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Infertilidade e esterilidade: “meu cônjuge se recusa a adotar”

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Edifa - publicado em 06/11/20

Ao receber um diagnóstico de infertilidade, o casal muitas vezes se vê desamparado. Uma solução para o desejo da paternidade é a adoção. Mas o que fazer quando essa questão divide os cônjuges?

Depois de dezessete anos de casamento, ainda não temos filhos e estou muito ansiosa para adotar, mas meu marido não tem vontade. Devo resistir a esse desejo? Não consigo imaginar mais a nossa casa sem um bebê”, uma mulher me disse certa vez. Quando os desejos se opõem no relacionamento, muitas vezes é possível encontrar soluções que levam em conta as duas posições. Mas há também momentos em que os desejos são totalmente diferentes.

No início um bom diálogo vai permitir que cada um argumente bem sobre sua escolha. Um diálogo onde cada parte primeiro se esforça para entrar na problemática do outro, para compreendê-lo por dentro. Gosto de dizer que o marido deve se tornar sua esposa, mas permanecer homem, e a esposa se tornar seu marido, embora permaneça mulher. O marido deve fazer esse esforço para sair do seu ponto de vista e ver o problema através dos olhos da esposa. Eles também devem ser capazes de mudar o foco de suas concepções, suas expectativas, para compreender o problema tal como ele é.

Entenda a relutância do outro

O marido precisa entender esse intenso desejo de ter um filho, que parece ser ligado ao corpo feminino. Mesmo que seja impossível se colocar totalmente “na pele” do outro, não é impossível perceber o que é, para uma mulher, a felicidade de carregar um bebê. É para ela uma razão e orgulho magnífico de ser, de dar vida. É uma alegria para ela dar um filho ao homem que ama, e o filho aparece para ela como a realização concreta do amor. Uma criança é “amor feito carne”, é o amor de um homem e de uma mulher que se torna pessoa; um pouco como na Trindade, quando o amor do Pai e do Filho faz brotar o Espírito Santo. Um amor que, aliás, continuará depois da morte, talvez por séculos ao longo da cadeia de gerações resultante desse encontro amoroso.

Quando o casal não pode ter esse filho ou esses filhos tão desejados, o luto não é fácil para a esposa. E a adoção pode parecer para ela uma oportunidade de usar seu tremendo capital de ternura, não apenas para atender a sua necessidade de ser mãe, mas também para permitir que uma criança se torne um adulto feliz e realizado. Porque a fertilidade não é apenas biológica, é também educativa: a criança ainda não terminou de se formar ao nascer, ela ainda precisa dar à luz seu imenso potencial.

Escuta

Porém, é necessário que a esposa também ouça o marido. Ouvir a sua relutância, por exemplo. Diante da paternidade, todos as dúvidas aparecem. Enquanto alguns homens desejam ter filhos, outros não querem. Há até quem tema que o filho monopolize a esposa, que se tornou mais mãe do que esposa. Frequentemente, é a criança que “faz” o pai, que desperta nele a alegria de ser pai – que abrirá o seu coração com seus primeiros sorrisos, seus primeiros abraços e seu surpreendente progresso.

É fácil entender que, embora às vezes haja relutância até mesmo para a paternidade biológica, pode surgir hesitação diante de uma possível adoção. Especialmente porque a adoção tem seus desafios. Deus sabe se eu desejo que crianças abandonadas experimentem a alegria de ser acolhidas em uma família calorosa. Mas a adoção também pode trazer sua cota de dificuldades e decepções dolorosas, por isso é preciso fazer tal escolha com muita cautela.

O medo da adoção pode ser superado

A criança adotada pode ter sofrido uma agressão profunda e inconsciente, passando a culpar a mãe biológica por tê-lo abandonado, mas também os pais adotivos, considerados como aqueles que o teriam tirado dessa mãe. Me recordo deste jovem adotado do Caribe; aos pais adotivos que lhe explicaram que sua mãe biológica, muito pobre, não podia alimentá-lo, ele respondeu sem rodeios: “Você só precisava dar o dinheiro para minha mãe me manter!”. O filho adotivo também pode pensar que o meio social de sua família adotiva não é o seu, e sentir a necessidade de ir e encontrar seu meio “real”: o dos pobres e abandonados. E de toda forma, existe um vínculo visceral com a mãe ou o pai biológico, que ele anseia redescobrir: ele vai fantasiar sobre a imagem deles, mesmo que não tenha absolutamente nenhuma ideia de quem eles são.

Medo

Talvez isso explique a relutância de um dos cônjuges. Esses medos são bem fundamentados até certo ponto apenas, porque esses problemas podem ser superados. Na medida em que a criança adotada esteja ciente de sua origem; num ambiente em que sua mãe biológica é valorizada aos seus olhos (ela teve a coragem de trazê-lo ao mundo em uma sociedade onde o aborto é comum); onde lhe explicamos que qualquer criança, mesmo biológica, é de alguma forma adotada, já que não é necessariamente o havíamos imaginado; em que ele tem a oportunidade de conhecer o país de seu nascimento, se estiver longe dele; onde eles recebem suporte, ou mesmo terapia, se eles têm problemas de comportamento, etc. E no fim, será possível, um dia, que os pais adotivos sejam maravilhosamente recompensados ​​com o reconhecimento dos filhos que, por sua vez, os adotaram integralmente.

É nesse diálogo aberto e pacífico, estudando todos os parâmetros dessa escolha possível, que um casal pode encontrar uma solução para sua situação. E se um dos cônjuges lamentar a adoção, talvez ele compreender que Deus, que sonha em fazer de todos os homens seus filhos adotivos, também conhece este sofrimento de amor não reconhecido.




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