dessas obrigações.

Como a Palavra de Deus pode nos ajudar a administrar nosso dinheiro ou o de nossa empresa?

Estabelecendo a ordem das prioridades: somente a eleição de Deus pode dar a liberdade necessária a um uso justo das riquezas materiais. Esta liberdade se transformará na capacidade de dar e dar com alegria.

Mas dar não é suficiente. O dom não deve servir de álibi para nossa preguiça ou para nosso desperdício: não nos exime de administrar nosso dinheiro com responsabilidade.

Ninguém tem o direito de demonstrar leveza na gestão de bens materiais, especialmente quando, como é frequentemente no caso da Igreja, são bens que são fruto de doações ou recolhida de dinheiro nas missas.

Inclusive quando se trata de dinheiro que ganhamos com nosso trabalho, não podemos fazer qualquer coisa com ele. É sempre uma riqueza que nos é confiada pelo Senhor para o serviço de todos. Somos apenas administradores.

Como você definiria uma administração responsável, à luz do Evangelho?

Uma administração cujo primeiro objetivo é combater a pobreza. Ninguém deve se acostumar com o escândalo ou o pecado que a presença dos pobres representa, ou seja, aqueles que involuntariamente sofrem condições de vida intoleráveis.

Toda situação de pobreza sofrida é uma ofensa ao próprio ser de Deus. É algo que vai contra seu projeto, que quer que cada ser humano seja amado e reconhecido pelo que realmente é.

Christine Ponsard

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