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Oração do dia
Meditação do dia29 Março 2023


Eu sou a ressurreição e a vida

Eis que Lázaro, voltando da mansão dos mortos, se apresenta a nós, carregando uma figura da morte que será derrotada e apresentando uma amostra da ressurreição. Antes de entrar na profundidade de tal acontecimento, contemplemos o aspecto externo desta ressurreição, pois nela reconhecemos o milagre dos milagres, o poder dos poderes, a maravilha das maravilhas.
O Senhor já havia ressuscitado a filha de Jairo, o chefe da sinagoga, mas quando o poder da morte havia apenas sido exercido sobre ela. Ele também ressuscitou o filho único de uma viúva, mas o fez antes dele ser enterrado, o que deveria servir para parar a corrupção, evitar os odores desagradáveis e restaurar a vida do falecido antes que ele caísse totalmente sob o poder da morte.
Contudo, em Lázaro, tudo o que aconteceu foi excepcional. Sua morte e ressurreição não têm nada em comum com os casos precedentes, pois aqui se desenvolveu todo o poder da morte e se manifestou todo o esplendor da ressurreição. Ouso dizer que Lázaro teria capturado todo o mistério da ressurreição do Senhor se tivesse voltado do inferno no terceiro dia. Cristo voltou no terceiro dia, como Senhor, e Lázaro foi chamado de volta à vida no quarto dia, como servidor.
Suas irmãs enviaram uma mensagem para avisar ao Senhor: Senhor, aquele a quem tu amas está doente. Ao falar assim, bateram à porta de seu coração, atingiram sua caridade, se esforçaram para superar o sofrimento através da força da amizade. Mas, para Cristo era mais importante vencer a morte do que afastar a doença. Amar, para ele, não era levantar o enfermo da cama, mas trazê-lo de volta do inferno e, para seu amigo, o que ele obteria em breve, não era o remédio de sua doença, mas a glória de sua ressurreição.
Em resumo, quando soube que Lázaro estava doente, ficou no mesmo lugar por dois dias. Vê-se como ele deixa espaço livre para a ação da morte: dá suas chances à tumba, permite a decomposição, não evita a podridão ou o mau cheiro. Ele aceita que o inferno tome Lázaro e o engula como um prisioneiro. Agiu de forma que fosse perdida toda esperança humana e fosse desencadeada toda a violência do desespero terrestre, a fim de que o que seria visto, o que iria acontecer fosse considerado obra de Deus, não do homem.
Ele permaneceu no mesmo lugar para esperar a morte de Lázaro. Quando esta foi anunciada, declarou que iria até ele. De fato, ele diz, Lázaro morreu; e eu, por amor de vós, estou contente por não ter estado lá. É isso é amar? Cristo se regozijou porque a tristeza da morte logo se transformaria na alegria da ressurreição. Por que por amor de vós? Porque foi pintada, na morte e ressurreição de Lázaro, toda a figura da morte e ressurreição do Senhor e o que iria acontecer com o mestre, em breve, havia se realizado no servo. Portanto, foi necessária essa morte de Lázaro, para que a fé dos discípulos, enterrada com Lázaro, ressuscitasse com ele.

São Pedro Crisólogo
Sermão 63, CCL 24 A, 373-376
Bispo de Ravena e Doutor da Igreja (†450)

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