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Bom relacionamento a dois: o melhor que os pais podem oferecer aos filhos

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Edifa - publicado em 16/09/20
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A ternura e o carinho entre o casal constituem a mais perfeita escola de vida e de amor para os filhos

Thomas, de 10 anos, estava com dificuldades para dormir à noite. Se levantava dez vezes, com sede, assustado ou ansioso. A psicóloga consultada pediu aos pais que fossem juntos dar um abraço e um beijo no filho todas as noites antes de dormir, dizendo-lhe que o amavam, mas também que se amavam e sempre se amariam. Thomas recuperou o sono, o sorriso e ainda passou a ter melhores notas na escola. Algumas discussões que ele presenciou entre os pais e a história de um colega de classe cujos pais estavam se divorciando foi o que lhe causou preocupação.

Michel e Amélia comentam a esse respeito: “Nossos filhos são radares. Se algo está errado conosco, a pesar de nos esforçarmos para que eles não vejam nada, eles “sabem”. O mais novo fica “chorão”, a irmã diz “não” para tudo, os dois mais velhos brigam entre si. Até que, um dia um pedido discreto de perdão entre nós trouxe paz às crianças”. Com Marcos e Nathalia, existem dois momentos “reveladores” da harmonia conjugal: o carro e a oração, onde pais e filhos estão bem próximos. “Se as crianças sentem uma tensão entre nós, nosso ambiente vira um campo de batalha. Quando o casal se ama, os filhos colhem as recompensas. Mas quando o amor conjugal bebe o cálice, são os filhos que fazem o “brinde”.

O amor dos cônjuges, terreno fértil para a tarefa de educar

Devido a uma imagem falsa atribuída aos casais com filhos, muitos jovens fracassam nas tentativas de construir a sua própria vida familiar, ainda que tenham recebido uma “boa educação” que lhes proporcione sucesso social e profissional. “Durante toda a minha infância”, lembra Patrícia, “ouvi minha mãe criticar meu pai, tanto que tinha uma imagem muito negativa dele e, inconscientemente, de todos os homens. Eu não poderia me casar até que a imagem do meu pai estivesse “restaurada””. O olhar positivo que os cônjuges têm um pelo outro é essencial para que uma criança se identifique com seu pai ou mãe.

O amor dos cônjuges não isenta os pais da tarefa educativa, mas é o solo fértil onde os melhores frutos podem ser cultivados. Helena testemunha: “O fato de me sentir amada incondicionalmente pelo meu marido, inclusive quando nos desentendemos ou nos momentos de imperfeição, me fortalece para amar meus filhos sem restrições, sem buscar inconscientemente capturar seu amor para mim mesma. Eu me apoio no amor de Michel para extrair o bem para a educação dos nossos filhos”. “Se nossa filha Margarete não sente que estamos unidos”, testemunham Paul e Isabelle, “ela se isola de nós, ou se aproxima de um rejeitando o outro, fazendo apenas o que deseja. Mas assim que ela sente que estamos em harmonia, ela fica carinhosa e vem “recarregar suas baterias” conosco”.

O grande medo dos filhos é ver os pais separados: “Como escolher entre mamãe e papai?” dizem as crianças. “Não importa o quão errados eles estejam: eu preciso de ambos”. “Se eles terminassem, para onde eu iria?”. O primeiro elemento basilar que a solidez do amor conjugal traz aos filhos é o sentimento de segurança, essencial para embarcar na vida sem medo. No caso de Michel e Amélia, ambos com temperamentos fortes, o ambiente nem sempre é pacífico. “Mas nossos filhos sabem que nosso casamento é um sacramento, que é indissolúvel para nós. Isso permite que eles vejam ​​nossas discussões com um pouco mais de calma”. Mas como é delicada a transição da comunhão conjugal para a comunhão familiar! Marido-mulher, pai-mãe, pais-filhos: essa relação triangular deve ser reajustada constantemente, como explica a psicanalista Annie de Butler.

Conheça-se bem para corrigir seus excessos

Michel e Amélia têm como prioridade se certificar de nunca colocar o cônjuge em cheque, falando algo que seja contrário ao que o outro pensa, quando um filho pede permissão ou um conselho. Isso é importante para que a criança não fique dividida entre duas opiniões e não brinque com as discordâncias do casal para atingir seus objetivos. Por outro lado, a complementaridade também ajuda na educação. Sabendo que se altera facilmente com o filho, Michel frequentemente dá a mão à esposa para que ela possa refletir melhor sobre o pedido, a proibição ou a exigência. Com Michel, o humor permite neutralizar conflitos potenciais: “Virou piada: assim que surge uma contradição entre Amélia e eu, as crianças dizem em coro: “Mas a mamãe falou que…” e todo mundo ri muito disso! Humor e humildade têm a mesma raiz, não é mesmo?

É preciso também “conhecer-se bem para corrigir seus próprios excessos, como a vontade de fugir de responsabilidades ou de confiar demais nos outros”, diz Helena. E continua: “Um bom teste consiste em apontar as situações em que é necessário escolher entre marido (ou esposa) e filhos, e perceber qual deles costumamos privilegiar. Eu prefiro me recusar a ir a um restaurante para cuidar das crianças. Minha irmã, por outro lado, tem muitos gastos com a babá e as crianças estão sempre reclamando”.  Mas o meio-termo perfeito nunca é alcançado. O essencial é não se iludir, pensando que família equilibrada se constrói em um ano, mas ter consciência de que é preciso adaptar-se constantemente às mudanças de vida, se consolidando e se reparando sempre que necessário.

Passar um tempo à dois é essencial para o equilíbrio da família

Outro imperativo para os cônjuges: ter momentos a dois. “Conseguimos sair da cidade para um fim de semana romântico”, diz Cristal. “Assim que chegamos ao nosso alojamento, meu primeiro instinto foi ligar para saber se as crianças estavam bem. Meu marido conseguiu me dissuadir, mostrando que eles sabiam como entrar em contato conosco se algo desse errado. Eu percebi que tinha muita dificuldade em “deixa-los ir” de meus pensamentos. Estando mais próxima de meu marido encontrei uma distância mais justa dos filhos. No fim, tudo se encaixa quando balanceamos bem o peso de cada coisa!”.

Sobre isso Christophe aponta para o perigo do celular, esse “cordão umbilical virtual”, que faz com que as crianças estejam presentes em todos os lugares. Elas querem saber o tempo inteiro se sim ou se não, e isso na verdade as impede de crescer num aprendizado autônomo. “É incrível como um pouco de distância, silêncio e tempo nos fazem ver as coisas com mais clareza, relativizar as dificuldades com tal e tal criança, e fazer emergir soluções para conflitos a serem resolvidos”, comenta. Cristal também alerta para os “bons motivos” que nos impedem de encontrar tempo para o casal. “Olhando mais detalhadamente as obrigações que deveriam ocupar todos os meus fins de semana até o fim do ano, percebi que de fato, minha presença com as crianças nem sempre era essencial”. Teobaldo e Benedita, por sua vez, fazem questão de se levantar meia hora mais cedo que as crianças para um café da manhã a dois, essencial para o equilíbrio de todos.

“O amor só pode ser aprofundado e preservado pelo Amor”

A ternura recíproca dos cônjuges – um sorriso, um gesto afetuoso – afeta a vida da família. Inconscientemente, os filhos imitam essas atitudes, entre si e em relação aos pais. É impressionante ver Beatriz de 15 anos, capaz, sem falsa modéstia, de declarar na frente dos amigos “Mamãe, eu te amo”. A reação dos amigos que presenciam a cena é: “Você tem uma ótima mãe!”.

Pauline, cuidadora de lobos diz: “Gosto de passar a noite vendo meus pequenos com suas famílias para ajudá-los a preparar suas rotinas. Percebi que entendo melhor a criança quando observo os pais. Uns são atenciosos com os outros, valorizam, agradecem; outros não sabem como se comunicar ou alfinetam gratuitamente os outros. Costumo encontrar essas atitudes também nos filhotes da matilha!”.

Mas, para além dos meios humanos, “o amor só pode ser aprofundado e preservado através do Amor”, ensinava São João Paulo II. “Se cada um de nós não reservar um tempo para matar nossa sede na Fonte, todos os nossos relacionamentos entre cônjuges e filhos murcharão como uma planta sedenta”, testemunha Christophe.

Sabine Bidault

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