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A felicidade autêntica não se encontra numa vida perfeita

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Edifa - publicado em 26/08/20
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Na sua morte, o cristão espera encontrar a felicidade perfeita no paraíso. Mas como podemos viver felizes aqui e agora no meio do deserto e das tentações, num mundo ferido pelo pecado?

“Deus nos colocou neste mundo para sermos felizes e aproveitarmos a vida nele”, disse Robert Baden-Powell em sua última mensagem aos escoteiros. No Jardim do Éden, o homem vivia em comunhão com Deus e a natureza. Na sua morte, o cristão espera o paraíso. Mas como podemos viver felizes aqui e agora no meio do deserto e das tentações, num mundo ferido pelo pecado?

Três chaves necessárias para ser felizes

De acordo com o psicoterapeuta Thomas d’Ansembourg, a principal condição é aceitar a nós mesmos como fomos criados, com nossas qualidades e defeitos. Cabe a cada um, de acordo com sua vocação – empresário, pai ou mãe, pessoa consagrada – aprender a conhecer suas necessidades fundamentais. Então será mais fácil ousar ser você mesmo.

Depois, trata-se de receber a vida com seus imprevistos e seus acidentes. A felicidade não virá amanhã, quando um projeto essencial for realizado, mas deve encontrar seu lugar na vida diária. “Procure o mais vital, não mais”, como Baloo cantou para Mowgli na música do Livro da floresta.

Então, por que uma pessoa doente ou outra solitária mantem sua alegria de viver? Porque ela não se rebela contra o que acontece com ela. Embora nem todos sejam capazes de “aceitar as flores com espinhos”, como escreveu Teresa de Lisieux em seu poema Minha alegria, todos podem se recusar a ser identificados na identificação com o câncer, a viuvez ou com a miséria.

Segundo ponto de atenção: “a dependência do olhar do outro”, a droga que o psicoterapeuta Thomas d’Ansembourg afirma ser a mais frequente entre seus pacientes. “Você quer ser feliz ou dolorosamente se adaptar às regras?”, ele pergunta então.

A conformidade com os padrões mundiais apenas traz um falso prazer efêmero. Como a juventude passa, o desempenho intelectual falha, os celeiros queimam. E, no entanto, quantas pessoas sonham em ganhar na loteria, ser ricos, amados, ser “alguém”, como se não fossemos ninguém se não tivermos reconhecimento. E se a alegria fosse renunciar aos mandatos da sociedade de consumo?

Conhecer a felicidade é não conhecer uma vida perfeita

Trata-se de abandonar decididamente a idéia de que a felicidade depende das circunstâncias. Cedo ou tarde chega um sofrimento, uma morte, uma deficiência, uma crise de relacionamento. Como responder à agressão? Deixando de acreditar em Deus? Culpando o mundo inteiro por isso? Deixando nosso cônjuge?

Em vez disso, a pergunta a fazer é: “Como podemos ir ficando mais perto da fascinação da vida em vez de agravar a dor?”, diz Thomas d’Ansembourg. E é que, além disso, o sofrimento pode nos fazer crescer. Fazer que o luto de um cônjuge ou dos pais “ideais” seja o destino de toda vida feliz.

Conhecer a felicidade é não conhecer uma vida perfeita ou sem riscos. Quem sempre rejeita a oportunidade de ser feliz aprende mais a compensar seu desconforto do que a viver. No entanto, a felicidade não é um destino, mas um caminho diário.

A felicidade não é uma questão de acaso ou destino, mas um processo voluntário. Da mesma forma que não adianta lutar contra o tempo que passa, é inútil esperar que a vida seja mais branda. Quantos esperam o fim de semana ou a aposentadoria para serem felizes? Este estado de espírito é mantido na amargura e transpira na linguagem.

Palavras pessimistas, julgamentos peremptórios ou frases anódinas (“Não tenho nenhuma vontade que hoje seja segunda-feira”, “Boa sorte”), que produzem tristeza por si mesmas. Elas podem alertá-lo sobre um estado da alma que deve ser mudado. O psiquiatra Michel Lejoyeux propõe um truque simples para expulsar com eficácia as emoções negativas: sorria.

No entanto, embora alguns truques possam nos ajudar a ser felizes, o treinamento se estende por várias frentes e pode assumir a forma de uma luta interna. A ambição de ser feliz e, portanto, melhor, pode se desenvolver após termos identificado nossos maus reflexos. Que áreas merecem ser purificadas do meu pessimismo?

A busca por poder, as posses, as ligações afetivas? Sendo a felicidade uma arte de viver, ela pode residir inclusive nesse esforço de obtê-la, não como um objetivo em si, mas para amar melhor.

E se te falta amor …

Amar os outros também faz parte da “operação felicidade”. “Se não tenho amor, sou como um sino que toca ou um pires que faz ruído quando toco ele”, diz São Paulo. Ainda falta encontrar o lugar certo para o amor. Quem é o outro para mim? Ele é como meu irmão ou serve acima de tudo para preencher minhas ausências? Que papel posso desempenhar na sua felicidade?

Thomas d’Ansembourg defende uma “ecologia relacional” para cultivar encontros autênticos. Evitar pessoas tóxicas não significa se proteger delas, já que sua presença às vezes é inevitável. No entanto, saber se cercar de pessoas positivas também contribui para o clima de paz e bondade que a alma precisa para desenvolver-se.

Não é por acaso que os pais prestam atenção às pessoas com quem seus filhos andam. É a mesma luta pela nossa relação com o mundo: estar atentos às boas notícias na maré da atualidade é uma questão de “higiene de consciência”, analisa o psicoterapeuta, que nos convida a cuidar do que ouvimos e olhamos. As pessoas cujo universo está povoado de violência correm o risco de afundar ao menor acidente em seu caminho.

“Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a observam” (Lc 11,28). Aqueles que vieram para desistir de suas batalhas e inclusive de si mesmos para se abandonar nas mãos do Pai, não são os mais felizes? Ligados à fonte da vida, sua felicidade se torna inesgotável e seus males se transfiguram. Fazer parte da alegria de Deus ainda é o caminho mais seguro para a felicidade.

Olivia de Fournas

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