São Cirilo de Jerusalém

A vida de são Cirilo reflete o período conturbado que a própria Igreja estava vivendo nos primeiros séculos de sua existência. Questões doutrinais, ligadas a controvérsias teológicas, à política e à debilidade dos seres humanos, afloram na trajetória desse grande bispo. Eleito como bispo da igreja mãe de Jerusalém no ano 348, poucos anos depois (em 357) é deposto: é acusado de erros doutrinais pelo bispo Acácio de Cesareia, que também pretende tornar a sede episcopal de Jerusalém dependente da sua jurisdição. De fato, Acácio considerava Cesareia mais importante que Jerusalém, já que ela era a capital administrativa da Palestina e sede dos procuradores estabelecidos por Roma. Apesar dessa manobra, um concílio local de bispos revê essa decisão de Acácio e reabilita Cirilo no ano 359. No entanto, a alegria de Cirilo dura pouco: em 360, outro concílio reunido em Constantinopla – manobrado pelo mesmo Acácio – decide afastar novamente Cirilo. Com a morte do imperador Constâncio, no ano 362 Cirilo consegue retornar à Jerusalém e reassumir sua cátedra, mas a ascensão do imperador Valente faz com que Cirilo seja condenado ao exílio no ano 367. Após amargar quase dez anos de exílio, a morte de Valente fará com que Cirilo retorne uma última e definitiva vez para sua cátedra em Jerusalém no ano 378. Em 381 ele participará no segundo concílio ecumênico, realizado na cidade de Constantinopla. Nesse concílio se reafirma a ortodoxia já estabelecida no concílio de Niceia e explicitada pelo símbolo Niceno-Constantinopolitano. São Cirilo de Jerusalém tornou-se conhecido em toda a Igreja nem tanto pelos seus exílios – ao todo foram dezesseis anos afastado de sua diocese – mas muito mais pela sua obra em favor da iniciação cristã. Compôs um conjunto de catequeses que ilustram a doutrina cristã explicando as realidades sacramentais e o significado da práxis litúrgica. Sua obra e seu testemunho de vida fizeram com que o papa Leão XIII o declarasse doutor da Igreja em 1882.