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Regras para criar uma empresa familiar de sucesso

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Edifa - publicado em 26/10/20

Negócios de família? Embora este modelo econômico tenha vantagens consideráveis, requer alguns cuidados a fim de preservar as relações familiares e profissionais

Trabalhar com um ente querido pode ser extremamente complicado. “Você não fala com seus irmãos e irmãs da mesma forma que fala com os funcionários”, confirma Armelle, que assumiu o negócio de seu pai com os irmãos. “Se existem coisas que não são ditas, a atmosfera resultante pode ser muito prejudicial à saúde. E isso recai diretamente sobre a família”. A jovem optou há seis meses por deixar o barco. “Eu não tinha futuro na sociedade e era atormentada pelas histórias nas quais me envolvia diariamente”, diz ela. Ter uma empresa familiar, ou seja, trabalhar com pais, filhos, cônjuge, irmãos nem sempre é fácil. Como então manter o melhor dos laços familiares e evitar o pior?

A importância do discernimento antes de se lançar

Ciúmes, frustrações, estratégias divergentes, forte envolvimento afetivo… “Devemos saber analisar as situações sem cair na armadilha da dimensão afetiva”, alerta Marie-Christine Bernard, consagrada leiga, teóloga especializada em antropologia e coach. “Nessa realidade, as pessoas com quem tomamos decisões de negócios são aquelas com quem compartilhamos o peru de Natal!”. O entrelaçamento entre o mundo privado e o profissional pode preocupar quem se compromete a trabalhar com seus entes queridos.

Vianney e Laure d’Alançon embarcaram na aventura da empresa familiar há alguns anos. Aos 25 e 27 anos, este jovem casal dirige uma joalheria, fundada apenas quatro meses após o casamento. “Nos demos um mês para ver se conseguiríamos trabalhar juntos”, dizem eles. “A experiência foi positiva e acabamos abrindo novas lojas”. No entanto, Laure confessa sem rodeios que “não era muito favorável” à proposta do marido de abrir uma empresa juntos. “Nós dois temos uma personalidade muito forte. Eu dizia a mim mesma que as relações concretas do dia-a-dia exigem que tenhamos a mesma forma de trabalhar, de ver as coisas. Como previ, fiquei um pouco assustada”. Discernimento e reflexão são essenciais.

Compartilhar as tarefas é essencial

Marie-Christine Bernard sempre incentiva as pessoas que encontra “a montar seus negócios, a reinventar seus empregos”, mas ela também já aconselhou um casal a adiar seu projeto. “Era uma ideia ruim. Eles eram muito jovens e tinham que se afirmar em suas respectivas profissões antes de começar. Compartilhar tarefas dentro da empresa e em casa é essencial. É imprescindível fazer um acordo para que os dois saibam quem vai ficar a cargo de quê em termos de vida doméstica e de acolhimento de crianças, como organizar o espaço da casa quando esta abriga a sede da empresa, o tempo de trabalho, etc. Isso geralmente é mais complicado do que em uma empresa onde não há relacionamento familiar”. 

Quando seu pai sugeriu que Jean ingressasse na pequena empresa familiar, o jovem acabara de interromper seus estudos de psicologia e estava procurando uma mudança de direção. A ocasião era tentadora, o trabalho interessante, variado. No entanto, Jean pediu um tempo para refletir: “Sou um pouco preguiçoso por natureza, sabia que trabalhar com meu pai exigiria que eu me violentasse”. Depois, decidiu assinar o contrato, principalmente para “passar o tempo”. Quase dois anos depois, ele retomou aos estudos e descobriu um interesse até então insuspeitado pela empresa fundada por seu avô. Seus medos desapareceram rapidamente e seu rigor e envolvimento nesta sociedade substituíram sua antiga preguiça adolescente. “Tive que me provar muito rapidamente, perante o meu pai, patrão e os empregados”, reconhece o jovem. Na verdade, tenho que investir ainda mais que os outros, porque sou filho do patrão. Devo conquistar meu lugar aos olhos dos outros, que tiveram que enviar um currículo e passar por entrevistas. Ao seguir uma educação adequada, Jean também prova ao pai que é confiável e capaz de se envolver: “Papai me disse que se eu quisesse substituí-lo, teria que me formar. Ele só vai me dar as rédeas da empresa se eu tiver as habilidades, competências e desejo”. 

Nepotismo, o inimigo que ameaça toda empresa familiar

Os medos desaparecem à medida que se aumenta a confiança entre os entes queridos, à medida que o profissionalismo fica evidente. Para o Dr. Jacques-Antoine Malarewicz, psiquiatra e consultor de empresas, o nepotismo é justamente “o grande risco” que ameaça qualquer empresa familiar. Administrar o negócio exige clareza e é aí que está o desafio para todo líder”. Quando um ente querido se mostra incompetente, “faz sentido que ele saia do negócio, mesmo que seja um membro da família”. Bertrand Cuny, Presidente do Conselho de Supervisão da Vygon, certifica que um parente deve ser recrutado por suas habilidades. Se a empresa agora é dirigida pelo genro de seu fundador, é porque ele tem capacidade. “A família é responsável pelo negócio e deve considerar qualquer demissão um fracasso”, diz Bertrand Cuny. Seu primeiro dever é encontrar um líder motivado e competente. Se pertencer à família, podemos supor que estará motivado, o que não significa que seja competente!”.

Por isso, todo mundo que trabalha com parentes diz: a regra de ouro é separar a esfera privada da profissional. Um verdadeiro desafio! É a base a partir da qual decorrem todas as recomendações feitas depois. Laure e Vianney estabeleceram uma regra: “Não falamos de trabalho à noite! E procuramos não falar sobre o que nos preocupa pessoalmente no escritório”. Como eles, Jean e seu pai não abordam questões de negócios com o resto da família. Um conta com a discrição do outro. E também é a assim na família de Bertrand Cuny, da qual vários membros são acionistas. Arnould d’Hautefeuille, assessor de governança para empresas familiares, chega a recomendar, na medida do possível, a “não depender hierarquicamente de um membro da família para o primeiro emprego”. Assim as suas habilidades serão julgadas com mais clareza. É por isso que Jean é subordinado ao gerente, e não ao pai: “A relação empregador/empregado é menos direta”.

O Evangelho inspira a boa gestão

Os desafios cotidianos exigem muita cautela e delicadeza por parte dos membros de uma mesma família. Vianney d’Alançon admite: “Sabíamos que era importante colocar mais ordem entre nós. Ao trabalhar como casal, é preciso evitar tensões a todo custo. Precisamos também por de lado nossas ambições pessoais excessivas”. Ambos grandes comunicadores, Laure e seu marido aprenderam a ajustar seu modus operandi. Marie-Christine Bernard aprecia particularmente o acompanhamento “dos cristãos casados, para os quais a aventura profissional faz parte da aventura do casal”. Para esta experiente especialista humano e empresarial, “existe um desejo real de coerência que brota junto ao desejo de fidelidade e de compromisso através do trabalho”.

Para muitos católicos que trabalham em família ou têm uma empresa familiar, a fé é um pilar. Ela acompanha cada um nos momentos de discernimento, para encontrar a atitude certa a tomar. Um modo de ser que consiste em “ajudar-nos uns aos outros a progredir, sem ferir um ao outro, mas mantendo-nos fiéis”, segundo Marie-Christine Bernard. O Evangelho aplicado aos negócios continua sendo a melhor fonte para uma gestão humana.


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Ariane Lecointre-Cloix

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