O Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça
Jesus Cristo nasceu pobre, e pobre viveu toda a Sua vida; e não pobre, apenas, mas indigente, mendigo, para usarmos a expressão de São Paulo. […] Em Nazaré, Jesus vive de forma pobre: “uma casa pobre, com uns móveis pobres, assim é o alojamento que o Criador do mundo escolheu”. Ali vive de maneira humilde, ganhando o pão com o suor do Seu rosto, trabalhando arduamente, como todos os operários e filhos de operários. Ainda assim, não é verdade que os judeus não acreditavam n'Ele, e que lhe chamavam “o filho do carpinteiro”?
Depois, aparece em público para pregar o Evangelho. Durante esses três últimos anos da Sua vida, longe de melhorar a sua forma de subsistência, pratica uma pobreza ainda mais rigorosa, e sobrevive de esmolas. A um homem que o queria seguir na esperança de passar a viver com maiores comodidades, responde: “As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. Homem, quer ele dizer, se, por me seguires, pensas que vais conseguir ter uma vida mais abastada, enganas-te, porque eu vim à Terra ensinar a pobreza. Nesse propósito, tornei-me mais pobre do que as raposas e os pássaros, que pelo menos têm abrigos; neste mundo, não tenho de meu a mais ínfima parcela de terra onde possa repousar, e quero que os meus discípulos sejam como eu. […]
“Um servo de Jesus Cristo possui a Jesus Cristo e nada mais”, afirma São Jerônimo. Nem sequer deseja possuir o que quer que seja, mas apenas a Jesus. Em suma, Jesus viveu sempre pobre, e pobre morreu: pois não teve José de Arimateia de dar-lhe o túmulo, e outros ainda fazerem-lhe a esmola de uma mortalha para o corpo?
Santo Afonso-Maria de Ligório
8º Discurso para a novena de Natal
Bispo e doutor da Igreja († 1787)