No ano de 921, no vale de Junqueira, na Espanha, o rei Abderramão declarou guerra aos cristãos e ao vencer muitos cristãos foram feitos cativos e outros mortos. Dentre os cativos estava o bispo de Tui, Dom Hermógio, que foi levado para Córdoba e preso. O bispo prometeu ao Rei dar, em resgate, alguns mouros que estavam em seu poder. O rei concordou e o bispo saiu do cárcere e em seu lugar deixou Pelágio [não confundir com o monge herético de mesmo nome] como refém.
Deus que já o tinha escolhido para ser mártir e favoreceu‐o de tal modo no cárcere que essa tribulação o purificou como o ouro no crisol. Era muito honesto, assisado, sossegado e prudente. Esteve na prisão, durante três anos e meio, preparando‐se para que Deus lhe concedesse a graça que lhe havia de fazer, dando‐lhe a coroa e a palma de mártir.
Estando o rei a comer, um criado, certo dia, exaltou a rara e admirável beleza do menino Pelágio. Então, o rei ordenou que o tirassem, imediatamente, da prisão e o trouxessem à sua presença. Tiraram‐no da prisão e vestiram‐no ricamente, falando‐lhe da boa sorte que lhe coubera, e puseram‐no diante do rei que começou a oferecer‐lhe honras, riquezas e outros dons e dignidades para ele e para os seus, se deixasse de ser cristão e seguisse a lei do grande profeta Maomé. O menino respondeu: “Tudo o que, ó rei muito poderoso, me prometes, não é nada. Eu sou cristão e o serei, como tenho sido, sem nunca negar a Jesus Cristo”. O rei então ordenou que fosse torturado e morto, que lhe cortassem todos os seus membros, um a um antes de morrer e os lançassem ao rio Guadalquivir. Os carrascos se animaram e avançaram sobre o menino. Um feriu um braço, outro encurtou as pernas, outros golpearam a cabeça e outros divertiram‐se com os variados tormentos que lhe aplicavam. O seu sangue escorreu como um rio por todas as partes do corpo. Mas, o espírito de Pelágio estava muito sereno e sossegado, como se não fora seu, mas de outro, aquele corpo que padecia. Invocava Jesus Cristo, suplicando: “Livrai‐me Senhor das mãos dos meus inimigos”. Tentando levantar as mãos ao céu, cortaram‐nas os verdugos e, depois, a cabeça. E, com esta morte, entregou o espírito ao Senhor. Por fim, lançaram o santo corpo ao Guadalquivir. Os cristãos devotos procuraram‐no, encontrando-o, o sepultaram na igreja de S. Genésio (São Gens) e a cabeça, na igreja de S. Cipriano. O seu martírio deu‐se num domingo, em 26 de Junho de 925. O seu tormento durou cerca de seis horas, a partir da uma da tarde. Com ajuda de Deus, S. Pelágio combateu com os duríssimos tormentos e venceu‐os com grande fortaleza de espírito.
O rei D. Sancho, o gordo, filho do rei D. Ramiro II, enviou uma solene embaixada ao rei de Córdoba, para tratar da paz e pedir‐lhe o corpo do santo menino Pelágio e obteve‐o. Por morte do pai, quem recebeu o corpo foi o rei D. Ramiro III, e colocou‐o num mosteiro que seu pai tinha edificado para o santo. Depois o corpo foi trasladado para Oviedo, a oito de Novembro de 1023, onde se conserva até hoje .