Entre conversas e conselhos, como ajudá-lo(a), sem pressão, em sua busca de emprego?Com uma expressão abatida, Nicole serve um copo de água para a filha: “Você ficou feliz com a entrevista, minha querida?”. Manu se arruma e sai do quarto irritada. “Estou cansada de vocês me interrogando o tempo todo! Você vai ter notícias da minha busca por emprego quando elas chegarem e não antes!”.
Por várias semanas, Nicole e seu marido Nicolas não sabiam muito bem como agir com a filha mais velha.
A jovem passava por um período difícil de desemprego. Longos meses durante os quais seus pais aprenderam a detectar toda uma gama de emoções negativas em seu rosto.
Além disso, devido não conseguir mais pagar o aluguel, ela foi obrigada a voltar a morar com eles. Uma situação aceita apenas “porque é preciso se adaptar”.
Só que em casa, todos se sentiam no limite. E quanto mais tensa a atmosfera, mais Nicole e Nicolas duvidavam que pudessem dar à filha a ajuda que ela precisava.
As ajudas nem sempre bem-vindas
Os pais carinhosos tentaram de tudo, tudo o que pensavam ser possível. Infelizmente, cada movimento de sua parte provocava uma expressão cética na melhor das hipóteses e, na pior das hipóteses, raiva total.
O que eles não entendem é que despertam o constrangimento a cada conversa. Começando com o curioso conselho paternal: “A área de finanças não está recrutando. Por que você não muda de área?”.
Para Manu, essa afirmação soa muito negativa, independentemente da real intenção de Nicolas. “De repente, meu pai estava fazendo um balanço da minha jornada acadêmica. Como se tudo o que eu fiz até agora tivesse sido em vão!”.
No dia seguinte, Nicole tenta mostrar seu apoio: “Como? Ainda não te responderam?!”. Aparentemente inocente, essa exclamação não encontra um objetivo, como explica o dr. Michel Debout, psiquiatra: “Para alguém constantemente esperando por uma resposta, esse ‘ainda não’ é uma maneira de dizer: ‘Você não está se movendo o suficiente!’”.
Outros erros são as palavras não ditas: “Pude ver muito bem, por exemplo, que meus pais queriam me perguntar: ‘O que você fez hoje?’, esperando a resposta: ‘Eu tive três entrevistas!’ mas tudo o que eu tinha para dizer a eles era: ‘Eu tive cinco recusas!’”
Também aparecem as cutucadas com estilo: “Vi uma oferta de emprego na qual você pode estar interessado”. Ou, “Fulano me deu o cartão dele. Ligue para ele por mim”.
Se a pessoa interessada não pediu, essa pode ser uma atitude contraprodutiva, gerando pensamentos negativos no filho: “Mamãe e papai são muito agradáveis em me ajudar. Exceto que no fundo, eles duvidam que eu possa realmente fazer isso sozinho. Eles acham que eu ainda preciso deles. Como quando eu era criança”.
O que pode abrir a porta para a dúvida: “E se eles estiverem certos? E se, no fundo, eu simplesmente não conseguir um emprego sozinho? Ou mesmo seja incapaz de conseguir um emprego?”.
A atitude certa a ter com seu filho
Como acontece com muitos jovens que vivem a mesma situação, as reações de Manu mostram que sua primeira necessidade é sentir que seus pais confiam nela. Só há uma maneira de fazer isso: deixar livre.
Como o jovem se formou recentemente, agora é o momento dele decolar. Portanto, cabe aos pais respeitar o ritmo do filho. Ele sozinho, junto com Deus, controla o momento em que sua motivação é mais forte que os desafios do mercado de trabalho.
Como você pode ajudar seu filho a recuperar a autoconfiança? Precisamente, mostrando a ele que ele pode dar seus primeiros passos sozinho. Respeitar o ritmo é uma aposta que dará frutos assim que o jovem começar a reverter o mecanismo dos pensamentos negativos.
É a partir desse momento que ele poderá desenvolver com calma um projeto profissional. Logo a motivação, o impulso, o desejo, a coragem de tomar o controle de sua vida virão dele mesmo. Das profundezas de si mesmo.
Resta a Nicole e Nicolas fazer uma pergunta aparentemente paradoxal: “Como tirar Manu de seu isolamento, respeitando também sua necessidade de enfrentar esse período de sua vida sozinha?”.
Os jovens que estão procurando trabalho precisam reestabelecer um vínculo de qualidade com a família. “Os pais devem realmente alimentar a vida dos filhos com algo que não seja a procura de emprego”, insiste o Dr. Michel Debout.
Momentos simples, que nada têm a ver com o envio de um currículo, fazem o trabalho perfeitamente: caminhadas, um lanche juntos, idas ao cinema ou teatro, dentre outros.
O importante: que o filho não se sinta julgado por sua família, mas livre para discutir com seus pais, se ele desejar, os assuntos que lhe dizem respeito. Acima de tudo, ele deve se sentir livre para relaxar, pois precisa muito disso. “Infelizmente, a família nem sempre entende que você já está tentando o dia todo fazer seus amigos acreditarem que você está indo muito bem”, lamenta Manu.
E o comportamento do jovem desempregado?
Dito isto, os jovens desempregados também não teriam sua parte de esforço? Olhando para trás, Manu percebe que, por exemplo, ela deveria manter algumas de suas dúvidas para si mesma, em vez de compartilhá-las sistematicamente com as pessoas próximas a ela. Sem isso, como seus pais poderiam deixá-la relaxada?
Ao mesmo tempo, os jovens têm tudo a ganhar com a “descentralização”. Sua capacidade de organizar sua vida em torno das atividades de que gosta, de doar o seu tempo, mas também de se interessar pela vida cotidiana das pessoas ao seu redor, contribuirá bastante para equilibrar os relacionamentos na família.
Finalmente, o jovem também pode levar os seus pais a uma nova maneira de honrar São José e a Sagrada Família.
Durante uma novena, por que não acrescentar uma atitude contemplativa onde cada uma representaria o pai adotivo de Jesus desempregado, por exemplo, durante a fuga para o Egito?
Mesmo em circunstâncias trágicas, a Sagrada Família conseguiu introduzir a alegria em seu lar. Essa disposição da mente e do coração, segundo o padre Pascal Ide, “começa como humildade e termina como amor”.
Então, permitamo-nos rir em meio às preocupações, essa é a promessa de um final feliz.
Guilhem Dargnies