Aleteia teve a felicidade de entrevistar o recém-ordenado pe. Joseph Enkhee-BaatarAleteia: O senhor foi ordenado na Mongólia neste 28 de agosto de 2016, o que o torna o primeiro sacerdote autóctone do país em cerca de 1.000 anos! Como o senhor vive esse fato histórico?
Pe. Joseph Enkhee-Baatar: Estou feliz e honrado por ter sido escolhido para ser ordenado aqui na Mongólia, e por ser uma pequena parte da missão. Os primeiros missionários que vieram para o Império Mongol eram nestorianos [nota: o nestorianismo foi uma heresia que negava a união entre a humanidade e a divindade de Cristo, bem como o título de Maria como Mãe de Deus]. Eles chegaram nos séculos VII e VIII. Foi assim que várias tribos mongóis se converteram ao cristianismo. Os primeiros missionários católicos chegaram no século XIII, sob a dinastia Yuan. De acordo com alguns documentos históricos, o Império tinha naquela época cerca de 30.000 católicos mongóis. A Igreja permaneceu quase 100 anos no reinado da dinastia Yuan. Provavelmente houve padres mongóis, mas eu não encontrei quaisquer vestígios históricos evidentes. Depois da queda da dinastia Yuan, e com o surgimento da dinastia chinesa Ming, o catolicismo desapareceu do país.
Aleteia: Por que decorreu tanto tempo entre o primeiro anúncio do Evangelho no seu país e esta primeira ordenação?
Pe. Joseph Enkhee-Baatar: Várias razões explicam essa lacuna entre o primeiro anúncio do Evangelho e o reinício atual da Igreja. Primeiro, o surgimento dos muçulmanos no Oriente Médio, que impedia os missionários de virem até a Mongólia. É um país sem litoral. Além disso, nos séculos XVI e XVII, a Mongólia adotou o budismo tibetano, que acabou se tornando a religião do Estado. A Mongólia era um país teocrático até a revolução comunista. Quando o país se tornou comunista, em 1924, os planos do Vaticano para a sua evangelização foram bloqueados. Só depois da queda do comunismo, em 1990, os primeiros missionários, que eram três, chegaram à Mongólia, em 1992. No ano que vem nós vamos celebrar os 25 anos da presença da Igreja católica.
Também levou tempo para evangelizar a Mongólia porque o nosso país tem profundas raízes xamânicas (o tengriismo) e budistas, embora estas sejam mais recentes. É por isso que as pessoas continuam a ver o cristianismo como uma religião estrangeira e, às vezes, como uma ameaça à tradição e cultura mongol.
Aleteia: A Mongólia ainda tem poucos católicos. Ser mongol pode facilitar a evangelização dos seus compatriotas?
Pe. Joseph Enkhee-Baatar: Jesus disse que “a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Lucas 10, 2). Nós precisamos de mais padres, irmãs e leigos missionários para trabalhar no serviço do Reino de Deus. Se você servir a Deus e ao seu povo de todo coração com as palavras, ações e com a vida, a sua nacionalidade ou congregação não importa. Você vai ser uma grande ajuda e o instrumento de evangelização para o seu país e para o mundo inteiro.
Mas precisamos de mais sacerdotes do nosso país, mesmo assim, porque eles vão saber melhor como ensinar sobre Jesus e a Igreja. Os mongóis vão compreender e aceitar melhor, não como uma religião estrangeira, mas como uma religião que é próxima da sua tradição, cultura e estilo de vida.
Aleteia: Quanto a números: pode nos falar sobre o tamanho da sua paróquia, o número de fiéis, a porcentagem de católicos na Mongólia?
Pe. Joseph Enkhee-Baatar: Em todo o país, temos cerca de 1.200 católicos, que representam apenas 0,04% da população. Mas a porcentagem total de cristãos no país é de cerca de 2%. Nós temos seis paróquias e várias “sub-paróquias” [nota: das 21 províncias da Mongólia, 17 não têm nenhuma presença católica].
Aleteia: Quais são os desafios pastorais que esperam por você nestes primeiros meses?
Pe. Joseph Enkhee-Baatar: Eu fui ordenado faz pouco mais de uma semana e fiquei na casa da Missão da Igreja Católica. Por enquanto, tenho que esperar a carta oficial que vai me dizer onde eu vou realizar o meu primeiro trabalho pastoral.
Entrevista feita por Louis Plantier-Vassal