Dois apóstolos, duas vidas, uma igreja

A Igreja reconhece duas vidas: a que a pessoa se desenvolve na fé e a outra que se desenvolve na visão. Uma, durante o tempo de nossa peregrinação; a outra, nas moradas eternas. Uma, em meio à fadiga; outra no descanso. Uma, no caminho; outra, na terra natal. Uma, no esforço da atividade; a outra, no prêmio da contemplação. A primeira vida é simbolizada pelo apóstolo Pedro; a segunda, pelo apóstolo João.
Pedro e João são símbolos de cada uma dessas duas vidas. Porém, como ambos caminharam pela fé, na vida presente, ambos gozariam da visão para sempre, na vida futura. Por essa razão, Pedro, o primeiro dos apóstolos, recebeu as chaves do reino dos céus, com o poder de reter e perdoar pecados, para que fosse o guia de todos os santos, unidos inseparavelmente ao corpo de Cristo, no meio das tempestades desta vida. E, por isso João, o evangelista, apoiou-se no peito de Cristo, para significar o porto tranquilo daquela vida misteriosa. De fato, não apenas Pedro, mas toda a Igreja, ata e desata os pecados. Tampouco não foi só João que bebeu da fonte no peito do Senhor para ensinar com sua pregação a doutrina sobre a Palavra que existia no princípio, mas o próprio Senhor difundiu por toda a terra esse mesmo evangelho para que todos bebessem dele, cada um segundo sua capacidade.

Santo Agostinho
Sermões sobre o Evangelho de São João, n. 12: 4: CL 36, 685
Bispo de Hipona e Doutor da Igreja (†430)