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Conciliar um trabalho exigente à maternidade, uma equação impossível?

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Shutterstock-Diego Cervo

Edifa - publicado em 04/11/20

Entre o desejo de sucesso, o gosto pelo trabalho bem feito, a vontade de ver os filhos florescerem ao seu lado e os riscos do esgotamento, como encontrar o equilíbrio entre a vida profissional e a vida de pai/mãe?

Equilibrar trabalho e filhos exige muito do ‘equilibrista’. Trabalho, laços sociais, compromissos de caridade e necessidades de recursos consomem o tempo dos pais, às vezes às custas da qualidade do relacionamento com os filhos. Como remediar isso para viver bem a maternidade e a paternidade? Como chegar a um equilíbrio justo? A seguir encontre alguns conselhos de Etty Buzyn, psicóloga e psicanalista.

Você percebe que os pais não estão suficientemente presentes em casa?

Estou lutando contra isso, com base no que ouço de várias reclamações de crianças. Eles são muito astutos e têm exigências em relação aos pais. Alguns pais viajam muito, como uma mãe que, voltando de Bruxelas no domingo à noite, precisou partir para Sydney na quinta de manhã. Recebi seu filho de 10 anos: ele é constantemente confrontado com a mala da mãe no corredor. Como o pai está sempre muito ocupado com o trabalho, a criança reclama constantemente que está doente e se sente abandonada.

Qual é o impacto disso na vida das crianças?

As consequências às vezes são pesadas. Algumas somatizam, como esse garotinho, e acabam perdendo a confiança no seu meio ambiente e nos adultos em geral. Na idade adulta eles reproduzirão esse tipo de comportamento ou, ao contrário, se tornarão pais superprotetores?

Um bebê, diante de uma ausência que não consegue entender, fica mais traumatizado do que o mesmo acontecimento com uma criança de 10 anos. A longa ausência dos pais pode parecer um desaparecimento para a criança. Porque até os dois ou três anos, elas têm um controle de tempo limitado. A capacidade de memorização aumenta à medida que crescem, sendo a partir dos três anos que ela começa a dominar melhor a noção de tempo. Àquelas crianças que sofrem com a ausência dos pais, podemos aconselhar: “Feche os olhos e imagine o rosto do seu pai ou da sua mãe; você os vê? Diga a si mesmo que eles também veem e mantém o seu rosto em mente, assim como você. Esse processo, que lhe permite sentir os pais mais presentes, pode acalmar a criança”.

Como os pais podem compensar sua ausência?

Quando trabalhei com neonatologia, sugeri que os pais, ansiosos com a ideia de deixar seus filhos por conta do trabalho, dessem a eles um item pessoal seu. A criança e os pais passaram a se sentir então tranquilos por causa dessa ligação simbólica. Até hoje eu recomendo essa tática.

Os pais muitas vezes estão mais ausentes do que em outros tempos devido às frequentes separações e divórcios. Por isso é importante que eles deem ao filho um objeto ou uma foto que ajude os filhos a se conectarem com eles. Você também pode deixar recados, enviar mensagens de texto ou de voz, uma ideia muito útil para quem tem filhos nas idades de 7 a 8 anos. As ligações devem ser evitadas para as crianças pequenas porque elas têm dificuldade em entender de onde vem a voz. Por outro lado, chamadas podem ser benéficas para as crianças maiores, desde que elas não ocorram à noite. Elas podem sentir muita saudade e isso afeta o sono.

Você aconselha que conversemos com os nossos filhos, pedindo que eles tentem entender que seus pais precisam estar ausentes nesse momento…

Sim, aconselhamos isso cada vez mais cedo. Toda criança é digna de respeito, mas está longe de ser um adulto. É um erro pensar que tudo está resolvido apenas porque explicamos a eles tudo o que vai acontecer. Embora seja bom verbalizar a situação, não fale muito e caia em mil explicações, pois isso só pode deixá-lo mais angustiado.

Em vez disso, não cabe aos pais compreender as necessidades emocionais de seus filhos?

Quando as mães têm responsabilidades profissionais importantes, fica muito difícil para elas conciliar, mesmo que seus filhos se sintam mal por estarem recebendo apenas “as migalhas”. Eles estão longe de ser uma prioridade e podem sentir isso! Antes de decidir começar uma família, convém se perguntar quanto tempo você terá para estar presente com seus filhos.

Recentemente, recebi uma mulher mãe de três filhos, que tinha um emprego numa posição de prestígio. As crianças brigam sem parar. Eles têm muitas atividades, mas nunca uma tarde com a mãe ou o pai. A tendência atual de manter a criança ocupada a todo custo é na verdade uma forma de se livrar do “problema”.

A solução comum é colocar seu filho sob os cuidados de uma terceira pessoa. Ainda é preciso encontrar uma pessoa de confiança porque vejo alguns bebês confiados a babás que não cuidam deles de maneira adequada: no parquinho, por exemplo, eles ficam presos em seus carrinhos, enquanto as babás conversam entre si. No meu livro, A babá, nossos filhos e nós (em tradução livre), proponho alertar a babá, que passaremos às vezes mais cedo para checar como as coisas estão indo. É imprescindível estar muito atento ao que as crianças pequenas estão vivendo, pois muitas vezes eles não são capazes de dizer!

E o limite quanto ao trabalho?

O ideal é que pelo menos um dos pais esteja presente para a criança, para compensar a ausência do outro. Para se construir, ela precisa sentir uma “segurança básica” em seu ambiente. Se não conseguir encontrar essa segurança, muitos sintomas são sentidos, principalmente no registro do sono.

Reservar um tempo a ser compartilhado com seu filho deve ser um investimento prioritário. Eu envolvo os pais cada vez mais nas conversas e os confronto com suas responsabilidades. Educar significa aceitar as restrições familiares. Para voltar a ter uma vida profissional plena, é preciso esperar até que você tenha saído dessa interdependência pai-filho. Não é bom que os filhos venham sempre depois do trabalho e que não sejam importantes quanto a vida profissional. Os pais devem perceber que o equilíbrio psicoemocional de uma criança depende muito de sua presença e do tempo que dedicam à família.


MÃE ABRAÇA FILHO BEBÊ

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Florence Brière Loth

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