Entristecido pela dureza dos corações...
Ele é o cordeiro sem voz, o cordeiro abatido, nascido de Maria, a cordeira graciosa. Ele é aquele que foi tirado do rebanho e levado à morte; morreu à tarde, sepultado à noite para ressuscitar dos mortos e ressuscitar o homem do fundo de sua sepultura. Então ele foi conduzido à morte. Onde? No coração de Jerusalém. Por quê? Porque ele havia curado seus coxos, purificado seus leprosos, restaurado a luz aos cegos e ressuscitou seus mortos (Lc 7,22). É por tudo isso que ele sofreu. Está escrito na Lei e nos profetas: “Pagam-me com o mal pelos bens; não me abandones, Senhor. Não sabia dos planos homicidas que planejavam contra mim: ‘arranquemo-lo da terra vital, porque seu nome nos é odioso’” (Sl 37,21; cf Jr 11,9). Por que cometeste este crime sem nome? Desonraste a quem te havia honrado, humilhaste a quem te tinha exaltado, renegaste quem te tinha reconhecido, rejeitaste a quem te havia chamado, mataste a quem te tinha vivificado... Era preciso que ele sofresse, mas não por ti. Era preciso que ele fosse humilhado, mas não por ti. Era neccessário que ele fosse julgado, mas não por ti. Era preciso que ele fosse crucificado, mas não por tuas mãos. Estas são as palavras que tu tinhas que ter gritado para Deus: “Ó Senhor, se é necessário que o teu Filho sofra, se esta for a tua vontade, então que sofra, mas que não seja eu a fazê-lo”.

Melitão de Sardes
Homilia na Páscoa, 71-73
Bispo de Sardes e autor de um dos mais antigos textos sobre a Páscoa (†180).