Das moedinhas colocadas embaixo do travesseiro, ao dinheiro concedido para uma saída ao cinema com os amigos, os pais sempre encontram situações em que precisam dar dinheiro aos filhos. É importante, portanto, que os filhos sejam educados sobre como lidar com o dinheiro. “Fazemos doações ocasionalmente, conforme necessário”, diz Blandine, mãe de quatro filhos. As quantias fixas dadas regularmente podem dar a impressão de que os pais tem a obrigação de lhes dar dinheiro e que eles têm o direito de exigir.
Muitos pais concordam em dar dinheiro aos filhos para pequenas despesas. Esta é uma prática simples que pode ensinar as crianças sobre o valor do dinheiro e educá-las para serem independentes, mas sob certas condições.
Ensine a criança a distinguir uma necessidade real de um desejo passageiro
“A mesada não deve ser apresentada como uma renda, fazendo com que a criança acredite que o dinheiro está caindo do céu e que as despesas são óbvias”, disse o psicoterapeuta Thomas d’Ansembourg. A doação sob demanda evita essa armadilha: “Ela abre o caminho para o diálogo e oferece aos pais a oportunidade de ensinar seus filhos a distinguir uma necessidade real de um desejo passageiro. Eles assim os treinam para o discernimento, para o conhecimento e para o autodomínio”.
Este processo requer disponibilidade, às vezes associada a uma boa dose de paciência. Nem sempre é fácil falar com um adolescente que adora argumentar. “Eles podem ser persuasivos quando querem alguma coisa”, diz Laura, mãe de cinco filhos. Ouvi-los é sempre vital e não nos custa muito. Aos pais cabe explicar que às vezes é preciso desistir de certas compras ou adiá-las para outra ocasião. “A liberdade não consiste em satisfazer todos os nossos desejos, mas em poder expressá-los, às vezes restringi-los ou adiar a sua satisfação, esperando o Natal ou um aniversário”, diz o Padre Lancrey-Javal. Mas a paciência é uma virtude que está desaparecendo nesta geração de “quero tudo, no agora”, que é o principal alvo das operações de marketing bem conduzidas. Aos seus quatro filhos adolescentes, Paulo repete incansavelmente esta frase de sabedoria que seu avô adorava recitar para ele: “O desejo da espera supera o delírio da possessão”. Meditemos sobre ela!
A liberdade de gastar ou não
Dar dinheiro sob demanda também permite um controle mais rígido sobre seu uso. “Eu concordo em financiar uma ida ao cinema se o filme for adequado”, explica Blandine. Para Nathalie Goursolas-Bogren, autora de “O manual da mesada” (em tradução livre), no entanto, essa vigilância deve deixar margem para erros: “A criança vai, por exemplo, aprender com a decepção por ter comprado um item barato que não cumpriu com o que prometia. O que vai fazê-la crescer”. Agnes é uma mãe que luta para que seu filho não gaste tudo em doces: “Eu tento persuadir o meu filho para que ele não compre doces demais. Também o ensino a não gastar imediatamente o dinheiro recebido. Ele tem a tendência de correr para a primeira coisa que vê quando entramos em qualquer loja!”.
Outro ponto de atenção, na verdade, é a relação da criança com o dinheiro. “Rapidamente vimos que o cofrinho parecia estar furado!”, ri Laura. Mãe de três filhos, Lorena confirma: “Se eu der uma nota de 10 ao meu filho mais velho, ele tende a gastar 12!”. Por meio do diálogo, esses comportamentos podem mudar. “No início, o dinheiro representa a liberdade de comprar o que quiser. Em seguida, vem a liberdade de não gastar”, garante Nathalie Goursolas-Bogren, consultora educacional, especialista em parentalidade.
Um contrato entre pais e filhos
O que pensar então dos pagamentos regulares, adotados por muitos pais? O processo tem seu lado positivo. A criança ou adolescente aprende a se planejar, guardar e sentir frustração. As crianças terão que pensar nas despesas, fazer escolhas, porque sabem que seus recursos são limitados. De fato, a regularidade inicia a gestão de um orçamento. “Dar regularmente fortalece a criança”, observa Laura. Se ela quer ir ao cinema pela terceira vez no mês e sua carteira está vazia, aprende lições para o próximo mês, ao contrário daquele que recebe sob demanda”.
Também não lhe dê adiantamentos. “O objetivo da mesada regular é ensinar a criança a planejar seus gastos e entender que, quando gastamos nosso dinheiro, ele acaba! Se uma criança está acostumada a receber adiantamentos, ela não hesitará em se endividar na vida adulta”, alerta Nathalie Goursolas-Bogren, embora admita excepcionalmente essa prática. “Concordo em dar antecipadamente se o projeto tem fundamento”, admite Agnes. “Como posso recusar um adiantamento a uma criança que deseja dar um presente de aniversário à irmã ou a uma prima?”.
Outra vantagem de uma doação regular é a garantia de igualdade de tratamento para todas as crianças. “Desde o momento em que entraram na escola, nossos filhos recebem uma quantia mensal idêntica com base em seu nível de escolaridade”, diz Paulo. Como evitar, neste caso, que a criança acabe por considerar esses valores como um direito adquirido? Para o psicólogo Didier Pleux, “a regularidade deve estar atrelada a um contrato com a criança. Se ele não fizer um esforço em sala de aula e em casa, os pais podem parar temporariamente de dar a mesada”. Uma forma de indicar que regularidade não rima com automaticidade.
Como mudar da doação sob demanda para a doação regular
Doação sob demanda ou pagamento regular, como fazer a escolha certa? “Acima de tudo, é importante não dar muito”, insiste Nathalie Goursolas-Bogren. “A criança não deve ser capaz de satisfazer todos os seus desejos. Ela tem que aprender a sentir frustração. A mesada deve ser usada para criar liberdade de escolha nas compras pessoais, mas sem transformá-las em um consumidor compulsivo que não é capaz de recusar nada”.
Durante os anos escolares, por que não considerar a doação sob demanda? Mais propício para discussões, esse modo de proceder oferece uma oportunidade de educar seu filho em sua relação com o dinheiro. É possível estabelecer, no ensino médio, uma regularidade para o empoderamento gradual que será necessário para o período de faculdade. Pierre, pai de três filhos, optou por este método: “A doação sob demanda permitiu-me estabelecer uma relação de confiança com os meus filhos. Quando os filhos mais velhos entraram para o ensino médio elaboramos juntos um orçamento. Pedi que me dissessem se um certo valor era suficiente ou não”. Para Thomas d’Ansembourg, avaliar junto com o filho as suas necessidades é um dos sinais do sucesso de uma boa educação. Ouvir um filho dizer: “não gastei tudo, aqui está o que sobrou”, é um grande presente para um pai.
Resta esclarecer que a mesada não é de forma alguma uma obrigação. “Dar mesada para seu filho continua sendo uma opção educacional”, observa Nathalie Goursolas-Bogren. “É uma boa maneira de ensiná-los sobre o dinheiro, mas certamente há uma maneira adequada para cada família. Alguns pais não o fazem por convicção pessoal, outros porque não podem pagar”. Seus filhos serão, portanto, menos felizes? “Você pode amar sem dar dinheiro”, diz o Padre Lancrey-Javal. No final do Evangelho de São Lucas, antes da Paixão, Jesus pergunta aos seus discípulos se, quando estavam sem dinheiro, “sem porta-moedas nem sandálias”, havia lhes faltado algo. “Nada nos faltou”, eles respondem. Que os filhos ao se tornarem adultos possam responder o mesmo aos seus pais!
Élisabeth Caillemer