Vamos fazendo uma corrente juntando as jornadas de trabalho, as atividades, os cursos, os compromissos, preenchemos todas as lacunas de nossa agenda e nossos filhos estão embarcando no mesmo navio. Livrar-se dessas pequenas pausas será necessariamente uma decisão firme, mas vital, porque o descanso não é um luxo: é uma necessidade.
Porém, quando justificamos nossa necessidade de descanso, frequentemente o fazemos com uma lógica produtivista mal disfarçada: “Eu descanso um pouco depois do trabalho para ser mais produtivo depois; eu recarrego as baterias; um cochilo e depois volto renovado, e nesse tempo, garanto, até reflito”. No entanto, descansar não é sinal de fraqueza.
Descansar é renunciar à ilusão de onipotência em nossa vida
Nossa necessidade de descanso não é apenas biológica. Por meio desse descanso, manifestamos e reconhecemos que nosso trabalho nos ultrapassa, que vai além da simples soma de recursos. Na família e na educação, como com todos que trabalham conosco, não vivemos com máquinas que devemos fazer funcionar, mas com pessoas. Livres. Nosso descanso é o sinal de que sabemos renunciar à ilusão de onipotência sobre nossas vidas e sobre aqueles que, de fato, dependem de nós.
Descansar, portanto, é reconhecer a liberdade das pessoas para as quais trabalhamos: “É verdade, trabalhei para você, mas você não é o resultado desse trabalho, como um veículo saindo de uma linha de montagem. Você é livre, você é capaz de mais do que eu imagino, você pode superar minhas previsões, trilhar caminhos que eu não tinha previsto, ainda mais longe de tudo que fiz por você”.
Abrir-se para o trabalho de Deus
Então, por que muitas vezes nos sentimos obrigados a nos justificar quando fazemos uma pausa? Temos a impressão de que, enquanto dormimos, tudo se desintegra. Sentimo-nos culpados por ver os outros trabalharem, por vê-los operar a grande máquina do mundo sem nossa ajuda. Como se tudo estivesse em nosso poder.
“Enquanto eu durmo, um trabalho é feito em mim e nos outros que não depende de mim”. Obviamente, é um pouco humilhante: “Acabei de tirar uma soneca, todo o mundo pode fazer isso, não tenho do que me gabar”. E isso significa que se está abrindo para o trabalho de Deus. É internalizar que, justamente, não estamos sozinhos. E é para fazer os outros entenderem: “se durmo, desligo, mesmo em plena luz do dia, mas não te deixo só, acredite em mim”.
Aqueles por quem somos responsáveis não estão sob nosso controle, mas nas mãos de Deus, e eles precisam saber disso, por isso é bom que nos vejam nos desconectar. O descanso não é um ato de fraqueza, mas um ato de fé. Naquele que mergulhou Adão num sono profundo. De onde Eva surge, através de quem a Criação conhece seu ápice. E só então Deus vê “que é muito bom”.
Jeanne Larghero