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Como limitar o tempo de uso dos aparelhos eletrônicos do seu filho?

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Edifa - publicado em 15/12/20

A questão digital se tornou uma fonte de conflito em sua família? Você não precisa se desencorajar. Aqui estão algumas estratégias que podem ajudar a limitar o tempo que os seus filhos passam em frente às telas

A regulação do tempo passado ao celular pode ensinar os adolescentes a controlar sua frustração, segundo o psicoterapeuta Didier Pleux, autor de Desenvolvendo o autocontrole dos seus filhos (em tradução livre).

Por que os pais têm tanta dificuldade em regular o tempo gasto em frente às telas?

Didier Pleux : A geração dos nossos pais teve uma educação que considera a frustração uma castração. Mas a frustração é simplesmente ser livre para dizer: “Não posso fazer tudo o que quero o tempo todo” e “Não estou sozinho, preciso levar outros em consideração”. Ao contrário do que acontecia em outros tempos em relação à televisão ao computador, o adolescente de hoje carrega consigo seu celular, como uma peça de roupa. Ele se sente mais independente, e muitas vezes busca escapar às trocas familiares e relacionais através do uso do celular. É um caso extremo, mas ouvi recentemente sobre uma mãe que tinha regulado o tempo do filho adolescente no celular porque as notas dele estavam caindo, e ele prestou uma queixa contra a mãe por maus tratos. Precisamos explicar para as crianças que o laptop é uma ferramenta de comunicação, não um direito inalienável.

Os pais poder ir até o ponto de confiscar esses aparelhos se acharem que é necessário?

Sim, quando o adolescente não consegue controlar sozinho o tempo que passa em frente às telas, por exemplo quando está navegando em um site pornográfico. A atmosfera geral deve ser de empatia para com o filho, mas os pais também têm o direito de desagradá-lo e coagi-lo. Já com um jovem independente, que usa o telefone para enviar mensagens a amigos, organizar o tempo passado em frente às telas não será um problema. O problema diz respeito a adolescentesfrágeis, pouco tolerantes à frustração ou facilmente influenciáveis. Sem a mediação adulta, eles podem jogar videogame por horas, na busca da satisfação de um prazer imediato. Se o jovem está abusando do uso ou navegando em sites proibidos a menores, por que deixar que ele permaneça com o celular?

Se seu smartphone for confiscado, ele poderá navegarna Internet na casa de um amigo, o que dá no mesmo

Ele o fará, mas em outro lugar e sem o consentimento dos pais, o que faz toda a diferença, pois ele sabe que está ignorando uma proibição.

Em que consistiria um “código familiar de boa conduta” para smartphones?

Seria um contrato criado pelos pais, que especificaria o tempo concedido ao computador, e o tempo livre gasto de outras formas. Deixar livre o uso do computador exige do jovem autocontrole. Portanto, podemos refletir: será que uma criança de 11-12 anos deixada sozinha escolherá naturalmente visitar um site inteligente? Os apelos sexuais, por exemplo, são numerosos na Internet, além das pessoas mal-intencionadas que se utilizam da inocência de crianças e adolescentes.

Uma vez que os horários de acesso à Internet foram regulamentados, como podemos ajudá-los a gerenciar a frustração?

Você precisa fazer isso cedo na educação dos filhos, caso contrário, a guerra não terá fim. Frustrar não é sancionar, privar de liberdade ou provocar raiva. Frustrar significa aumentar o limiar de tolerância de seu filho, ensinando-o a dar de si. Ele tem o costume de ajudar em casa, participar das refeições, e cuidar da sua própria roupa? Se ele não tem um horário regular, não tem suas tarefas de casa e come quando quer, como poderia de repente aceitar a privação total do telefone celular? Os pais devem ensinar aos filhos o princípio da realidade e o significado do esforço, a ser ajustado de acordo com a idade. Ele pode ter acesso à Internet se puder dizer a sua finalidade. A repressão demasiada não resolve, infelizmente, o problema básico educacional dos filhos.

Quer dizer que, em algum momento, é tarde demais para ensinar sobre a frustração aos nossos filhos?

Se o pai fica conectado o dia todo, será mais difícil ensinar a criança ou adolescente que ele precisa limitar o seu tempo de uso. Também é menos consistente confiscar o celular se as crianças não têm limites, se seus egos sãosuperdesenvolvidos, se elas são incapazes de aprender ou de prestar atenção nas aulas. Tudo está conectado, portanto,se a criança ainda vive refém do prazer, a menor frustração se torna inaceitável. Por outro lado, Se ela é bastante independente no que diz respeito ao prazer, por que não passear com o cachorro, se responsabilizar por uma tarefa familiar, ganhar uma mesada? Essas pequenas ações permitem evitar o desenvolvimento da intolerância à frustração. O escotismo também é uma excelente escola de vida. Acender uma fogueira, armar uma barraca ou preparar a comida são atividades que os escoteiros tem o prazer de realizar, enquanto adolescentes ociosos a quem tudo é servido não conseguem sair de si para realizar. Da mesma forma, uma educação religiosa permite, a princípio, transcender a lei do ego, não se sentir acima de tudo.

Como a frustração funciona na psique e no cérebro?

O cérebro emocional primário é programado para o prazer, para comer, sobreviver, dormir. Se a criança não está acostumada a atrasar os momentos de prazer, seu córtex, isto é, sua inteligência racional, enfraquece. Dominado pelo prazer imediato, incapaz de resistir às tentações do bem estar, ele então se torna mais propenso a desenvolver um vício. A criança imatura precisa de uma autoridade moral que restrinja seus impulsos. No início são os pais são os responsáveis por impor esses limites, depois a moral interior de cada um normalmente assume o controle. O equilíbrio entre prazer e desprazer pode ser aprendido, não é inato, ao contrário do que ouvimos, porque a criança naturalmente se inclina para o prazer. Ele é um ser emocional a ser educado e, além disso, crianças que crescem sem uma presença adulta que guie e imponha regras costumam expressar desprezo pelos pais.

O uso excessivo de telas causa uma intensa frustração. Por que isso acontece?

O vício excessivo nas telas de computador ou cellular está sendo tratado nos escritórios de psicologia. Segundo o advogado Joël Bakan, autor de Nossos filhos não estão à venda (em tradução livre), a tela teria um poder viciante tão forte quanto uma droga pesada. Quando afastada de seu videogame favorito, a criança pode ser dominada pela ansiedade, raiva e depressão. Esses são os mesmos sintomas de um viciado em heroína que deixa de usar sua droga, porque o uso de uma tela causa estímulos no cérebro emocional que o fazem perder a noção do tempo e evitam que o uso seja descontinuado. É por isso que você não deve excluir todas as telas de uma só vez. Regular o celular significa armar seu filho, permitindo que ele descubra alegrias ainda maiores.

Qual uso concreto do computador e demais eletrônicos você recomendaria?

Não responder às mensagens de texto imediatamente permite que você reserve mais tempo para dialogar consigo mesmo, para se concentrar no seu afazer ou no momento presente. Não responder a uma solicitação imediatamentepermite adiar e humanizar o seu desejo, como a alegria de pegar computador no fim de semana. É necessário também explicar à criança que o computador não é uma ferramenta sem riscos e não permitir que ela acesse a Internet quando nenhum adulto estiver presente em casa. Deixar que ele utilize as telas sem restrições significa criar um hábito de vida que será difícil de quebrar depois. Enquanto a criança estiver na escola, ela deve se dedicar ao trabalho durante a semana. Por outro lado, ele pode usar o computador ou celular por uma hora no sábado e uma hora no domingo, e talvez também na quarta-feira, não necessariamente de forma sistemática, se tiver concluído o dever de casa. O psiquiatra Serge Tisseron também recomenda proibir a Internet antes dos 9 anos e as redes sociais antes dos 12 anos. E depois, consumi-las em pequenas doses.

Entrevista por Olivia de Fournas

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