Felizes os pobres de espírito
Todos os homens, sem exceção, desejam a felicidade, o gozo. Mas em relação a ela, eles têm ideias muito diferentes; para um, ela está na voluptuosidade dos sentidos e na suavidade da vida; para outro, na virtude; para outro ainda, no conhecimento da verdade. Por isso, aquele que ensina a todos os homens começa por se dirigir aos que se desviam, direciona os que estão a caminho e acolhe aos que batem à sua porta. Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida endireita, dirige, acolhe e começa com esta palavra: “Felizes os pobres de espírito”. A falsa sabedoria deste mundo, que é verdadeira loucura, pronuncia sem entender o que afirma; declara feliz a raça estrangeira, cuja mão direita jura em falso, cuja boca fala falsidades porque seus celeiros estão cheios, seus rebanhos se multiplicam e seus bois são carregados. Mas todas as suas riquezas são inseguras, sua paz não é paz; sua alegria, estúpida. Pelo contrário, a mão direita do Pai, a boca que diz a verdade, proclama que os pobres são felizes, destinados a serem reis, reis do reino eterno: “Buscais a felicidade, e não está onde a procurais; correis, mas fora do caminho. Aqui tendes o caminho que leva à felicidade: a pobreza voluntária, por causa minha, esse é o caminho. O reino dos céus em mim, isso é felicidade. Correis muito, mas mal, quanto mais rápido ides, mais vos afastais da meta”.

Bem-aventurado Isaac de Estrela
Sermão 1, para a festa de Todos os Santos.
Abade cisterciense do mosteiro da Estrela, França († 1178?).