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Qual é o ‘papel’ de cada uma das Pessoas da Trindade?

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Public Domain via WikiPedia

Icône, dite de la Trinité, Andreï Roublev, 1410 et 1427, galerie Tretiakov de Moscou

Edifa - publicado em 24/05/21

Uma qualidade ou uma operação divina não pode ser atribuída a uma Pessoa divina, excluindo as outras. Porém o modo de agir das Pessoas divinas se distingue de acordo com a relação de cada uma das Pessoas com as outras

A questão do papel das Pessoas divinas – Pai, Filho e Espírito Santo – é complexa. Para tentar um entendimento justo, apresentemos primeiro dois erros manifestados na História da Igreja. O primeiro erro consiste em dizer que não há papel próprio ou modo próprio de ação das Pessoas divinas: a ação trinitária é apenas uma obra comum das três Pessoas divinas. Em outras palavras, a distinção das Pessoas divinas intervém em suas relações recíprocas, mas não em sua ação. Esta tese defende um aspecto importante da obra trinitária: as três Pessoas da Trindade são juntas a fonte de sua ação, por causa de sua natureza divina comum. Esta apresentação pretende, portanto, defender a unicidade divina, sob pena de perder a riqueza de cada uma das Pessoas da Trindade.

Por outro lado, algumas pessoas têm defendido a tese de que cada Pessoa divina exerce sua própria ação a nosso favor, uma ação quase exclusiva: o Espírito Santo seria assim o autor da graça, como se o Pai e o Filho não fossem também seus autores. Procuraria assim defender a distinção específica das Pessoas divinas, correndo o risco, neste caso, de perder a unidade da Trindade. O que dizer então para dar uma resposta coerente a essa questão do papel das Pessoas divinas?

A resposta está escondida na doutrina das apropriações

É importante lembrar claramente que o Pai, o Filho e o Espírito Santo agem de forma inseparável. Cada ação divina é, portanto, a obra de toda a Trindade. Assim, para uma Pessoa divina, com exclusão de outras, não pode ser atribuída uma qualidade ou operação divina mas deve-se acrescentar imediatamente que o modo de agir das Pessoas divinas distingue-se em razão da relação de cada uma das Pessoas com as outras: o Pai na sua relação com o Filho e com o Espírito Santo, e reciprocamente. Assim, o Pai é, na Trindade, Aquele que ama, a fonte e o princípio de tudo; o Filho é Aquele que é amado; o Espírito Santo é o amor pelo qual se amam. O Catecismo da Igreja Católica especifica: “Cada Pessoa divina realiza o trabalho comum segundo os seus bens pessoais“ (258).

Para se aproximar – um pouco! – deste mistério, a Igreja desenvolveu a doutrina chamada “da apropriação”. Chama-se “apropriação ao procedimento teológico pelo qual um aspecto essencial da Trindade – comum às três Pessoas – é atribuído de maneira especial a uma das Pessoas divinas”, explica o dominicano Gilles Emery. Por exemplo, a Criação é atribuída ao Pai, a Redenção ao Filho, a glorificação ou santificação ao Espírito Santo; o poder ao Pai, a sabedoria ao Filho e o amor ou a bondade ao Espírito Santo. Portanto, a apropriação é uma forma de extrair para uma das Pessoas da Trindade o que as três Pessoas são ou fazem juntas. Assim, o Pai é Criador, verdadeiro, mas Ele cria através da Palavra, que é seu Filho, e no Amor, que é o Espírito.

A doutrina das apropriações é uma forma de revelar o que cada uma das Pessoas realmente tem de si: ser Pai, ser Filho, agir como Espírito. Ajuda-nos a mergulhar nesse grande mistério: um único Deus em três Pessoas.

Padre Nicolas Buttet

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