“Faça o que você quiser!”. Aplicada à relação educacional, essa frase pode parecer um sinal de confiança. É uma forma de confiar na capacidade de nosso filho, dele tomar uma decisão por si mesmo. E sabemos bem que chegará necessariamente o tempo em que nossos filhos terão de fazer as suas escolhas e tomar suas decisões sem nós, embora ainda seja possível e até desejável que saibam pedir conselhos. Porém, aquele “Faça o que você quiser” – que pode ter outras formulações – também pode ter um duplo sentido. Às vezes, está manchado de amargura e resignação e sua tradução mais ou menos decifrável por nossos filhos é parecida a esta: “Já que você acredita, ao contrário de mim, que é uma boa idéia, então faça o que eu não quero para você e que eu não posso te impedir de fazer”.
Acompanhar a decisão de nossos filhos mesmo que não nos agrade
Com ou sem razão, às vezes lamentamos as decisões e escolhas dos nossos filhos, mas somos obrigados a nos conformar: a escolha do cônjuge, a orientação profissional, etc.
Chega um momento em que, se não fugimos à nossa missão de conselho, se temos a consciência tranquila, teremos até que organizar esse casamento e acompanhar essa decisão, salvo em casos excepcionais que devem ser bem valorizados e com humildade. No entanto, nossa não-aceitação é um assunto delicado. Pode esconder certo orgulho social, uma decepção com nossos filhos que pode estar enraizada em nossas próprias decepções pessoais, nossas frustrações adultas. Então, cabe a nós buscar conselhos, temendo que o afastamento ganhe o jogo.
Mesmo quando exista ruptura, ainda assim deve ser um ato educativo, um ato de gerar e amar nossos filhos, e não um julgamento que os degrada e humilha. As disputas podem ter um final feliz muitos anos depois. Às vezes, isso vai acontecer só no Céu.
Aprender a aceitar as escolhas dos filhos
Mais delicada é esta maneira de dizer as coisas pelas quais – sem perceber – o adulto se habituou a fazer o filho sentir-se culpado ao se tornar independente, às vezes libertando-se de um rito familiar que estabelecemos e ao qual nos agarramos desajeitadamente. “Todos os dias 15 de agosto de cada ano, nos encontramos na casa dos seus avós!” ou “Seus irmãos e irmãs se alternam nas festas entre as duas famílias políticas”.
Existem muitas estratégias adultas pelas quais nos certificamos de não perder tudo, como ramos fracos que cedem sob o peso desses princípios para preencher nosso medo do vazio. A culpa como forma de governo é uma perversão que revela um duplo psicológico, um déficit espiritual, um medo afetivo e que engendra a tirania. O ascetismo da paternidade é o abandono do poder, não da fé, nem da esperança e nem da caridade.
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Abade Vincent de Mello