Os Apóstolos testemunhas e enviados de Cristo
Segundo a narração de Marcos e de Mateus, o cenário da vocação dos primeiros Apóstolos é o lago da Galileia. Jesus acabara de iniciar a pregação do Reino de Deus, quando o seu olhar pousou sobre dois pares de irmãos: Simão e André, Tiago e João. São pescadores, empenhados no seu trabalho quotidiano. Lançam as redes, consertam-nas. Mas, outra pesca os aguarda. Jesus chama-os com decisão e eles seguem-no imediatamente: agora serão “pescadores de homens”. [...] Em particular, a pesca milagrosa constitui o contexto imediato e oferece o símbolo da missão de pescadores de homens, que lhes foi confiada. O destino destes “chamados”, dali em diante, estará intimamente ligado ao de Jesus. O apóstolo é um enviado mas, ainda antes, um “perito” em Jesus [...]. Para eles, foi suficiente a orientação de João Batista que indicou Jesus como o Cordeiro de Deus, para que surgisse neles o desejo de um encontro pessoal com o Mestre. As frases do diálogo de Jesus com os primeiros dois futuros Apóstolos são muito expressivas. À pergunta: “Que procurais?”, eles respondem com outra pergunta: “Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?”. A resposta de Jesus é um convite: “Vinde e vereis”. Vinde para poder ver. A aventura dos Apóstolos começa assim, como um encontro de pessoas que se abrem reciprocamente. Começa para os discípulos um conhecimento direto do Mestre. Eles veem onde mora e começam a conhecê-lo. De fato, eles não deverão ser anunciadores de uma ideia, mas testemunhas de uma pessoa. Antes de serem enviados a evangelizar, deverão “estar” com Jesus, estabelecendo com ele um relacionamento pessoal. Sobre esta base, a evangelização não será mais do que um anúncio daquilo que foi experimentado e um convite a entrar no mistério da comunhão com Cristo [...]. Longe de contradizer a abertura universalista da ação messiânica do Nazareno, a inicial limitação a Israel da sua missão e da dos Doze torna-se assim o seu sinal profético mais eficaz. Depois da paixão e da ressurreição de Cristo este sinal será esclarecido: o carácter universal da missão dos Apóstolos tornar-se-á mais explícito. Cristo enviará os Apóstolos “a todo o mundo”, a “todas as nações”; “até aos extremos confins da terra”. E esta missão continua. Continua sempre o mandato do Senhor de reunir os povos na unidade do seu amor. Esta é a nossa esperança e este é também o nosso mandato: contribuir para esta universalidade, para esta verdadeira unidade na riqueza das culturas, em comunhão com o nosso verdadeiro Senhor Jesus Cristo.
Bento XVI
Audiência Geral, 22 de Março de 2006
265.° Papa da Igreja Católica (1927 - )