fot. Cathopic
Irineu, cujo nome significa em grego ‘portador da paz’, nasceu durante a primeira metade do século II (a data exata é discutida: entre os anos 115 e 125 segundo alguns, ou 130 e 142 segundo outros), em Esmirna, na Ásia Menor, atual Izmir, na Turquia. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos, ele foi criado em uma família cristã ao invés de converter-se já um adulto.
Foi discípulo de São Policarpo, que, por sua vez, foi discípulo de São João Evangelista. Conta ele em carta que, quando jovem, assistia com a maior atenção possível às práticas do santo mestre, não perdendo uma só palavra de tudo quanto se referia a São João ou a episódios da vida de Cristo.
Tendo recebido o sacramento da Ordem sacerdotal do Bispo Policarpo, viajou em seguida para a França, para a região de Lião, onde havia populosa colônia de imigrantes provenientes da Ásia menor. Ali já existia numerosa e fervorosa comunidade cristã, no início do século II, e Irineu se colocou a serviço daquela igreja, distinguindo-se logo pelo zelo e saber. No ano 175, foi encarregado pelo próprio Bispo Potino de uma delicada missão: a de ir diretamente a Roma, a fim de alcançar do Papa Eleutério que não fossem excomungados aqueles cristãos do Oriente que, fiéis a uma tradição antiga, continuavam a celebrar Páscoa na mesma data dos judeus. Tal diferença não feria a unidade da fé e, por isso, não podia ser objeto de excomunhão. Esta intervenção pacificadora teve pleno êxito.
Santo Irineu é o mais famoso dos escritores cristãos no fim do século II. Pertenceu ao grupo dos apologistas e anti-heréticos, que defenderam a fé contra filósofos e gnósticos. Vários escritos de Irineu chegaram até nós, importantes para o conhecimento da história da Igreja do século II e das muitas doutrinas contra a fé cristã, que pululavam então sob o nome de gnosticismo. Em seu conhecidíssimo livro Contra as heresias, de cinco volumes, Irineu escreveu contra a multiplicidade de doutrinas anticristãs, que se reportavam sempre a algum grande mestre ou filósofo, procurando pôr em evidência o ensinamento vindo dos Apóstolos através dos seus sucessores. Para isso elaborou a lista dos sucessores dos Apóstolos de três comunidades cristãs mais representativas. Graças a esse trabalho possuímos a lista de todos os sucessores do apóstolo Pedro em Roma até o seu tempo. Ele enfatizava os elementos da Igreja, especialmente o episcopado, as Escrituras e a tradição. Irineu escreveu que a única forma de os cristãos se manterem unidos era aceitarem humildemente uma autoridade doutrinária dos concílios episcopais. Seus escritos, assim como os de Clemente e Inácio, são tidos como evidências iniciais da primazia papal. Irineu foi também a testemunha mais antiga do reconhecimento do caráter canônico dos quatro evangelhos.
Foi incansável na sua atividade de mestre e testemunha da tradição apostólica. Difundiu a mensagem evangélica em amplo campo de ação. Defendeu a integridade da doutrina cristã ameaçada pelo gnosticismo; aprofundou em sua obra de grande valor para a compreensão das Escrituras e dos mistérios da fé: a Trindade; o Cristo, centro da história; a Eucaristia, que assume e transforma a humilde matéria da criação.
Ignora-se a data de sua morte, que deve ter ocorrido no fim do século II ou início do século III. Apesar de alguns testemunhos isolados e tardios nesse sentido, é incerto se terminou sua vida num martírio. Ele morreu por volta do ano de 202 quando da perseguição promovida pelo imperador romano Septímio Severo ou nas mãos de hereges.
Foi sepultado sob a igreja de São João em Lyon, que foi posteriormente renomeada de “Santo Irineu”, em sua homenagem.
O túmulo e seus restos mortais foram completamente destruídos em 1562 pelos huguenotes.