Pai, quero que eles estejam comigo aonde quer que eu esteja

Pai, quando eu estava com eles, cuidei deles em teu nome. Esta oração foi pronunciada pelo Senhor na véspera de sua paixão. Mas, não é fora de propósito aplicá-la ao dia da Ascensão, quando iria se separar pela última vez dos discípulos que Ele confiou ao seu Pai. Ele amava esses pequeninos com um amor digno de sua grandeza. Viu como todos aqueles que ele havia arrancado dos costumes do mundo renunciaram a toda esperança mundana e dependiam somente dele. Contudo, durante o tempo em que quis morar com eles em seu corpo, não poupou sua afeição por eles. Se mostrou mais firme do que terno para com eles, como convém a um bom professor e um pai.
No entanto, quando chegou a hora de separar-se deles, ele parecia dominado pelo carinho afetuoso que tinha por eles, e não conseguia esconder a abundância de sua doçura que até então os ocultara. Daí as seguintes palavras das Escrituras: Tendo amado os seus que estavam no mundo, ele os amou até o fim. Porque, de certa forma, ele deu curso livre à força do amor por seus amigos antes de se derramar como água em seus inimigos. Ele lhes deu o sacramento de seu corpo e sangue e instituiu a celebração deles. Não sei se é mais admirar-se de sua força ou da sua caridade quando inventou esta nova maneira de permanecer com eles para confortá-los por sua partida.

Bem-aventurado Guerrico d’Ingny
Sermões sobre a Ascensão, 1-2: PL 185y, 153-155.
Abade cisterciense (†1157)