Provavelmente era espanhol de origem – embora haja indícios de ter nascido em Roma por volta do ano 305-306 -, Dâmaso se tornou Papa no ano 366, após a ascensão de Constantino e a consequente celebração da paz entre império romano e Igreja. Ao que parece, sua eleição foi marcada por tensões e brigas: outro grupo rival havia elegido seu próprio bispo de Roma, opondo-se com veemência à eleição de Dâmaso. Apesar das dificuldades iniciais, ele conseguiu debelar a crise e se afirmou como único Papa da cidade eterna. Sua fama se deu, no entanto, pela obra que fez em relação à conservação da memória dos santos mártires, fazendo de tudo para que as catacumbas não se arruinassem e caíssem no esquecimento. Para tanto, buscou embelezar esses espaços com intervenções arquitetônicas e nelas colocou uma série de inscrições trazendo informações importantes sobre a memória dos mártires. Alguns exemplares – são conhecidos cerca de sessenta – dessas inscrições chegaram até nós intactos. Além dessa atividade em prol da memória dos mártires, o pontificado de São Dâmaso se destacou na medição de conflitos doutrinais que ocorriam tanto no Ocidente quanto no Oriente. Outro fato interessante que se deu durante seu pontificado, foi o edito do imperador Teodósio; nele, o imperador ordenava a todos os povos a ele submetidos de abraçar a fé católica, isto é, a fé que “o divino apóstolo Pedro transmitiu aos romanos e que seguem o pontífice Dâmaso”. O texto do edito continua afirmando que os que professam essa fé devem se definir como “cristãos católicos”. Além disso, em seu pontificado se deu também a mudança na língua litúrgica usada em Roma até então: do grego, a partir de Dâmaso, a liturgia romana passou a utilizar definitivamente o latim. Finalmente, outro fato digno de memória, é aquele que tem por protagonista São Jerônimo: a pedido do papa Dâmaso, Jerônimo iniciou seu trabalho de tradução da bíblia para o latim. São Dâmaso morreu no ano 384; muito antes de morrer, compôs este belo epitáfio, destinado a ornar seu próprio túmulo:
“Aquele que, ao caminhar, calcou as amargas ondas do mar, aquele que torna a dar vida às sementes da terra destinadas a morrer, aquele que pôde desatar depois da morte os letais laços da morte e, transcorridos três dias, tornar vivo o irmão à irmã Marta, das cinzas – creio – fará ressurgir Dâmaso”.