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Devemos reproduzir nos filhos a educação que recebemos de nossos pais?

THREE GENERATIONS

sirtravelalot | Shutterstock

Edifa - publicado em 13/10/20

Todos nós recebemos uma educação que pode apoiar ou contradizer a educação que pretendemos dar aos nossos filhos. Na realidade, nem a rejeição sistemática da educação recebida, nem sua reprodução cega trazem benefícios ao desenvolvimento de nossos filhos.

Não me sinto muito livre no que diz respeito à educação que recebi dos meus pais”, suspira Leona, de 35 anos. Como muitos pais, ela tenta não repetir os erros que a fizeram sofrer. Sua mãe muitas vezes se esquecia dela na saída da escola, e por isso hoje ela superprotege o filho. Conclusão: ele tem medo de tudo e não quer emprestar nada a ninguém. “Eu sinto que estou no controle”, resume a jovem. Da mesma forma, Jean, que sofreu muito com os conflitos e brigas entre seus irmãos costuma dizer repetidamente para seus filhos “Eu os proíbo de discutir”, o que aumenta em dez vezes as desavenças entre irmãos e irmãs. Ao se concentrarem excessivamente nas armadilhas educacionais que desejam evitar, esses pais obtêm o efeito oposto e caem em uma armadilha que os deixa ligados ao sofrimento inicial.

Referência

No manual de educação Pais sob influência, a romancista Cécile David-Weill aborda o assunto. Enquanto aponta a armadilha da oposição à educação recebida, ela também mostra os perigos da reprodução cega da educação dada pelos nossos pais. Em ambos os casos, o pai continua tendo a educação dos próprios pais como única referência, ao invés de focar nas reais necessidades do filho. Segundo a autora, desvencilhar-se de uma reprodução indiscriminada da educação parental só é possível analisando nossa relação com o que recebemos. Portanto, ela incentiva a todos a fazerem uma “análise de sua educação”.

Cada um pode identificar os comportamentos parentais que os fizeram sofrer e dos quais gostariam de poupar seus filhos, mas também identificar aqueles que os fizeram crescer. Analisar os pontos positivos e negativos da nossa educação e principalmente os pontos que queremos evitar ou repassar, permite-nos separar o joio do trigo e fazer uma síntese construtiva. Por exemplo, pais rígidos foram capazes de transmitir ao mesmo tempo um grande senso de justiça. Portanto, não se trata de rejeitar completamente uma educação que nos moldou e que certamente não pode ser totalmente boa ou má. Essa tese é também confirmada pela psicóloga Marie Pascal: “Trata-se de acertar contas simbolicamente com a educação de seus pais. Entre “Honre seu pai e sua mãe” e “Um homem deixará seu pai e sua mãe”, há um bom equilíbrio a ser encontrado”, comenta.

Liberte-se das feridas da infância e escolha suas prioridades educacionais

Essa reflexão é necessária principalmente quando você guarda rancor contra seus pais. A crítica recorrente à educação dos pais levanta a questão do perdão e faz pensar sobre qual exemplo eles mesmos estão dando aos seus filhos. “É uma questão de substância, de fé e de consistência na vida”. Madre Teresa não disse: “Se você quer paz no mundo, vá e faça as pazes em sua família”?”, pergunta a psicóloga. O Padre Xavier Cormary especifica como a cadeia do perdão pode libertar ressentimentos e culpas: “Uma relação profunda com Deus permite-nos receber o perdão, para podermos perdoar a nós próprios, antes mesmo de perdoar os nossos pais, e para finalmente poder pedir perdão com simplicidade aos seus filhos”. Essa visão retrospectiva e o fato de perdoar podem ajudar a viver o luto da perda de pais ideais que muitos gostariam de ter tido.

Alma que nos foi confiada

Em um segundo momento, podemos redefinir a ideia que fazemos sobre o papel dos pais: a criança é, como sugere Montaigne, “um vaso que enchemos ou um fogo que acendemos”? Ela é uma alma que nos foi confiada ou um ser a ser disciplinado de acordo com a nossa boa vontade? Pais intransigentes correm o risco de exigir filhos irrepreensíveis. Escolher as batalhas certas é essencial para se manter eficaz na educação dos filhos, especialmente durante a adolescência. Ponto importante para Cécile David-Weill, que pensa que muitos pais “usam sua autoridade em assuntos secundários como na hora de dormir, da alimentação ou durante as brigas entre irmãos e irmãs, o que polariza a troca entre pais e criança em torno de regras, em vez de permitir-lhes um debate substantivo”. Identificar os pontos inegociáveis ​​da família, e aqueles em que a flexibilidade continua sendo possível, permanece, portanto, um passo essencial.

Conversem enquanto casal e confiem um no outro

Nessa análise, as conversas com o cônjuge permanecem insubstituíveis. Ele tem a distância e a proximidade necessárias para perceber aquilo que na educação dos sogros não foi tão bom. O marido de Leona a fazia refletir sobre a ligação dela com o seu pai, que a havia abandonado, e uma frase que ela repetia várias vezes para o filho: “Ninguém é confiável”. Por sua vez, o marido também herdou uma educação que pode ofender ou reforçar aquela que se pretende dar. O diálogo deve ser constantemente retomado no centro do relacionamento à dois porque, segundo Marie Pascal, “as questões-chave da educação são descobertas ao passo que o filho cresce”. Ela aconselha pais solteiros a enviarem seus filhos para conversar com outros “tutores” como amigos bem-intencionados, líderes de grupos religiosos, familiares ou referências espirituais, que às vezes podem compensar um pai ausente ou falecido.

Responsabilidade

Cécile David-Weill é bastante rígida com os pais que ficam paralisados ​​pela ideia de se sair mal. Não querendo repetir erros ou cometer novos, muitas vezes eles próprios são vítimas de uma educação excessivamente autoritária, eles desistiram de educar. Se recusam a assumir total responsabilidade e muitas vezes se escondem por trás de uma máscara de total confiança em seus filhos. Essa atitude pode levá-los a sentir “um vazio emocional, uma sede de reconhecimento; a ter relações humanas delicadas, falta de autoconfiança, um comportamento agressivo, uma preocupação permanente”, especifica a romancista.

Claro, os pais não são “especialistas” em educação, mas devem confiar em si. E com razão, “o casamento consagra o casal à educação”, como nos lembra São João Paulo II na Familiaris consortio. O Padre David Lamballe explica: “No casamento, os pais foram enriquecidos com a graça do Espírito Santo para ajudar os filhos no seu crescimento humano e cristão. Um pai pode ser o culpado, ter um relacionamento ruim com um filho e cometer erros, mas Deus o equipou para escolhê-lo como o educador dessa criança, e ele não faz as coisas ao acaso! Essa palavra que alivia a culpa pode ajudar os pais que não se sentem à altura da tarefa”. “Você não precisa ser um pai perfeito para educar seus filhos”, confirma Cécile David-Weill. É um engano fabricado pela sociedade que quer apagar nossas fraquezas e nos empurra a esconder nossas falhas.

Cuidado para não se anular nem buscar a onipotência

Alguns pais pensam que vão educar seus filhos de uma maneira melhor do que a que foram educados, enquanto outros, muito conscientes de estarem marcados pelo pecado original que se repete de geração em geração, permanecem fatalistas, convencidos do contrário. “Na Bíblia, Jeremias especifica que “os pais comeram uvas verdes e prejudicados ficaram os dentes dos filhos” (Jeremias 31, 29), diz o padre Xavier Cormary. No entanto, acrescenta de imediato que esta palavra convida à verdadeira liberdade, porque os pais têm sempre a opção pessoal de discernir para se libertarem das feridas familiares.

A dependência voluntária de Cristo não nos coloca, portanto, sob uma influência externa que nos impede de pensar por nós mesmos. Com efeito, segundo o sacerdote, “Cristo, perito em humanidade, quer a felicidade do homem. Paradoxalmente, ele nos chama à liberdade”, liberdade que se enraíza em nossos corações, como explica a encíclica Gaudium spes: “No fundo de sua consciência, o homem descobre a presença de uma lei que ele não se deu, mas à qual é obrigado a obedecer. […] Porque é uma lei escrita por Deus no coração do homem”. Portanto, não há fatalidade.

Humildade

Qualquer que seja a educação que receberam, os pais devem cuidar para não ficar nem na anulação de si, como foi o caso com os da “geração de 68”, nem na onipotência. Em vez disso, é para eles trilharem um caminho de humildade, aceitando sua pobreza educacional. “O primeiro erro dos pais é pensar que é sua responsabilidade incutir felicidade e autoconfiança em seus filhos”, escreve Cécile David-Weill. “Quando seu dever se limita a tentar reunir as condições para que eles possam adquiri-los por conta própria”. Educar não significa etimologicamente “conduzir para fora” ao invés de desejar se apropriar dos filhos? “Nós, pais, somos apenas uma correia de transmissão do amor do Pai”, acrescenta Leona. Um psicólogo a ajudou apontando que os filhos sempre se constroem com os pais que têm.

Convertendo-se, os pais edificarão sua descendência

Não existe uma educação pronta, não há uma receita educacional que sirva para todos. Cada pai, condicionado, mas não determinado por sua própria educação, fará o melhor que puder com o que recebeu, de acordo com as necessidades únicas de seus filhos. As armadilhas às vezes são semeadas pelo próprio cônjuge e pela sociedade, que nem sempre tem as mesmas prioridades. A educação continua a ser fruto de “um triplo confronto entre o Evangelho, que pode tornar-nos mais humanos, o ensinamento da Igreja, e o bom senso humano iluminado pelo Espírito Santo”, analisa o padre Cormary.

Ao se converterem, os pais edificam seus descendentes. Padre Luc de Bellescize explica aos jovens do grupo Even: “Sempre faltará algo e alguém nesta terra”. Os pais sempre sentirão falta de alguém! Paradoxalmente, ser pai é aceitar-se como filho do Pai… o mesmo Pai de seus filhos. É ordenando-se a Ele, deixando-se amar por Ele nas feridas e na finitude, que os esposos poderão abandonar a tentação de ser educadores perfeitos ou insuficientes. À medida que eles próprios se aproximam de Cristo, equipados com essa nova visão de si mesmos, eles serão capazes de ensinar seus filhos a depender, por sua vez, não de si mesmos, mas do Pai.


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