Inácio, cujo nome batismal era Nicetas, era descendente de uma família nobre: era filho do imperador bizantino Miguel I e de Procópia. Seu avô materno era o imperador Nicéforo I, o Logóteta. Em 813, quando seu pai foi deposto do trono, ele e seu irmão foram castrados à força (tornaram-se, assim, incapazes de se tornar imperadores, pois o cargo não poderia ser ocupado por eunucos), tonsurados e trancados em um convento.
Nicetas tornou-se monge e tomou o nome de Inácio. Foi eleito abade de seu mosteiro, em 846, e fundou três mosteiros na Ilhas dos Príncipes, um lugar frequentemente escolhido para exilar membros tonsurados da casa real.
Em 4 de julho de 847 a imperatriz-mãe, Teodora, designou Inácio, para suceder ao patriarca Metódio I. Inácio era um homem piedoso, mas muito rigoroso. Zelou pela reforma da Igreja e as discussões pelo culto às imagens lhe criaram muitos inimigos e o forçaram a uma vida sempre cheia de conflitos. Neste mesmo ano o Patriarca se envolveu no conflito entre os estuditas (monges do Mosteiro de Estúdio) e os moderados sobre a questão de depor ou não os clérigos que tinham cooperado com as políticas iconoclastas no passado. Inácio tomou a posição dos conservadores estuditas. Em 848, depôs o arcebispo de Siracusa, Gregório Asbestas, o líder do partido moderado. Asbestas apelou ao Papa Leão IV. Inácio não conseguiu obter o apoio necessário de Roma e até descobriu que um partido anti-inaciano estava se formando na corte. Assim, iniciou o período tensão entre a Igreja de Roma e a Igreja de Constantinopla.
As relações com os chefes de estado foram gradualmente ficando mais difíceis, pois Inácio era um crítico feroz do regente César Bardas. Inácio perdeu apoio após o imperador Miguel III, o Ébrio e César Bardas terem removido Teodora da corte, em 857. Neste mesmo ano Inácio, recusou publicamente a comunhão a Bardas, que era tio do imperador Miguel III. ( que na época contava com dezesseis anos). Bardas convenceu o imperador a remover Inácio: acusações foram feitas contra o patriarca e ele foi deposto e mandado para o exílio. Talvez tenha sido o próprio bispo que renunciou e, embora os detalhes da história não sejam totalmente claros, também poderia ter sido uma medida temporária, mas, de qualquer jeito, foi o suficiente para Bardas substituir Inácio por seu secretário, o leigo Fócio.
O novo patriarca, sendo consagrado por Gregório de Siracusa, imediatamente se colocou em conflito explícito com Inácio e as disputas que se travavam era calorosas. Fócio era, sob muitos aspectos, um candidato ideal, altamente educado, religioso e muito capaz como administrador, mas se deixava manobrar pela facção da corte, não apenas para se vingar de Inácio, mas também para confirmar sua autoridade sobre a Igreja, enfraquecendo, em particular, a posição dos rigoristas que queriam uma Igreja totalmente independente do Estado.
Do contraste entre Fócio e Inácio, nasceu o chamado cisma de Foz entre Constantinopla e Roma (tradicionalmente considerado no Ocidente como uma tentativa do patriarca de obter total independência do Papa, é historicamente mais explicável como uma luta de poder dentro da própria Igreja do Oriente). Ambos os lados apelaram ao papa Nicolau I, que mandou enviados para investigar toda a questão. De Roma, o papa declarou nula a sentença de Inácio e convocou um Concílio em Roma no anos de 863, reintegrando o patriarcado de Inácio e depondo Fócio e todos aqueles por ele nomeados. Tal decreto não foi obedecido e, na verdade, foi pretexto para novos desentendimentos: quando os pregadores latinos eram enviados à Bulgária os recém-batizados ficariam sob a obediência do Papa ou do Patriarca? De quem dependeriam os missionários, do Papa ou do Patriarca, que historicamente era responsável por aquelas terras? A atmosfera era incandescente e, em 867, aconteceu um Concílio em Constantinopla. Lá apresentaram-se novas revoltas repentinas: Basílio, o macedônio, depois de subir ao trono pelo assassinato de Miguel III, restabeleceu Inácio no lugar de Fócio e, finalmente, pelo menos da nossa parte, o IV Concílio de Constantinopla (869-870, oitavo concílio ecumênico de Igreja) excomungou Fócio, restaurando oficialmente Inácio como Patriarca.
Retomando seus deveres com zelo e energia inalterados, embora nem sempre com prudência, Inácio incentivou o príncipe Boris da Bulgária a expulsar padres e bispos latinos de seus territórios e substituí-los por gregos enviados por ele. Em 870, consagrou um arcebispo e bispos para os assentos búlgaros e o papa João VIII o ameaçou de excomunhão.
Em 877, os delegados papais chegaram à cidade imperial com um ultimato, mas descobriram que Inácio já havia morrido, em 23 de outubro, no mosteiro dos Santos Arcanjos, construído pelo próprio patriarca. Fócio o sucedeu, e ele próprio, que havia sido tão inimigo, o canonizou, enquanto outro Concílio de Constantinopla, realizado em 879-880 e no qual os delegados papais também participaram, revogou o que havia sido estabelecido no Concílio anterior.
A indubitável santidade pessoal de Inácio, sua coragem em reprovar a imoralidade de pessoas que ocupavam altos cargos e sua paciência durante a perseguição são as qualidades que o tornaram santo. Na Igreja Oriental, ele é venerado junto com Fócio, embora os dois tenham sido grandes adversários em questões importantes da vida.
Santo Inácio de Constantinopla
Patriarca de Constantinopla († 877)

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