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E se você prolongasse o Natal pelo ano inteiro?

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Edifa - publicado em 28/12/20

O Natal passou, mas isso não significa que devemos esquecer o mistério da Natividade de Jesus que nos foi revelado

O Natal passou… O que ficou em nós desse dia? Novos brinquedos espalhados pela casa, lembranças felizes, pensamentos um pouco turvos pela falta de sono, pedaços de papel de presente amassados espalhados pela casa.. Ou, talvez, o peso da solidão um pouco mais forte, a dor do luto mais aguda do que de costume. Natal, sim, é também isso, no concreto da nossa vida. Mas é só isso ou é primeiro isso?

O Natal nos convida a nos maravilharmos com o amor de Deus por nós

O Natal, bem o sabemos, é a graça que nos é oferecida para acolher o Verbo feito carne. A verdade do Natal é a Boa Nova anunciada pelos anjos: “Hoje nasce o Salvador”. E é isso que torna todos os aspectos da festa significativos. O nosso dia seguinte ao Natal não pode, portanto, assemelhar-se ao dia seguinte de outras festas, tristes ou alegres, mas sempre impregnadas de uma certa nostalgia do que foi e não será. Porque a alegria do Natal não nos foi concedida apenas por algumas horas ou algumas dezenas de minutos, durante a missa de Natal. E a festa da Natividade não é apenas um aniversário que dura apenas o tempo de apagar as velas. Deixar passar o que Deus nos deu no Natal não é uma questão a se considerar. Podemos explicar às crianças que a sensação é como a de colocar todos os brinquedos novos no armário ou no lixo. Essa compaixão será muito significativa para eles. No Natal recebemos um presente muito maior e mais bonito do que todos os outros, mas como não o vemos, corremos o risco de esquecê-lo até o próximo ano. Mas o que o Natal muda verdadeiramente em nossas vidas?

Deus nos ama tanto que por nós se fez homem. Aquele que é o criador todo-poderoso nasceu pobre e destituído como todos os bebês que dependem inteiramente de seus pais. Deus se doa a nós e se revela a nós, não em magnificência, riqueza, poder, mas em pequenez e pobreza. Como então poderíamos buscar honras, riquezas e poder quando o próprio Deus nasceu na pobreza e se fez criança? Deus nos ensina a aceitar profundamente nossos limites, nossas dependências. Jesus não suportou sua condição de homem: Ele a amou. Saber disso nos leva a amar a nossa condição humana, com todas as limitações, exigências e dependências próprias de cada época. Jesus não fingiu ser uma criança, ele realmente foi. Deus está muito perto de nós. Ele é “todos os outros” e ainda assim se coloca ao nosso alcance. Seu amor busca nos domar com delicadeza, sem nos assustar. O Natal convida-nos a maravilhar-nos com este amor e a nos deixar levar por ele, para nunca esquecer – mesmo o mais tardar no ano em que faremos outras festas litúrgicas – toda a ternura, a pureza, a simplicidade que são revelados na pequena manjedoura de Belém.

Em frente à manjedoura, vemos e acreditamos além das aparências

Deus se fez carne. Muito concretamente, isso implica que nos é dado encontrar Deus, servi-lo e amá-lo em tudo o que constitui a nossa vida humana. Não há Deus de um lado e nossa existência carnal do outro. Não há momentos em nossa vida para Deus e aqueles que não lhe dizem respeito. Não somos seres divididos em dois: a alma para Deus e o corpo estranho a ele. É importante não esquecer isso, especialmente na área da educação religiosa. A educação na fé não envolve apenas uma parte da existência ou personalidade de nossos filhos, ela é realmente uma educação para a vida toda. Nada do que as crianças fazem, nada do que vivenciam é estranho a Deus. Tudo pode aproximá-las ou afastá-las dele, inclusive as preocupações e gestos materiais. Posto isto, é importante sublinhar que a educação para a fé não pode ser uma simples educação para a vida. Ela requer um anúncio explícito da existência de Deus que, encarnado, é o outro. Não é incomum, por exemplo, ouvir que o primeiro despertar para a fé deve ser um despertar para a vida, para o mundo ao redor, para os outros, etc. Isso é verdade se com isso queremos dizer que o despertar para a fé não deve ser desencarnado, separado da vida diária da criança. Mas é errado se este “despertar para a vida” substitui toda instrução religiosa e toda vida de oração.

Além disso, se é verdade que Deus nos dá a encontrá-lo e amá-lo em cada momento de nossos dias, por meio de tudo o que vivemos, não devemos esquecer que o que nos dá “fôlego” – o sopro do Espírito Santo – pelo menos aos nossos gestos, seja escovar os dentes ou descascar uma fruta, é a oração. É porque dedicamos pelo menos dez minutos por dia à oração, apenas para Deus, que nos outros minutos podemos encontrá-lo e amá-lo. A educação na fé não deve de forma alguma desviar as crianças da sua infância, não deve torná-las seres desencarnados, muito pelo contrário, deve também levá-las a viver ao nível da vida quotidiana, a sentir a dimensão sobrenatural da sua existência e orientar todas as suas escolhas de acordo com esta dimensão. Porque é também o que o Natal nos ensina: diante da manjedoura, vemos e acreditamos para além das aparências. Diante dessa criança, somos chamados a acreditar que estamos na presença do Filho de Deus. E quem melhor pode nos guiar por esses caminhos de fé que a Virgem Maria. Mais do que qualquer outra pessoa, ela sabia que seu bebê era semelhante aos outros, pois era ela quem o alimentava, ensinava a falar, a andar, etc. Porém, mais do que qualquer outra, ela acreditava, plenamente, que essa criancinha, que dependia inteiramente dela, era realmente seu Salvador.




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