Tenho compaixão da multidão...
É conveniente acrescentar que a aspiração à libertação de toda e qualquer forma de escravatura, relativa ao homem e à sociedade, é algo nobre e válido. E é isso justamente o que tem em vista o desenvolvimento, ou melhor, a libertação e o desenvolvimento, tendo em conta a íntima conexão existente entre estas duas realidades. Um desenvolvimento somente econômico não está em condições de libertar o homem; pelo contrário, acaba até por o escravizar mais. [...] O ser humano será totalmente livre só quando for ele mesmo, na plenitude dos seus direitos e deveres; o mesmo se deve dizer da sociedade inteira. O obstáculo principal a superar para uma verdadeira libertação é o pecado, corroborado pelas estruturas que ele suscita, à medida que se multiplica e se expande. A liberdade para a qual “Cristo nos libertou”, estimula-nos a converter-nos em servos de todos. Assim o processo do desenvolvimento e da libertação concretiza-se na prática da solidariedade, ou seja, do amor e do serviço ao próximo, particularmente aos mais pobres: “Onde faltam a verdade e o amor, o processo de libertação leva à morte de uma liberdade que terá perdido toda a base de apoio”. No quadro das tristes experiências dos últimos anos e do panorama predominantemente negativo do momento atual, a Igreja sente-se no dever de afirmar com vigor: a possibilidade de superar os entraves que se interpõem, por excesso ou por defeito, ao desenvolvimento; e a confiança numa verdadeira libertação. Esta confiança e esta possibilidade fundam-se, em última instância, na consciência que tem a mesma Igreja da promessa divina, a assegurar-lhe que a história presente não permanece fechada em si mesma, mas está aberta para o Reino de Deus.
São João Paulo II
Encíclica Sollicitudo Rei Socialis, 46-47, 1987
Primeiro Papa polonês da história da Igreja (1920-2005).