Em Deus esteja a nossa glória e a nossa confiança

Então, o que faremos, irmãos? Deveríamos desistir das boas obras e deixar a caridade? Jamais permita o Senhor que isso aconteça conosco! Ao contrário, devemos nos esforçar para cumprir toda boa obra com diligência e zelo. De fato, o próprio Criador, Senhor de todas as coisas, alegra-se em suas obras. Em Seu supremo e infinito poder Ele estabeleceu os céus e os adornou com a Sua incompreensível sabedoria. Separou, em seguida, a terra das águas que a cercavam, assentando-a sobre o alicerce inabalável da sua vontade. Ele desejou que também houvesse animais na terra; com Seu poder estabeleceu um limite para o mar e os animais que tinha criado.
Além disso tudo, com Suas mãos santas e puras, o Senhor modelou a criatura mais nobre, o homem, elevado, na dignidade, acima de tudo pelo dom do intelecto, traço da imagem divina. Pois assim falou Deus: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. E Deus criou o homem à sua imagem; criou o homem e a mulher.
E, enfim, quando terminou todas essas obras, achou-as boas, abençoou-as e lhes disse: Crescei e multiplicai-vos.
Reparemos que todos os justos se ornamentaram das próprias boas obras, assim como o próprio Senhor teve prazer em ornar-se.
Portanto, aproximemo-nos com ímpeto da Sua vontade e, com todas as nossas forças, pratiquemos as obras da justiça. O bom trabalhador aceita alegremente o pão que ganhou com seu suor; já o preguiçoso e indolente foge do olhar de seu senhor. Então, devemos fazer o bem com prontidão, já que o Senhor não nos faz faltar nada. Ele, de fato, assim falou: Eis o Senhor! Sua recompensa está diante Dele, para retribuir a cada um conforme suas obras. E assim, nos exorta a confiarmos Nele de todo o coração, para que não sejamos preguiçosos nem indolentes para nenhuma boa obra. Nossa glória e segurança estejam Nele! Submetamo-nos à Sua vontade e pensemos, com amor, no grande número de anjos que estão prontos para servir à Sua vontade. Afirma, de fato, a Escritura: Milhares de milhares o serviam, e miríades de miríades o assistiam e clamavam: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está cheia da sua glória. E nós, conscientes de nosso dever e reunidos harmoniosamente, numa só voz lhe entoamos o nosso grito, para que nos tornemos partícipes das suas grandiosas e magníficas promessas. Pois Ele afirma: As coisas que olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.

São Clemente I
Carta aos Coríntios, cap. 33-34
4° Papa da Igreja Católica († c. 100)