Não se pode romper um matrimônio como se quebra um objeto de modo irreparávelUm caso do consultório sobre casamento e família:
“O prestígio de meu esposo englobava todos os aspectos de uma rica personalidade: era bom pai, esposo fiel e profissional brilhante. Eu o amava e o admirava.
Nós vivíamos sem grandes problemas, pois tudo corria bem. Até que uma nuvem escureceu nossa união.
Tudo começou no dia em seu caráter mudou como quem sofre um eclipse de personalidade em meio a um drama. Um drama que me arrebatou quando eu recebi o telefonema de um adolescente que se identificou como filho dele, pedindo para falar com meu marido sobre a grave doença que atingia a mãe do rapaz.
Depois de anos escondendo tudo de mim, meu esposo admitiu que tivera uma relação extraconjugal no começo do nosso casamento e que, dessa relação, havia nascido um filho. Ele ficou responsável pelo sustento e pela educação acadêmica do garoto. A mãe, de quem ele se afastou, agora estava com câncer e precisava da ajuda dele.
Ele me falou sobre seu mais sincero arrependimento e, pedindo perdão, disse que estava disposto a ajudar a mulher, pois sua consciência exigia isso dele.
Eu não quis ouvir mais nada. Senti-me ultrajada e traída, de tal modo que pedi para que nós nos separássemos imediatamente. Deixei de me sentir intimamente unida a ele.
Agora eu entendo que a perda do sentido unidade familiar é o que desintegra profunda e rapidamente uma relação. Desconcertada, consultei dois profissionais. O primeiro foi um advogado, já que o que me importava era ganhar um divórcio, como se tratasse de um negócio. Descartei a ideia.
Por outro lado, consultei um terapeuta matrimonial e familiar, que se propôs a me atender desde que seguíssemos uma premissa: matrimônio e vida matrimonial são duas coisas diferentes.
O matrimônio, como pacto de união, pode ter ou não falhas em sua estrutura. Por outro lado, seu desenvolvimento na vida matrimonial estará sempre sujeito aos mais diversos avatares. Quando o início do matrimônio não apresenta vícios, é possível que, mais cedo ou mais tarde, eles se desenvolvam e apareçam. Esse era o nosso caso
Certamente, com 20 anos de casados, além de criarmos e educarmos felizmente os nossos filhos, meu esposo e eu nos ajudamos de muitas maneiras, principalmente a nos conhecermos melhor e a nos apoiarmos no desenvolvimento de nossos talentos.
Era preciso, então, recuperar tudo o que tinha nos unido, vendo o copo meio cheio e não meio vazio.
No entanto, o caminho do perdão estava cheio de dificuldades, já que sua infidelidade tinha atentado direta e gravemente contra o pacto de união que contraímos no matrimônio. Além disso, a ferida no meu interior era profunda e muito grave. Para mim, o dano era atual, apesar de ser proveniente do passado.
Porém, eu decidi perdoá-lo. Mas não seria fácil, já que meu processo de dor poderia levar muito tempo. Embora perdoar seja algo voluntário, esquecer ou deixar de sentir não são.
Ele, por outro lado, começou a enfrentar a sua própria dor ao me ouvir. O tempo passou e meu marido soube esperar e conquistar a cada dia o perdão. Um tempo em que, assustadoramente, a ferida começou a cicatrizar e nós começamos a nos unir novamente.
Não se rompe um matrimônio como se quebra um objeto de modo irreparável. Também não se pode destruir um casamento como se faz com um utensílio inútil.
O casamento pode perder a intensidade ao longo do tempo. Mas a capacidade criadora do homem sobrevive aos fracassos e tem uma enorme habilidade de restaurar a convivência perdida. Isso acontece graças ao misterioso poder da unidade conjugal um dia instaurada.”
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