O servo não é maior que seu senhor
“Despiram-no e puseram-lhe um manto de cor púrpura e, trançando uma coroa de espinhos, cingiram-lhe a cabeça”. Cristo está vestido como rei e príncipe dos mártires, com um manto vermelho porque seu sangue sagrado resplandece como um precioso escarlate. É como o vencedor que recebe a coroa, porque normalmente é ao vencedor que se dá uma coroa. Mas podemos observar que o manto de púrpura é também o símbolo da Igreja que, permanecendo em Cristo Rei, resplandece com glória real. Daí o título de “raça real” dado por João no Apocalipse [...]. De fato, o tecido de púrpura é uma peça preciosa e régia. Embora seja um produto natural, muda de qualidade quando imerso em um banho de tintura e muda de aparência [...]. Sem valor por si só, torna-se um item precioso. A mesma coisa acontece conosco: sem valor por nós mesmos, a graça nos transforma e nos dá valor quando [no nosso batismo] somos submergidos por três vezes, como o pano de púrpura, no escarlate espiritual, no mistério da Trindade. Podemos observar também que o manto vermelho é o símbolo da glória dos mártires, pois, tingidos com o próprio sangue derramado, adornados pelo sangue do martírio, brilham em Cristo como uma preciosa túnica escarlate.
São Cromácio de Aquileia
Sermão 19, 1-3: SCh 164.
Bispo de Aquileia e grande pregador (345-407).