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Como se preparar para a chegada do primeiro filho?

PAIS COM BEBÊ

Studio Romantic | Shutterstock

Edifa - publicado em 15/10/20

É preciso equilíbrio para lidar com o nascimento do primeiro filho. Embora essa mudança traga muita felicidade, algumas vezes ela também pode ser penosa para o casal, levando-os a sair de si para se adaptar à nova rotina.

“Eu estou grávida!” Frases como essa são raras e nos causam um grande impacto. Mexem tanto com a gente que nossa razão fica atordoada, nosso coração quase para ou então vai à mil! O tempo também parece parar, como uma pessoa curiosa que quer ver as reações provocadas por essas três simples palavras. Para a maioria dos casais, é uma explosão de alegria. Ainda mais para aqueles que passaram pelas dores causadas pela infertilidade ou pelo aborto espontâneo. Para outros casais, é horrível, é como uma surpresa que paralisa. De qualquer forma, a chegada do primeiro filho será uma aventura. Uma odisseia que começa bem cedo.

Gravidez, momento em que cada um deve encontrar o seu lugar e compreender o do outro

Assim que a gravidez é anunciada, homens e mulheres começam a experimentar uma mudança em seu relacionamento”, analisa Florence Prémont, conselheira matrimonial e familiar da Ephata (8º distrito de Paris). “A mulher passa a experimentar algo avassalador em sua privacidade. Já o pai terá que realizar uma espécie de adoção na hora do nascimento”. A chegada de uma terceira pessoa perturba o relacionamento a dois. De certa forma, a gravidez é como um tempo de crise entre dois estados estáveis, onde cada um precisa encontrar o seu lugar e compreender o do outro. Cada casal lida com essa novidade de forma única. Pode ser fácil e natural para alguns e imprevisível e trabalhoso para outros.

Quando Guilherme descobriu que sua esposa estava grávida, ele ficou radiante. Mas parece que levou uma chuveirada de água fria quando percebeu que Marie, sua esposa, não estava tão feliz quanto ele. “Algumas semanas depois de nossa lua de mel, e logo depois de termos nos mudado para uma nova cidade, descobri que estávamos esperando um bebê. Me senti muito angustiada, porque estava ciente de tudo o que estava envolvido. Ao mesmo tempo, também estava experimentando os sintomas irritantes da gravidez e muitas mudanças em meu corpo. Enquanto Guilherme vivia a novidade de forma exterior”, conta a jovem, que se lembra de que só conseguiu dizer “um grande sim a esta vida nascente” depois de três meses de gravidez, no dia 8 de dezembro, festa da Imaculada Conceição da Virgem Maria.

Desde a hora do parto tudo é questão de adaptação

É comum começar a passos lentos. Mesmo após o nascimento, reações inesperadas podem confundir os parceiros e causar alguns desentendimentos. Podemos citar a famosa depressão pós-parto, um fenômeno muito real causado por uma sensação de vazio físico na mãe combinado com uma queda nos hormônios. “Um pequeno conselho para pais de primeira viagem: nunca contradigam sua esposa por pelo menos três dias e seja ainda mais amoroso e atencioso do que de costume!”, Sorri Margô, sob o olhar aprovador de seu marido Alex. A atitude do pai muitas vezes é decisiva para que a mãe sinta reconhecimento por tudo que precisou enfrentar. 

O que se passa na sala de parto deixa muitos homens confusos. Fisicamente, ele vive o que está acontecendo do “exterior”. Ele testemunha um esforço incrível, quase insuportável em alguns casos. E então, de repente, o peso da responsabilidade cai. “A presença do filho dá à existência uma responsabilidade que pode desestabilizar alguns pais”, nota Florence Prémont. E assim, com o tempo, o pai deixa de observar apenas do exterior a fusão de nove meses entre filho e mãe.

O bebê não deve ocupar tudo

Irmã Marie Jérémie, responsável pela maternidade católica Sainte-Félicité, em Paris, avisa: “O relacionamento a dois vem primeiro! O bebê recém-nascido deve, é claro, ocupar seu lugar, mas não deve ocupar todo o lugar”. Para criar este novo equilíbrio, a jovem mãe tem uma responsabilidade especial: “Ela precisa estar ciente do vínculo único que a une ao filho para ajudar o marido a encontrar seu lugar”.

É tudo uma questão de ajuste. “Algumas mulheres se preocupam muito e querem que os seus maridos se envolvam a todo o custo”, testemunha Juliette Chové, doula francesa. Para melhor, mas também para pior. “Tenho o exemplo dessa mãe que decidiu alimentar seu filho com a mamadeira, apenas para que seu marido pudesse amamenta-lo também. Ela imaginou que isso lhe permitiria compensar uma possível frustração. Mas isso nem passou pela cabeça dele!”, diz a doula, que também oferece curso de preparação espiritual para o parto.

O retorno para casa, um combustível para as preocupações

Depois de alguns dias no hospital, o casal volta para casa com o primeiro filho. Lá, um sentimento de solidão geralmente toma conta do jovem casal; seguido por uma série de perguntas: “O que fazemos agora?”, “Somos realmente capazes de cuidar de nossos filhos sozinhos?”, “E se ele não quiser comer?”, “Por que ele dorme tanto?”, “Está quente o suficiente?”, “Ele fez um barulho estranho, não fez?”…

Para Juliette Chové, essa ansiedade é normal: “Todos os pais se preocupam em dar o seu melhor”. Quando ela, enquanto doula, se aproxima, após o parto, para se certificar de que tudo está indo bem com o bebê, ela aproveita também para tranquilizar os pais. “Se eles estiverem calmos, a criança também ficará calma. Eu apelo ao seu bom senso. Por exemplo, quando me perguntam se devemos acordar o pequenino para alimentá-lo, pergunto se eles ficariam felizes se fizéssemos o mesmo com eles”. 

Muitas vezes temos a tendência de intelectualizar demais as coisas”, diz Irmã Marie Jérémie, tomando o exemplo da amamentação. “Na África, por exemplo, não nos perguntamos se podemos ou não amamentar”, continua ela. “A maternidade pode ser um momento de ser mais livre, e confiar nas habilidades ainda não conhecidas do seu corpo”. 

O cansaço, o inimigo número um do casal

Uma dificuldade comum para os jovens pais do primeiro filho é o cansaço. É como se ele se infiltrasse em todos os lugares, como um gás esperando por uma faísca para explodir tudo. Algumas noites sem dormir, tudo bem. Mas o acúmulo desse cansaço pode destruir a vida do casal. “Nunca ter tempo para descansar, para se recuperar do cansaço da semana, é mais um desafio a enfrentar”, acrescentam Mathilda e Maxime, jovens pais da pequena Helena. Eles recomendam ir dormir na mesma hora que o bebê. “E não se importar se a casa estiver uma bagunça”, dizem Valentina e Gauthier, jovens pais de Baudoin.

É preciso saber dizer ao outro que está cansado e que gostaria que cuidassem um pouco mais da criança, fazer compras ou limpar a casa”, insiste Sabrina de Dinechin, mediadora familiar de Paris. “Quando um dos cônjuges sente que está fazendo esforços constantes e não recebe nenhum reconhecimento, ele pode se sentir exausto e levado ao confronto”. “O casal deve ser orientado a ficar sozinho por pelo menos um dia no mês seguinte ao nascimento do filho!”, defende Florence Prémont. Outra boa ideia para um presente de chá de bebê é: às vezes, uma diária de babá vale mais do que um chocalho!

Quando a libido se extingue

Leva tempo para retomar o sexo após a chegada de um filho. “Os casais que apoio se sentem felizes por podermos abordar esse assunto, que desperta muitos temores”, diz Juliette Chové. Cabe a ela ajuda-los a não temer. “Durante a gravidez não há nenhum impacto particular. Não, não vai induzir o parto!”, frisa. Mas, após o parto, a libido pode sofrer um golpe. “Algumas mulheres não querem que seus maridos as toquem porque se sentem desconfortáveis com o seu próprio corpo. Da mesma forma, quando uma mulher amamenta, seu corpo produz prolactina, um hormônio que reduz a libido, continua a doula. O importante é alertar o marido, para que ele fique tranquilo. Só porque uma mulher não tem mais desejo por um tempo não significa que ela não o ame mais”

O marido também pode viver algumas apreensões. Alguns homens ficam traumatizados com o “espetáculo” do parto. “Você não tem que ver tudo! Acho melhor ficar perto da esposa, olhando para o rosto dela”, aconselha Juliette Chové. Outra dificuldade para os casais que seguem métodos naturais é que o ciclo menstrual da mulher é prejudicado, principalmente com a amamentação. Por isso é preciso se instruir bastante durante esse período.

Adapte-se ao ritmo da criança para não tornar o seu dia a dia um pesadelo

“Faz duas horas que ele está chorando e eu precisarei me levantar daqui a três horas!”, “Vamos ter que parar na próxima parada da rodovia para trocar a fralda”, “Ah, já é a hora do lanche? Mas nós acabamos de sair de casa!”. “Esqueci de pegar soro fisiológico na farmácia, você pode voltar?”. “Tem uma sujeirinha no seu terno ali em cima do ombro direito!”. Algumas frases que todos os pais de primeira viagem dizem ou ouvem nos primeiros meses a seguir ao nascimento do bebê. A criança chega com o seu ritmo próprio.

Se quisermos lutar contra esse ritmo, podemos tentar. Mas vamos gastar muita energia nessa tentativa”, sorri Irmã Marie Joseph. Acredito que o primeiro ensinamento consiste em acolher o ritmo da criança e explicar para ela que um dia ela precisará acolher um novo ritmo. Como em todos os acompanhamentos, é bom começar pelo que a pessoa é e assim caminhar com ela. Guilherme admite que demorou muito para perceber isso. “Ter um filho envolve renúncia real. Se você não se adapta ao ritmo da sua mulher grávida e depois ao do seu filho, você rapidamente torna o seu dia-a-dia um pesadelo. Em suma, o filho é o maior inimigo do egoísmo”.

Que família queremos construir?

Muitos casais testemunham que ao se tornarem pai e mãe, cada um tende a se aproximar naturalmente dos próprios pais. Tem o lado bom: “Senti uma imensa gratidão pelo dom da vida de meus pais. Eu percebi como eles foram generosos”, disse Quitéria, uma jovem mãe que está esperando o seu segundo filho. E tem o lado não tão bom: “Alguns homens ouvem apenas as suas mães e passam as mensagens para suas esposas. As esposas veem isso como uma intrusão, até mesmo uma agressão”, relata Sabrina de Dinechin. O período do nascimento de um novo bebê é uma grande oportunidade para praticar a arte da delicadeza e da medida certa em um relacionamento a dois.

A chegada do filho também revela que os cônjuges não necessariamente receberam a mesma educação. “Se ouvimos o bebê chorando, é porque a porta não está bem fechada”, alguém diria em uma família. “É uma criança que precisa de carinho”, ouvimos em outra. Para Irmã Marie Jérémie, “a chegada do filho não coloca apenas a questão de quem ele é, mas também de quem eu sou. Agora é a hora de reler sua própria história, sem rejeitar sua educação, mas talvez sem aceitar tudo também”.


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