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Papa João Paulo II: “você corta o meu cabelo para eu ficar bem no conclave?”

MARIAN MARKIEWICZ
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Anna Gębalska-Berekets - publicado em 05/06/20
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Frade Marian Markiewicz, testemunha de muitos eventos importantes na vida de João Paulo II, lembra suas experiências.“O Santo Padre sorriu e apontou o dedo para mim: ‘Este eu conheço. Ele é o culpado que me levou ao conclave e me deixou lá'”, conta o frade Marian Markiewicz, testemunha de muitos eventos importantes na vida de João Paulo II.

Em janeiro de 1977, o frade Marian Markiewicz começou a trabalhar no Colégio Polonês na Piazza Remuria, em Roma. Em outubro de 1978, ele foi buscar o cardeal Wojtyła no aeroporto.

Eles já haviam se visto em agosto, quando o cardeal voou para o conclave após a morte do Papa Paulo VI. Foi também então que o frade Marian pensou consigo que havia chegado a hora do “nosso cardeal” ser eleito papa.

O frade se lembra de Wojtyla como um homem bem organizado, que usava todos os momentos livres para ler.

“Ele gostava de sair da cidade e sempre andava parte do caminho”, lembra Marian. “Quando ele chegou ao aeroporto de Roma, seu chapéu cobria um pouco os olhos; ele estava pensativo, como se estivesse distraído.”

A lista de clérigos participantes do conclave incluía o nome do cardeal Wojtyła. Ninguém esperava o que aconteceria em breve.

“Marian, o Espírito Santo será nosso guia”, disse o cardeal na época. O frade levou o cardeal Wojtyła e pe. Stanisław Dziwisz para as reuniões no Vaticano. Ele ainda se lembra do dia especial em que o conclave seria realizado. Ele levou a mala do cardeal Wojtyła para o quarto 96 no Vaticano. Estava localizado logo acima do apartamento papal.

O cabelo do papa

O cardeal Wojtyla pediu ao frade Markiewicz para cortar seu cabelo. “Marian, você cortaria meu cabelo para que eu ficasse bem no conclave?” – disse o futuro papa.

De fato, o frade tinha alguma experiência em cortar cabelo, pois já fizera isso para alguns de seus irmãos de convento. “Eu apontava com orgulho para as primeiras fotografias do novo papa dizendo, ‘vejam que beleza de penteado, fui eu que fiz'”, conta com alegria o frade Marian.

MARIAN MARKIEWICZ

fot. archiwum prywatne

A fumaça branca

Naqueles dias, o cardeal Wojtyła descobriu que seu querido amigo, bispo Andrzej Deskur, adoecera.

Depois do almoço, ele foi do Pontifício Colégio Polonês à Clínica Gemelli. Karol Wojtyła já vestia a roupa formal exigida no Conclave. De lá, o cardeal e o frade foram rapidamente para o Vaticano. Havia muito pouco tempo, pois em alguns minutos a porta de bronze deveria ser trancada.

A despedida do frade Marian e do cardeal Wojtyła foi filmada pela televisão francesa. “Essa seqüência foi usada por Krzysztof Zanussi no filme From a Far Country”, explica Marian.

Em 16 de outubro de 1978, todos estavam esperando a fumaça branca aparecer, e ela finalmente apareceu.

“Eu estava na sala de TV da faculdade quando ouvi o primeiro nome ‘Karol’ e o sobrenome ‘Wojtyła’. De alegria, peguei um dos alunos nos meus ombros e saí correndo pela sala”, conta.

Ele acrescenta que os italianos queriam ter um segundo João Paulo, um papa sorridente. “Lembro-me de seu breve discurso na Praça de São Pedro. Algumas pessoas pensavam que alguém da África ou de outro continente havia sido eleito papa. O nome Wojtyła parecia estranho na boca do cardeal anunciando a eleição. O papa abençoou os fiéis, no dia seguinte ele dissolveu o conclave e celebrou a Santa Missa.”

“Stanisław, as viagens de esqui terminaram”

Frade Marian Markiewicz lembra que João Paulo II era uma pessoa com quem todos queriam estar junto. Ele tinha um ótimo senso de humor e cuidava de todos. Sua grandeza estava em ser profundamente observador.

No dia seguinte, Marian teve a chance de perguntar ao padre Dziwisz sobre suas primeiras impressões, e este respondeu que, quando surgiu de batina branca, João Paulo II brincou: “Stanisław, minhas viagens de esqui terminaram”. Além disso, quando o Santo Padre entrou na Biblioteca Papal, observou: “Meu Deus, quando eu vou ler tudo isso?!”

João Paulo II é lembrado pelo frade Marian como um “papa muito humano”.

“Quando havia uma necessidade de resolver uma questão premente, ele o fazia. Ele indicava clara e diretamente o que deveria ser feito. Ele começava e concluía seu dia em oração. Ele era sempre o primeiro a chegar à capela. Ele tirava suas forças da oração. Era muito bem organizado. Sentia-se que ele estava falando com Deus. A Santa Missa era o centro da sua vida. Todos os dias ele rezava o Rosário e contemplava as estações da cruz”, continua o fr. Marian.

O frade costumava visitar o papa, atuando especialmente como guia para os bispos poloneses, que não escondiam sua alegria por ter um papa de seu país.

Tentativa de assassinato

Frade Marian também se lembra da tentativa de assassinato do Santo Padre em 13 de maio de 1981. Ele estava levando alguns bispos poloneses para uma conferência realizada no Vaticano e deveria entregar uns documentos na Via Pfeifer. Ele entregou os papéis e depois foi em direção à Praça de São Pedro. Um helicóptero sobrevoava o local, e as sirenes denunciavam algo incomum. O frade se aproximou da Praça de São Pedro.

“Uma mulher correu em minha direção e gritou que o papa havia sido assassinado”, explica Marian. “Os peregrinos que vieram da Polônia, de Kościan, colocaram no trono papal uma imagem de Nossa Senhora de Częstochowa. Uma rajada de vento derrubou a pintura e as pessoas temiam que fosse um mau presságio e que o papa estivesse morto”, lembra Markiewicz.

No entanto, naquele momento, o Santo Padre já seguira para o centro cirúrgico. Todos rezavam por ele. “Esqueci de buscar os dois bispos que eu tinha levado antes. Felizmente, apesar da hora tardia, a conferência ainda não havia terminado”, lembra Marian. Então, ele se aproximou do bispo Szymecki e contou o que sabia. O bispo também lhe passou informações tristes. Os bispos rezaram pelo sucesso da operação do Santo Padre.

Voz do papa

O frade também lembra que, em 17 de maio de 1981, os fiéis reunidos na Praça de São Pedro ouviram uma gravação da voz do papa, cheia de sofrimento e dor. O Santo Padre perdoava o homem que havia atirado nele.

“Todo mundo, até os homens, tinha lágrimas nos olhos. Só podíamos ouvir os pombos murmurando e a água jorrando nas fontes. As pessoas na praça não conversaram entre si.”

Em 1982, Marian Markiewicz retornou à Polônia. Ele se encontrava com o Santo Padre apenas quando era guia de grupos de peregrinos ou bispos poloneses em Roma.

Hoje, muitas pessoas pedem que ele reze através da intercessão de São João Paulo II.

Como ele explica: “As pessoas me dizem que, como eu estive tão perto dele, o santo estaria obrigado a ouvir minhas orações.”

Frade Marian lembra que quando o papa estava visitando a cidade polonesa de Skoczów, ele ficou ao lado do então primeiro-ministro polonês Józef Oleksy e do presidente Lech Wałęsa.

“No momento da apresentação, de repente eu me vi em primeiro plano. O Santo Padre sorriu e apontou o dedo para mim: ‘Este eu conheço. Ele é o culpado que me levou para o conclave e me deixou lá”, lembra Marian.

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