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Seu casamento não é como você sonhou? É melhor assim

Wedding engagement ring - Woman

© Fizkes

Edifa - publicado em 09/09/20

Não existe casamento perfeitamente feliz, pela simples razão de que no âmago de todo e qualquer amor sempre haverá alguma insatisfação. Mas não desanime, pois é possível fazer das imperfeições verdadeiras vantagens para o seu relacionamento

Eu me casei pensando que experimentaria a verdadeira felicidade. Minha solidão de menina finalmente iria acabar. Com meu marido, um jovem adorável que foi tão delicado durante nosso noivado, fiquei convencida de que conquistaria o relacionamento mais maravilhoso do mundo. Tinha certeza de que compartilharíamos tudo: nossas aspirações, nossos pensamentos, nossos planos, nossa fé. Não vou dizer que caí de um precipício, mas mesmo assim fiquei muito decepcionada. É importante dizer aos jovens que casamento não é o paraíso. Não foi o que eu havia sonhado que eu encontrei lá”.

Por que é tão complicado?

Fiz questão de citar os comentários de uma esposa que retratam uma reação frequente de qualquer um dos cônjuges após alguns meses ou anos de casamento. Contudo, para ser objetivo, devo dizer que às vezes tenho também ouvido palavras reconfortantes como: “Eu me casei pensando que era bom, mas é muito melhor!” oume casei de olhos fechados e não me arrependo!”. No entanto, temos que enfrentar os fatos: o casamento perfeito não existe. E o coração humano nunca diz basta! O amor promete fusão, mas os cônjuges permanecem dois, com um muro entre suas diferenças. Promete partilha, diálogo, mas existe o peso do cotidiano. Ele promete a disponibilidade total do outro, mas o outro é um ser livre que antes de tudo se pertence. Ele promete o conhecimento do amado, mas o outro permanece um mistério, cuja interioridade pertence a Deus. Ele promete felicidade, e encontramos doenças, ou a queda do desejo. Ele diz “sempre”, mas acima do casal está a espada da morte. O outro inevitavelmente decepciona um pouco. “Não há madeira sem nó, não há mulher sem defeito”, diz o provérbio espanhol… e cabe acrescentar: “Não há marido perfeito, nem mesmo o da vizinha”.

As razões desta insatisfação são múltiplas: o perfeccionismo que eleva demais as expectativas, o mito da completude que nos leva a pensar que o outro irá satisfazer todas as nossas necessidades, o mito da fusão, onde o casal sonha com uma união maravilhosa e sem conflitos como era a relação com a mãe desde a muito tenra infância, a idealização dos amantes apaixonados pela descoberta do amor… Aliás, muitas das desilusões da vida de casado podem ser explicadas por uma imaginação muito vasta nos projetos conjugais. Às vezes, mesmo que o casal afirme ser realista e inteligente, ainda vive a esperança secreta de alcançar um relacionamento “como nenhum outro”, unido contra todas as probabilidades para enfrentar o desafio do tempo.

Como lidar com as imperfeições da vida cotidiana?

Para lidar com essa insatisfação é preciso parar de se surpreender e perceber que a imperfeição faz parte da condição humana. Isso é verdade em todos os aspectos, e o amor não escapa dessa característica de finitude do ser humano. Aceitar-se limitado e aceitar os limites do outro é sair dos sonhos da adolescência. Tornar-se adulto é lidar com o imperfeito. Entenda que a verdadeira perfeição, a verdadeira grandeza, consiste justamente em viver o cinza do dia a dia: sair para o trabalho, ter a geladeira para encher, a casa para arrumar. Então é importante fugir de certas tentações, como sonhar com algum outro lugar onde a grama fosse mais verde, ou fazer comparações (“Ah! Se eu tivesse um marido como o seu…”), ou obscurecer todos os aspectos positivos e a maravilha de sua vida olhando só para o negativo, ou mesmo apenas resignar-se.

Quando a imperfeição se torna uma vantagem para o casal

Acima de tudo, é essencial dar sentido a essa imperfeição para perceber sua positividade e utilidade. Ela pode se tornar o motor da vida, nos forçando a seguir em frente, a melhorar. Ela nos afasta da monotonia: “Se fosse perfeito, eu ficaria entediada!”, disse uma esposa. Assim, ela aceita a imperfeição, permite ver o outro como ele é, e não como um príncipe encantado irreal, sabendo que o que ele é “vale a pena cada desvio”.

O fato é que o outro nunca poderá saciar o desejo do absoluto, o desejo de Deus que está no fundo de todos os corações. Ao pedir muito amor, ficamos inevitavelmente desapontados. Porém, o amor – com suas viravoltas, seus caprichos e suas fraquezas, mas também com seu encanto e suas riquezas – é exatamente o que é preciso para um ser humano esculpir e modelar seu coração insaciável, porque é destinado a um dia encontrar o Amor absoluto.

Padre Denis Sonet

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