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E se você escrevesse uma carta de amor ao seu cônjuge?

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Rawpixel.com - Shutterstock

Edifa - publicado em 15/09/20

Na era digital, poucos casais ainda escrevem cartas de amor. Ainda assim, não há nada mais romântico do que uma doce carta de amor para compartilhar seus sentimentos

Xavier recebe a mesma mensagem de texto de sua esposa todas as noites: “Que horas você chega em casa?”. Estamos longe do romantismo e da delicadeza de Louis Martin, escrevendo à sua esposa Zélia: “Só poderei chegar a Alençon na segunda-feira; o tempo me parece longo, desejo estar perto de você”. O imediatismo e a tecnologia mataram a correspondência romântica? Talvez sim. Temos que enfrentar os fatos, as trocas conjugais agora são via SMS! Os cônjuges do século XXI estão se privando de uma linguagem única, que também é surpreendentemente esquecida pelo conselheiro matrimonial Gary Chapman no livro “As Cinco Linguagens do Amor”. Na verdade, a carta é uma linguagem preciosa para o nosso dia a dia e para honrar um casamento. “Escrever me permite sobreviver ao cotidiano”, resume Amicie, casada há quinze anos.

Escrever é dedicar tempo ao outro

A maioria dos cônjuges fica emocionado com a atenção gratuita que seu cônjuge lhes dá quando os escrevem. A carta tornou-se tão rara que proporciona, do lado do remetente e do destinatário, “um prazer feito de espera, de medo e expectativa”, sintetiza Paulo, casado há trinta anos. “Gosto da ideia do tempo gasto com a minha esposa e do tempo que ela gasta comigo quando me escreve. Tenho que achar o selo, pegar o envelope, pegar a caneta, escrever o endereço, o próprio processo de escrever a carta, tudo isso mostra ao outro que reservei tempo para ele”. Paulo, que é vendedor, aproveita suas viagens de negócios para sempre enviar um cartão à esposa. Uma maneira tão simples, mas ardente e profunda de manter e construir relacionamentos. É uma forma acessível de comunicação, mesmo para o cônjuge que tem medo de não saber escrever.

Porque um detalhe desconhecido do outro pode emocionar mais do que uma grande declaração literária. Uma carta nunca é simplória, mesmo que fale sobre o quotidiano, “desde que não trate apenas dos fatos, mas também dos sentimentos pessoais que os concernem”, analisa Bénédicte de Dinechin, conselheira matrimonial. Nesse caso, ela fortalece o relacionamento! Joana guarda com carinho uma carta do marido, na qual ele falava da sua santa padroeira: “Esta foto me lembra o quanto preciso de sua força”. Uma frase que a tocou muito mais do que se ele tivesse escrito: “Joana d’Arc é forte como você!”.

Uma carta nunca é algo sem importância

A função tradicional da correspondência romântica continua sendo a de afastar a ausência. Axelle, cujo marido militar viaja regularmente por vários meses consecutivos, compartilha seu cotidiano através de cartas semanais para manter contato com seu marido e para que seu retorno não seja tão impactante. Por sua vez, Gwénola, que viajou sozinha de férias com os filhos durante um mês no verão, comenta que o tempo passa mais rápido quando recebe uma carta do marido. Ela adora viver o ritual de tocar no envelope, abri-lo e, sozinha no quarto, saborear suas palavras. “Ao lê-lo, tenho explosões de gratidão, pelas lembranças dos bons tempos que voltam à minha memória. É como se toda a distância tivesse desaparecido”. Ela também tenta agradá-lo, quando responde a seu marido Eric. Tudo se transforma num círculo virtuoso, diz Bénédicte de Dinechin: “Escrever uma carta que reconheça o valor do outro gera um impacto positivo sobre nós mesmos, porque aquele que escreve se coloca em espírito de doação e acolhimento e isso alimenta o casamento. Quem escreve expande o seu coração e se torna o primeiro beneficiário da própria generosidade”.

Pauline e Luís também gostam de inserir ritmo no seu relacionamento através de cartas que enviam um para o outro no seu retiro anual. Uma longa carta, escrita como em um ritual, de um lugar onde eles estão de frente consigo mesmos e podem escrever em verdade. Eles evocam seu relacionamento com Deus, seus compromissos, seus projetos e sonhos e sugerem caminhos para melhorias.

A carta também ajuda a evitar alterações de voz no caso de um conflito e em períodos harmoniosos, ela é usada para se mimar a quem se ama. Evelyne e Estéfano escrevem um para o outro pelo menos uma vez por mês. Esse hábito deu um novo impulso ao casal depois que os filhos deixaram o ninho familiar. Estéfano explica: “A carta desenvolve nossa relação de amor, mas não apenas no sentido romântico. Ela enriquece o conteúdo da comunicação conjugal, e ousamos abordar coisas que nossas personalidades pouco inclinadas ao conflito tenderiam a silenciar. Este método ainda dá ainda mais frutos porque é sempre seguido por uma troca verbal. Porque a carta não substitui o diálogo, ela o prepara ou o revive”.

Um prolongamento da fidelidade prometida no dia do casamento

Para alguns casais, a carta permite reler a sua vida, encorajar-se, alertar-se para uma ferida, expor as suas fraquezas, perdoar-se ou marcar a singularidade da sua relação. Casado há 22 anos, Bruno entrega cartas à esposa duas vezes por semana, quando volta do trabalho. Em sua viagem diária de trem, ele lê seu breviário e depois escreve em uma folha A4. “Às vezes é algo curto e mundano, outras vezes intenso e profundo, e ter esse encontro com ela em meu diário amplia a fidelidade prometida no dia do nosso casamento”, disse o pai de quatro filhos.

O mesmo acontece com Amicie e Jean. Eles reservam meia hora todas as segundas-feiras, para cada um escrever uma carta. “Qual é a utilidade de escrever para o papai, se você o vê todos os dias?”, pergunta a filha de 12 anos. O casal sabe que o amor mútuo é a sua prioridade! Eles também acumulam sinais de amor nos quais podem confiar durante os momentos mais difíceis de sua vida de casados. Amicie se permite ser poética, escrever elogios ou criticar. Sozinha na frente do papel em branco, ela aprende a argumentar e a desenvolver seu pensamento. Ao contrário das mensagens de texto, ela escreve sempre sentada, para colocar seus pensamentos para baixo! Cartas de perdão, censura ou agradecimento… esta ex-disléxica aprendeu assim a expressar as suas emoções.

Escrever, por fim, permite que você projete seu relacionamento no futuro. “A carta de amor, mesmo que abordemos um assunto difícil, insere a nossa relação entre passado e futuro, porque sempre começa com um agradecimento dirigido ao cônjuge e termina com a promessa de um “pequeno passo” que nos comprometemos a dar em breve”, explica Evelyne. Essa impressão eterna de correspondência romântica inscreve o relacionamento no tempo. “Daqui a quarenta anos, não conseguiremos encontrar uma caixa de WhatsApp, posts do Facebook ou SMS no sótão. Mas podemos encontrar nossas cartas”, entusiasma-se Paulo. “E então, que emoção, que deslumbramento!”

Olivia de Fournas

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